A caminhada, lenta ou moderada, foi considerada a melhor prática para recuperar a força e a capacidade locomotora de pessoas que ficaram internadas em hospitais

A caminhada, lenta ou moderada, foi considerada a melhor prática para recuperar a força e a capacidade locomotora de pessoas que ficaram internadas em hospitais

(Mircea Iancu)

Ao receber alta, idosos que passam algum período internados podem, muitas vezes, sofrer a chamada síndrome pós-hospitalar. Mesmo se antes não apresentavam problemas de locomoção, o tempo de inatividade física acaba comprometendo a mobilidade, uma condição associada a maior morbidade e mortalidade. Agora, um estudo publicado na revista The British Journal of Sports Medicine indica que apenas 25 minutos de caminhada moderada por dia é suficiente para combater os efeitos colaterais do repouso prolongado.

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Com base na revisão de 19 estudos envolvendo 3.783 participantes, os autores também constataram que, para alcançar uma melhora substancial na função física, o ideal são 50 minutos de marcha lenta ao dia, ou 40 minutos de atividades combinadas, como 20 de resistência e 20 de aeróbica. Não há benefícios extras para quem extrapola uma hora de exercícios, afirmam os pesquisadores, da Universidade de Cádiz, na Espanha.

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De acordo com Borja del Pozo Cruz, autor correspondente do artigo e professor de ciências da saúde na instituição espanhola, especialmente no caso de idosos, caso a síndrome pós-hospitalar não receba a atenção necessária, as consequências vão de readmissão hospitalar a incapacidade permanente, retirando a autonomia do paciente. Em algumas situações, a falta de mobilidade e o retorno ao leito podem levar ao acometimento de outras enfermidades e, até mesmo, óbito.

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"Pesquisas publicadas recentemente indicam que fazer com que os pacientes mais velhos saiam da cama e se movimentem pode ajudar a evitar o declínio físico, mas não está claro que tipo de atividade, ou quanto dela, pode ser mais eficaz", destaca Pozo Cruz. Para descobrir a fórmula ideal, os autores buscaram ensaios clínicos com pessoas com mais de 50 anos que haviam sido internadas por alguma doença grave e que receberam prescrição de alguma atividade física durante a internação.

A análise incluiu somente estudos com grupos de comparação, em que um recebia os cuidados habituais e o outro praticava exercícios monitorados. Além disso, os artigos deveriam avaliar as alterações na capacidade funcional, ou seja, de realizar atividades rotineiras da vida diária. Os autores também buscaram apenas pesquisas nas quais foram observadas, também, consequências adversas do sedentarismo no tempo de internação. Dos quase 3,8 mil participantes, 55% eram mulheres e tinham idades entre 55 e 87 anos. O tempo médio de hospitalização foi de sete dias; e o de acompanhamento após a alta, de 68 dias.

Ganhos

Os resultados da avaliação indicaram que a dose mínima necessária para combater os efeitos do repouso hospitalar e melhorar a capacidade funcional dos pacientes idosos internados foi 40 minutos por dia de atividade física de intensidade leve ou cerca de 25 minutos de exercícios moderados. Os maiores ganhos ocorreram entre aqueles que se movimentaram de forma leve por 70 minutos diários ou moderadamente por 40 minutos.

"Em termos do melhor tipo de atividade física para evitar o declínio físico, uma combinação de atividade física e caminhada em ritmo lento foi considerada a mais eficaz", observa Pozo Cruz. "Apenas a caminhada foi mais de 80% eficaz, com a dose ideal alcançada em cerca de 50 minutos/dia e a mínima eficaz em 25 minutos/dia."

Consequências nocivas reduzidas

A análise de artigos sobre a prescrição de exercícios para idosos acamados mostrou que a eficácia da atividade física aumentou desde a admissão até a alta, atingindo o pico em torno de 19 dias após a saída do hospital. A taxa de queda — ocorrência mais comum depois desse período — foi semelhante entre os grupos de intervenção e de comparação, mas aqueles com prescrição de atividade física sofreram menos consequências adversas, em geral.

Os pesquisadores da Universidade de Cádiz, na Espanha, reconhecem que havia pouca informação sobre a frequência de monitoramento após a alta e que apenas os participantes que conseguiram se movimentar sem ajuda foram incluídos, o que pode enfraquecer as descobertas e limitar a aplicabilidade clínica mais ampla do estudo. Porém, eles apontam que as evidências compiladas são o que se tem de melhor, até agora, sobre o tempo ideal de atividades físicas para combater a síndrome pós-hospitalar.

Declínio

"Projeta-se que os adultos mais velhos representem mais de 60% da população total de pacientes internados em hospitais até 2030. Com base nas evidências existentes até o momento, esta revisão mostrou o tipo ideal e a dose de atividade física necessária para prevenir o declínio funcional e reduzir eventos adversos em idosos internados no hospital", diz o artigo.

Segundo os autores, "os efeitos benéficos dos programas de atividade física supervisionados no hospital podem ser maximizados com apenas cerca de 25 minutos/dia de caminhada lenta, uma meta alcançável para a maioria idosos hospitalizados". Para os pesquisadores, os resultados "produziram informações críticas para apoiar o uso da atividade física como parte essencial da rotina diária de adultos mais velhos gravemente hospitalizados".

Um artigo anterior, de 2020, de pesquisadores da Universidade de Glasgow mensurou a inatividade de idosos internados e constatou que, entre 93% e 98,8% do tempo, os pacientes ficam sentados ou deitados. Os mais velhos passavam apenas 76 minutos por dia na posição vertical.

"Estudos recentes enfatizam a importância de incorporar atividades físicas nos cuidados diários de idosos para melhorar os resultados clínicos, com foco na função e independência nas atividades rotineiras", observa a autora correspondente, Jennifer Scott, da Escola de Medicina na instituição. "No entanto, existem muitas barreiras institucionais para a atividade física em hospitais, incluindo falta de apoio da equipe, falta de dispositivos auxiliares e medo de lesões", diz. Para Scott, é fundamental que, de volta ao ambiente doméstico, os ex-hospitalizados recebam prescrições de atividades físicas, "diminuindo, assim, o risco de declínio funcional".