

Artistas trocam papéis e criticam obras de ex-crítico de arte
Exposição "Avistamentos", com trabalhos do repórter e crítico Walter Sebastião, em cartaz em BH, é avaliada por nomes importantes das artres plásticas em MInas
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Ao longo de muitos anos, as críticas de Walter Sebastião publicadas no Estado de Minas foram leitura obrigatória no mundo das artes plásticas. Waltinho se aposentou, foi morar em Bichinho e, nos últimos 10 anos tem-se dedicado às artes plásticas agora como artista.
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A exposição "Avistamentos" foi aberta sábado no Instituto Pedro Moraleida (Rua dos Inconfidentes, 732 – loja 2 – Savassi), no último sábado (8/2), com a presença de artistas. São 40 trabalhos, entre pinturas, desenhos e gravuras, realizados no período de 2015 a 2025.
A Coluna procurou alguns dos nomes importantes das artes em Minas para opinarem sobre o trabalho de Walter Sebastião. Pelo jeito, o mercado perdeu um crítico de arte, mas ganhou um novo artista.
APRENDIZADO MÚTUO
“A apreensão da exposição ‘Avistamentos’ de Walter Sebastião, Waltinho para os amigos, pode ser feita a meu ver em duas camadas temporais de leitura. A primeira se dá na lembrança dos tempos em que o autor atuou como jornalista das artes visuais em BH, quando seu diálogo com criadores de diferentes linguagens resultava sempre num aprendizado mútuo.
As conversas em torno da obra deles, aliadas à cultura do repórter, durante as três décadas deste exercício, ampliavam, para os envolvidos e leitores, o entendimento do fazer artístico.Estes aprendizados, agora, certamente estão presentes na síntese apresentada nesta mostra, unindo adequadamente pintura, desenho, caligrafia e anotações que compõem as obras. Os cadernos ou livros de artista em muito esclarecem os conceitos do conjunto exposto.”
A segunda leitura, ou camada de entendimento, se dá na mudança de Waltinho para Bichinho, a pequena cidade próxima a Tiradentes e São João del Rey, quando o artista mergulha em paisagens cheias de provocações históricas, naturais e humanas.
Aí acontece o encontro com os temas e os personagens presentes neste novo universo observado ou onírico. As torres, a flora, o horizonte, a casa, o copo, a montanha, a noite, a escrita surgem como novos interlocutores.
Nestas conversas de agora, o autor não mais interage com artistas, mas com objetos que ganham vida e sentido a serem apresentados e traduzidos de maneira própria.Nesta exposição, a atenção de Walter com o outro e com o diverso seguem progressivamente ampliando nossa maneira de interagir com a arte e com a vida.”
João Diniz, arquiteto
OLHAR AGUÇADO
“Walter Sebastião já exercitava seu olhar aguçado para a arte, quando se destacou como um observador e crítico sensível, dando uma enorme contribuição no panorama das artes plásticas.
Agora, ele decide mostrar o que cria cotidianamente em seu ateliê. As pinturas, em pequenos formatos, de temas diversificados e cores sombrias, mostram uma criação intimista, silenciosa e potente. Os “cadernos” reúnem criações gráficas, colagens, enfim, uma infinidade de linhas e gestos de uma “escrita” espontânea e rica.”
José Alberto Nemer, artista plástico
ESCRITA, ESCRITA, ESCRITA
“Achei uma revelação, como se tivesse aberto uma caixa de Pandora para mim. Quando eu era jovem, adorava as críticas ferrenhas, muito legais. Era onde eu mais o admirava, quando ele falava verdades.
Quando eu o vi retornando como artista, um lado dele que eu nem muitos de meus colegas pelo jeito conheciam, porque ele não contava para a gente, vi dois lados. Um lado, de onde ele está morando, as naturezas, as paisagens, que tem uma coisa muito incrível que traduz bastante o cerrado que tem muito em volta de onde ele está morando, em micro detalhes.
Você olha de longe, parece nada, mas, chegando perto, os detalhes vão se refundando em mais detalhes. E nas paisagens que ele mostra, está muito viva essa característica da biodiversidade ecológica do cerrado muito grande.
Ele faz isso em cores, formas.E gostei muito também da questão meio gráfica da disposição dos quadros na parede ou dentro dos cadernos, acho que tem uma relação com o jornal, a maneira de dispor a composição.
E quando ele vem com o conceito do texto, achei esse detalhe quase humorístico, assim com uma ponta de ironia e leveza. Uma brincadeira com o tempo que ele levou conceituando tudo ali, ele escreve ‘escrita, escrita, escrita’ em todos os lugares onde teria alguma ideia mais elaborada atrás da palavra. Achei esse detalhe muito interessante.”
Marco Paulo Rolla, artista plástico