Muitos casais enfrentam dificuldades para realizar seu sonho devido a questões de saúde, como obesidade e diabetes

Muitos casais enfrentam dificuldades para realizar seu sonho devido a questões de saúde, como obesidade e diabetes

Freepik

infertilidade é considerada quando não ocorre gravidez após 12 meses de relações sexuais frequentes sem o uso de contraceptivos. Afeta cerca de 15% dos casais em idade reprodutiva e pode ocorrer tanto em pessoas que nunca tiveram filhos quanto naquelas que desejam aumentar a família. Muitos casais enfrentam dificuldades para realizar seu sonho devido a questões de saúde, como obesidade e diabetes.

Dados mostram que o Brasil é o quinto país com maior incidência de diabetes no mundo, uma condição que pode levar a uma série de complicações, inclusive à perda de fertilidade. Além disso, o aumento da obesidade na população tem se mostrado um fator preocupante. De acordo com o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) do Ministério da Saúde, a taxa de obesidade entre as mulheres monitoradas aumentou significativamente, atingindo 33,6%, em comparação com 27,5% em 2018.

Impacto da obesidade e diabetes

Especialistas alertam que a obesidade pode causar desequilíbrios hormonais, afetar a ovulação e aumentar o risco de complicações durante a gestação. Segundo o médico especialista em reprodução humana, Pedro Caron Camargo, a obesidade é uma comorbidade que afeta tanto homens quanto mulheres.

"No caso das mulheres, o excesso de peso causa alterações endócrino-metabólicas que dificultam a ovulação. Muitas vezes, elas têm ciclos mensais anovulatórios, ou seja, não ovulam e não sabem quando vão ovular. Em alguns casos, podem até desenvolver amenorreia, ou seja, a ausência de menstruação. No caso dos homens, o excesso de peso causa alterações na bolsa escrotal, tornando-a mais quente devido ao aumento de peso, o que resulta em maior conversão periférica de testosterona em estrogênio. Isso leva a um aumento nos níveis de estrogênio nos homens. Todos esses fatores podem reduzir a concentração de espermatozoides, afetar sua motilidade e até mesmo alterar sua formação", explica o especialista.

Quando há diagnóstico de diabetes, a resistência ao hormônio da insulina também pode causar infertilidade. Nas mulheres, o descontrole da glicemia pode afetar a ovulação, está associada à diminuição da libido e pode causar até mesmo a menopausa precoce. Quando ocorre a gravidez, mulheres com diabetes sem controle também correm mais risco de abortos espontâneos. Já nos homens, a doença pode causar danos permanentes devido a característica do diabetes de causar lesões microvasculares, causando disfunção erétil permanente, aumento da taxa de fragmentação do DNA espermático, e pode levar a má formação e alterações cromossômicas no bebê.

Leia: Por que tantos adultos estão tomando remédio para tratar TDAH?

Segundo Caron, a perda de peso como fator determinante para melhorar a fertilidade foi um dos principais tópicos abordados no congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE) deste ano.

"Estudos apresentados no evento indicaram uma melhora na qualidade dos ciclos ovulatórios nas mulheres e na qualidade espermática nos homens que estavam com sobrepeso e obesidade e conseguiram reduzir seu peso em 10% a 15%. Portanto, a orientação para perder peso, seja por meio de atividade física e alimentação saudável ou com o uso de medicamentos, pode realmente melhorar as chances de gravidez, e os pacientes que levam isso a sério têm uma maior probabilidade de conceber um bebê no futuro", afirma.

Nutrição adequada é essencial

Além da manutenção do peso ideal e controle de doenças associadas, a alimentação adequada tem forte ação positiva para melhora da produção de hormônios relacionados à fertilidade, concepção e garantia da manutenção da gestação pelos nove meses. Esse planejamento vai prover todos os micronutrientes, vitaminas e minerais que serão favoráveis a melhor qualidade de espermatozóides e óvulos para formação do embrião.

Entre os alimentos que devem ser priorizados estão aqueles que são fonte de antioxidantes, encontrados nos alimentos roxos, avermelhados e cítricos; os alimentos verde-escuros, como a couve, brócolis, agrião, espinafre e até temperos como o coentro, por exemplo; além das gorduras boas como castanhas, que são fontes de vitamina E; o abacate, que é considerado o "alimento para as gestantes" pela sua fonte de gordura, e alguns peixes pequenos como a sardinha e o atum que são ricos em ômega 3. Outros nutrientes que podem ser destacados também são a colina; a coenzima Q10; as vitaminas do complexo B, principalmente a B9; vitamina A, D e K; o zinco; o cobre o selênio.

A nutricionista Sarina Antoniassi, que atua em nutrição e fertilidade noEco Medical Center, destaca também a importância da flora intestinal saudável para garantir a melhor absorção do que for ingerido, a partir do consumo de alimentos pré e probióticos como cereais integrais, frutas, verduras e iogurtes.

"É importante ressaltar que o consumo desses alimentos deve ser fracionado ao longo do dia, fazendo com que a alimentação do dia todo seja saudável e voltada a melhora da fertilidade. Não adianta tomar o café da manhã favorável e produtos não recomendados durante a noite, por exemplo", diz a nutricionista.

Sobre os produtos que devem ser evitados, Sarina cita os alimentos com farinhas refinadas, aqueles que possuem excesso de açúcar, os embutidos e, em geral, os ultraprocessados devido ao nível de aditivos como corantes e conservantes.

"Todos os alimentos que foram indicados como recomendados são alimentos in natura ou minimamente processados, ou seja, alimentos de verdade. A famosa frase 'descasque mais, desembale menos' cai muito bem para os casais que tem como foco o aumento da fertilidade", explica a especialista.

Tratamentos de reprodução humana

"Existem diversas formas de ajudar esses pacientes a conceber esse sonho de ter um bebê no colo. Se a paciente está com dificuldade de ovular e só está faltando a ovulação, o tratamento pode ajudar através de medicações como indutores de ovulação, seja via oral ou até mesmo injetável. Se existe alguma alteração no esperma, como um DNA muito fragmentado, podemos fazer uma fertilização in vitro e depois a transferência embrionária, por exemplo", explica Pedro Caron Camargo.