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Estado de Minas CAMINHOS DE MINAS

Elevada a Monumento Nacional, Estrada Real é caminho dos peregrinos

Entrevistamos o mochileiro que percorreu 726 km da ER, em 38 dias. A jornada solitária virou documentário e ele nos conta como foi a experiência em Minas Gerais


27/10/2023 13:46 - atualizado 27/10/2023 14:49
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“A rotina de peregrinação pode ser desafiadora em certos momentos. Dia após dia, começando cedo, caminhando até o esgotamento, e depois lidando com obstáculos como a falta de hospedagem ou a impossibilidade de lavar as roupas, tudo isso faz você repensar sobre querer continuar a jornada. Apesar disso, não há satisfação maior do que conhecer pessoas, ouvir as suas histórias e as dos lugares por onde
passo e de realmente estar ‘só’ comigo mesmo, além da caminhada, que por si só que é maravilhosa”, relata o mochileiro youtuber Richard Oliveira sobre a caminhada que fez na Estrada Real e virou documentário. 
 
 
 
Richard Oliveira
Mochileiro há 7 anos, Richard Oliveira fez recentemente o caminho de Diamantina até Ouro Preto (foto: Richard Oliveira/Divulgação)
 
Orgulho para os mineiros, a Estrada Real recebeu o título de Monumento Nacional na semana passada (20/10). Com cerca de 1600 quilômetros de extensão, a ER é formada por um conjunto de caminhos que passam por 183 localidades dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. A proposta tem como objetivo o resgate histórico e cultural do caminho que, ao percorrer diversos estados, torna-se motivo de orgulho cultural e atrativo turístico. 

Vida nômade

 
Estrada Real
No caminho pela Estrada Real, belas paisagens, grutas e cidades históricas (foto: Richard Oliveira/Divulgação)
Com tanta importância turística, a Estrada Real tornou-se destino de peregrinação. Se no passado, lá no século 17, o caminho era usadopor tropeiros para escoar o ouro e diamantes, em lobos de burro e mulas rumo à coroa portuguesa, hoje, o local é um importante caminho para quem busca, em uma jornada interior, aventura-se pela história, reviver o passado e embrenhar-se por um reencontro de si mesmo. 
 
 

Mapa
Mapa mostra os quatro os caminhos da Estrada Real - Velho, Novo, Sabarabuçu e dos Diamantes (foto: Instituto Estrada Real/Divulgação)
Há 7 anos, o publicitário Richard Oliveira trocou o trabalho em uma agência de marketing por uma vida nômade. Há um ano, ele lançou a série “Um mochileiro na Estrada Real”, onde convida os seguidores a conhecer o interior de Minas Gerais na perspectiva dele como peregrino. Durante a caminhada de 38 dias, onde percorreu 726 quilômetros, ele nos apresenta um pouco sobre a história e cultura do
estado e nos faz refletir sobre a vida. “Amo o interior, principalmente o de Minas Gerais, sendo um lugar que quero explorar mais. As estradas muitas vezes são difíceis, principalmente para quem se propõe a conhecer a pé, entretanto, revelam povoados charmosos com muita história, cultura e hospitalidade, o que torna essa experiência inesquecível’, aborda Richard Oliveira, produtor de conteúdo do canal ‘Vida
de Mochila’, do YouTube.
 
 
No primeiro documentário, Richard retratou o Caminho Velho da Estrada Real – antiga rota histórica do Brasil, que conecta Minas Gerais ao litoral do Rio de Janeiro, passando por São Paulo. A série “Um mochileiro na Estrada Real” conta com mais de 4,5 milhões de visualizações e 6 mil comentários. 

Recentemente, Richard Oliveira teve a oportunidade de explorar mais dois caminhos da ER, o de Diamantes e o de Sabarabuçu, que foram divulgados recentemente em seu canal de vídeos. Seu segundo documentário  “Um Mochileiro no Caminho dos Diamantes, Estrada Real” traz o relato de 32 dias e 540 quilômetros percorridos. A nova série entrou no ar no dia 11 de setembro de 2023, e em apenas 14 dias, o filme já acumulou mais de 267 mil visualizações, 1.200 comentários e 172.177 horas de exibição. A narrativa explora os cerca de 30 povoados que permeiam o caminho.



Minas que encanta

Gruta do Salitre, em Diamantina
Gruta do Salitre, em Diamantina, um dos monumentos naturais a caminho dos peregrinos (foto: Richard Oliveira/Divulgação)
O Brasil é um país de dimensões continentais, no qual é possível desfrutar de quase todos os tipos de paisagens e climas. Entretanto, há um local que cada vez mais chama a atenção dos viajantes: Minas Gerais. Segundo um estudo do Núcleo de Estudos Econômicos da Fecomércio/MG, o estado mineiro destaca-se como o primeiro destino dos brasileiros. A pesquisa ainda revela que Minas Gerais lidera a procura pelo turismo em meio a natureza, pontuada por 74% dos respondentes e a comida caseira citada por 73%. Entre as possibilidades das atividades ao ar livre, cachoeiras e trilhas destaca-
se também a peregrinação. 


Entrevista com Richard Oliveira, peregrino e produtor de conteúdo


Quando surgiu a ideia de percorrer a Estrada Real?

A primeira vez foi em 2019. Pensei em fazer de bicicleta, mas como eu não tinha, teria que comprar uma, fazendo com que eu adiasse esse plano. Sempre tive vontade de fazer uma peregrinação, mas como não conhecia os caminhos do Brasil, achei que o primeiro a fazer seria o Caminho de Compostela. Só que ir para Espanha é mais caro e burocrático, então também deixei esse desejo para frente, guardado. Em 2020, eu descobri o Caminho de Cora Coralina, uma trilha de longo percurso (300 km) no meu estado, e decidi fazer sozinho, pela primeira vez. Foi uma viagem muito importante para mim e logo vi que era possível fazer outros, a pé. Foi depois que decidi resgatar esse desejo de fazer a Estrada Real de uma forma diferente, ao invés de usar a bike, eu decidi fazê-lo a pé. Esse é um jeito que eu curto muito mais. Por estar sozinho na natureza, consigo prestar atenção no caminho todo. De bicicleta ou carro, eu passaria muito rápido e não teria o mesmo impacto.

Qual o lugar em Minas Gerais que mais chamou a atenção?

O que mais me chamou a atenção não foi um lugar em si, mas os diversos encontros que tive na estrada. Muitas pessoas passaram a me oferecer carona, frutas, um pouso, café. Ao longo da jornada, fui aprendendo que o mundo pode ser um lugar muito mais seguro e acolhedor do que a gente imagina, principalmente no interior de Minas Gerais. Sobre os encontros, me apaixonei por alguns povoados que são muito ricos culturalmente e cheios de cachoeiras lindas, como Milho Verde, Serro, Tiradentes, São Gonçalo do Rio das Pedras, e outros. 

Quais são os preparativos para percorrer toda a Estrada Real?

Eu já tenho o hábito de fazer caminhadas frequentemente, então não fiz uma preparação especial para essas. A minha estratégia foi ir sem tempo definido para fazer com calma, curtindo o caminho e parando um dia para descansar junto às cachoeiras e cidades que eu gostasse. Não tenho um dia certo para chegar, então vou fazendo distâncias mais curtas no começo e, à medida que o corpo vai se adaptando ao ritmo da caminhada, vou aumentando as quilometragens por dia. Entretanto, durante o percurso, sempre tiro dias de folga, ou dias para trabalhar e escrever. A melhor preparação é não ter pressa para concluir. Tem quem queira fazer uma peregrinação para se superar, para andar o máximo que puder em um dia, levar o corpo ao extremo. Não tenho esse objetivo. O que busco é um tempo sozinho na natureza, aprender sobre o nosso país, conhecer pessoas que não conheceria se não tivesse fazendo isso a pé e me desconectar um pouco do ritmo acelerado que vivemos. 

Onde que se deu início da jornada e quanto tempo gastou para finalizar o percurso?

No Caminho Velho foram 38 dias de viagem, 29 dias de caminhada. Andei de Ouro Preto, MG até Paraty, RJ, passando por SP. No Caminho dos Diamantes e Sabarabuçu foram 32 dias de viagem e 25 dias de caminhada. Esse trecho começa em Diamantina e vai até Ouro Preto, mas aproveitei e peguei um desvio na cidade de Cocais para fazer o caminho de Sabarabuçu, que também vai a Ouro Preto.

Quais os maiores entraves e dificuldades passou durante a travessia.

Alguns trechos cheguei a andar mais de 36 km sem passar por nenhum povoado, dificultando encontrar água e comida durante o caminho. Nesses casos, eu tinha que carregar mais peso na mochila e a caminhada ficava mais dura. A altimetria de Minas é muito elevada e oscila muito. Em todos os caminhos eu precisava encarar subidas e descidas muito longas, exigindo bastante do corpo, especialmente do joelho, já que carregava 13 kg de mochila. Já para produzir o documentário sozinho, tive que pilotar o drone enquanto caminhava. Ao mesmo tempo, havia todo o trabalho de pensar nos enquadramentos, nas histórias que queria contar, planejar as entrevistas, pesquisar e aprender sobre as histórias dos lugares onde passei e queria passar, tudo isso enquanto passava por um grande desafio físico e emocional. O emocional às vezes fica muito abalado porque é muito tempo sozinho. Todos os tipos de pensamentos vem à mente e é necessário lidar com todos eles. São muitas emoções em um só trecho, e isso também nos deixa esgotado. Mas, no mundo dos caminhantes, tem a frase “a mente carrega”, porque se o corpo estiver cansado e a mente estiver boa, você voa. Se a mente estiver ruim, você pode estar no auge do seu condicionamento físico, e ainda assim parecerá uma penitência. Sobre a travessia do Caminho Velho, peguei muita chuva e tive uma lesão no tornozelo durante o trajeto. Tive que caminhar mais de 20 km com o machucado porque ninguém queria me dar uma carona debaixo de chuva. Foi um dia difícil e precisei me recuperar 3 dias antes de voltar a caminhar.
 
Na sua visão, como os mineiros recebem os peregrinos?

Muito bem! Minas Gerais tem uma cultura secular de receber bem os viajantes, que inicia lá no tropeirismo. O estado possui alguns dos caminhos de peregrinação mais antigos do Brasil, como o Caminho da Fé. A cultura mineira de convidar as pessoas para um café, um bolo, um pão de queijo, gostar de conversar, faz total diferença na rotina do peregrino que anda só. É uma delícia chegar num lugar e ser recebido com tanto carinho, ficar ouvindo as histórias das pessoas, aprender sobre a vida naquela cidade. 

Sobre a peregrino


Richard Oliveira é formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e trabalhou mais de 8 anos na área de marketing. Nos últimos 7 anos, trocou a vida de escritório por uma vida nômade. Entre 2017 e 2019, atravessou a América Latina sem usar avião e produziu uma WebSérie chamada #America300 com 97 episódios. Hoje, trabalha produzindo filmes para seu canal no YouTube (/VidadeMochila) com 173 mil inscritos e conteúdo para o seu Instagram (@vidademochila), que conta com 279 mil seguidores. 


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