O passado une o jovem Lucas Andrieu (Victor Belmondo) e o romancista Stéphane Belcourt (Guillaume de Tonquédec) -  (crédito: Imovision/divulgação)

O passado une o jovem Lucas Andrieu (Victor Belmondo) e o romancista Stéphane Belcourt (Guillaume de Tonquédec)

crédito: Imovision/divulgação

 

“Ninguém captura ruínas românticas melhor do que você”, o escritor Stéphane Belcourt (Guillaume de Tonquédec) ouve de um leitor. É bem verdade – autor prolífico, com praticamente um romance por ano, Belcourt escreve histórias sobre “o amor que não ousa dizer seu nome”. Invariavelmente, seus protagonistas se chamam Thomas.

 

Em cartaz no Centro Cultural Unimed-BH Minas, o filme “Pare com suas mentiras” é adaptação do diretor Olivier Peyon para o romance homônimo, um sucesso na França (e inédito no Brasil), do escritor Philippe Besson. Este, por seu lado, se espelhou nas próprias memórias para o livro.

 

Entre o real e a fabulação, há muitos fantasmas neste pequeno conto romântico. Nos dias atuais, Belcourt retorna à pequena Cognac, no Sudoeste da França. É um escritor consagrado e há 35 anos não pisava na terra natal. Decidiu retornar sem pensar no que a volta poderia representar. Viajou a convite de uma prestigiosa destilaria como orador do evento que vai celebrar o bicentenário da empresa.

 


Homofobia

 

Belcourt é estranho ao lugar, pautado pela tradição – homofobia também, dependendo do interlocutor. Proprietário da destilaria, Monsieur Dejean (Pierre-Alain Chapuis) comenta da maneira mais casual que tinha reservas em convidar um escritor gay, mas como sua mulher é super fã do autor, ele superou qualquer prevenção.

 

É por essas e outras que Belcourt não está muito empolgado com a temporada. A situação muda radicalmente quando conhece Lucas Andrieu (Victor Belmondo, neto de Jean-Paul Belmondo), jovem funcionário da destilaria que vive nos EUA e acompanha um grupo de empresários norte-americanos.

 

Belcourt se anima com a presença do jovem, ainda mais depois de ver a antiga moto que ele pilota. Era a mesma em que, 35 anos antes, passeava livre e na garupa de seu primeiro amor, Thomas Andrieu (Julien De Saint Jean).

 

 

Uma série de flashbacks leva o espectador para a Cognac de 1984. Belcourt (na juventude interpretado por Jérémy Gillet) era um estudante secundarista estranho naquele pequeno lugar. Acompanhava, de longe, o popular Thomas, sempre com amigos e namoradas. Certo dia, este faz o primeiro contato. Os dois iniciam um caso secreto – a grande condição imposta por Thomas para o relacionamento é que Belcourt não fale dos dois para ninguém.

 

Os encontros sexuais, no início beirando a agressividade, se tornam cada vez mais apaixonados. Belcourt é bem resolvido com sua sexualidade, não entende por que os dois se mantêm em segredo. Thomas é resoluto: filho único de um agricultor, sabe que vai passar a vida naquele lugar trabalhando nas terras da família. “Você vai embora e eu vou ficar”, diz.

 

No tempo presente, Belcourt fica devastado ao saber por Lucas da morte recente de Thomas. O jovem quer saber mais da vida do pai, homem fechado que pouco conheceu. Belcourt, no início, diz que pouco o conhecia. À medida que a narrativa avança, mentiras, de ambos os lados, vêm à tona.

 

Thomas passou a vida mentindo sobre quem realmente era, tanto que Lucas, seu único filho, mal o conhece; Belcourt nunca resolveu sua primeira desilusão amorosa, usa o relacionamento como alimento para a criação literária ao longo de toda a vida adulta.

 

Os três personagens, cada qual à sua maneira, precisam exorcizar os próprios fantasmas. E é na morte que Thomas consegue sua redenção. De forma engenhosa, “Pare com suas mentiras” une essas três pontas.

 

“PARE COM SUAS MENTIRAS”


(França, 2022, 98min., de Olivier Peyon, com Guillaume Tonquédec e Victor Belmondo) – Em cartaz às 21h10, na sala 2 do Centro Cultural Unimed-BH Minas.