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Estado de Minas Novela

Claudia Raia: "O humor é ferramenta de subversão. Um grande ato político"

Atriz revisita a dançarina Ninon de "Roque santeiro", agora disponível no Globoplay. Clássico de Dias Gomes marcou a estreia de Claudia em novelas


27/06/2021 04:00

Claudia Raia revisita a Ninon de 'Roque Santeiro', agora disponível no Globoplay. Clássico de Dias Gomes marcou a estreia da atriz em novelas
Claudia Raia revisita a Ninon de "Roque Santeiro", agora disponível no Globoplay. Clássico de Dias Gomes marcou a estreia da atriz em novelas (foto: GLOBOPLAY/DIVULGAÇÃO)

Trinta e cinco anos depois de ir ao ar o último capítulo de “Roque Santeiro”, a novela agora está disponível, na íntegra, na plataforma Globoplay. Trata-se de um dos folhetins que mais fizeram sucesso na Globo, mas também o que mais foi censurado durante o  governo militar.

Afinal de contas, a trama criada por Dias Gomes, que se tornou um clássico da televisão brasileira, era uma sátira atemporal à exploração política e comercial da fé popular.

Na cidade fictícia de Asa Branca, os moradores vivem em função dos supostos milagres de Roque Santeiro (José Wilker), coroinha e artesão de santos de barro que teria morrido como mártir ao defender a comunidade do bandido Navalhada, vivido por Oswaldo Loureiro.

O falso santo reaparece em carne e osso, alguns anos depois, ameaçando o poder e a riqueza das autoridades. Entre os que se sentem ameaçados com a volta de Roque estão o conservador padre Hipólito (Paulo Gracindo), o prefeito Florindo Abelha (Ary Fontoura), o comerciante Zé das Medalhas (Armando Bógus) e o temido fazendeiro Sinhozinho Malta (Lima Duarte), amante da pretensa viúva do santo, a fogosa Porcina, papel inesquecível de Regina Duarte.

TEATRO
O personagem Roque Santeiro surgiu pela primeira vez na peça “O berço do herói”, que estrearia em 1965 se não fosse proibida pelo governo militar. Dez anos depois, em 1975, já consagrado como autor de telenovelas, Dias Gomes adaptou a trama e a transformou em “Roque Santeiro”, cujo primeiro capítulo nem sequer foi exibido, após a censura do Departamento de Ordem Política e Social, o temido Dops.

Em 1985, já na fase de abertura política, a novela finalmente foi exibida. Um sucesso retumbante, cravando, em média, 75% da audiência. Mesmo assim, Dias Gomes e Aguinaldo Silva, que o auxiliava na escrita dos capítulos, continuaram sofrendo a ação da censura.

“'Roque santeiro’ foi sucesso e divisor de águas também”, relembra Lima Duarte. “‘Roque Santeiro' sempre estava na pauta de todas as conversas, era uma novela que todos nós adorávamos e ficou dez anos proibida. Só eu era remanescente do elenco original, o Sinhozinho. Mas foi muito feliz porque teve o maravilhoso Zé Wilker fazendo o Roque Santeiro e a Porcina, com a Regina Duarte, maravilhosa.”

O veterano ator diz que a novela envolveu o telespectador no subtexto: “Falamos de você, do nosso país. Estamos contando histórias que um dia, um momento, aconteceram com você. Por isso, as pessoas se reconhecem. Quando pega fundo no coração dele, o espectador se identifica. Um dia, me disseram que gostam quando entro na novela, porque sempre dão risada. Você só ri do que concorda, você não ri do que discorda. A trama era interessantíssima, falava de um país que se tornava grande, livre, importante. Tinha padres, freiras, heróis, prostitutas, bandidos, ladrões. Era um microcosmos do Brasil”, observa Lima Duarte.

CARISMA 
Além de artistas consagrados, a novela de Dias Gomes abriu espaço para iniciantes que, com o tempo, também se tornaram famosos. É o caso de Claudia Raia, que viveu Ninon, uma das dançarinas da boate Sexus. Inicialmente, ela não teria falas, mas o carisma da atriz se impôs e Claudia ganhou mais destaque na trama.

“Foi a minha primeira novela, era uma personagem pequena, mas tudo o que podia mostrar do meu trabalho, eu mostrava”, relembra. “Tem uma história maravilhosa: havia uma cena que eu dividia com a Regina Duarte. Era uma fala só, mas ensaiei como se eu fosse a protagonista. E a Regina me cortou sem querer. Parei e pedi para voltar, pois tinha ensaiado três semanas para falar (risos). Mas ela foi muito querida, a gente refez a cena, falei e deu tudo certo. Imagina se eu poderia perder aquela oportunidade? Jamais!”, comenta a atriz.

SUBVERSÃO 
Claudia se lembra com carinho de  José Wilker, que morreu em 2014. “Ele dominava o personagem de maneira muito segura” comenta, destacando a ousadia do autor. “Meu núcleo era quase uma afronta. O texto do Dias Gomes trazia elementos fantásticos, como a história do lobisomem, que faziam com que a história, uma grande crítica sociopolítica, fosse muitas vezes interpretada de maneira alegórica, lúdica. Se a gente parar para pensar, ainda é um enredo muito atual.”

Para atriz, o humor é o melhor caminho para enfrentar temas delicados. “O bonito do humor é que essa linguagem nos permite abordar tudo, fazer críticas e propor reflexões. É assim até hoje”, diz.  “Pra mim, o humor é uma grande ferramenta de subversão e vai continuar sendo assim sempre. É um grande ato político”, conclui Claudia Raia. (Estadão Conteúdo)


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