O cientista da computação Gustavo Pantuza com sua engenhoca, que vigia e passa informações para familiares do idoso

O cientista da computação Gustavo Pantuza com sua engenhoca, que vigia e passa informações para familiares do idoso

Beto Novaes/EM/D.A Press

O uso da robótica na vida cotidiana vai, aos poucos, deixando de ser ficção para se tornar realidade. E não só grandes empresas de tecnologia investem em projetos que utilizam robôs, mas também jovens com talentos especiais, ligados ou não a instituições de ensino e pesquisa, desenvolvem protótipos que podem muito bem se tornar produtos comerciais e ajudar as pessoas a enfrentar problemas e situações inusitadas. Um bom exemplo disso é o do cientista da computação Gustavo Pantuza Coelho Pinto, de apenas 24 anos, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que criou um robozinho (ao qual deu o nome de Pitoco) para ser um cuidador de idosos, principalmente aqueles portadores de doenças degenerativas, como Alzheimer.


“O cuidado com o idoso é um sério problema enfrentado por familiares, e os computadores têm sido empregados com sucesso na ajuda a pessoas com comprometimento cognitivo leve e de moderada demência”, diz o jovem cientista, lembrando que há momentos em que esses idosos passam parte ou todo o dia sozinhos dentro de residências ou em ambientes específicos. Consequentemente, os responsáveis por essas pessoas têm dificuldades em saber o estado do idoso quando não estão por perto. “Diante desses problemas e do potencial que os computadores apresentam para tais situações, desenvolvi um sistema pelo qual é possível identificar riscos no ambiente, como a presença de fogo e a própria ausência da pessoa vigiada.”

O robozinho foi feito com caixa de plástico para guardar alimentos, palitos de picolé e restos de fios

O robozinho foi feito com caixa de plástico para guardar alimentos, palitos de picolé e restos de fios

Beto Novaes/EM/D.A Press
Riscos detectados

Pitoco, o pequeno robô, é um carrinho que se move por um ambiente previamente conhecido, capturando imagens. Ao término de sua rota, ele transmite as fotos, via rede wireless de internet, para um serviço web, que as processa, buscando identificar possíveis riscos e, assim, manter notificações ao cuidador ou familiares do idoso, por meio de um site de acesso privado. “No caso, hoje, por ainda não ser um produto comercial, as fotos são enviadas para o endereço cuidador.pantuza.com, onde é possível fazer login para serviço de acesso único do usuário do robozinho. “O protótipo criado se locomove em um movimento previamente definido. Mas é possível implementar nele inteligência artificial ou sistema de controle por celular para determinar outros tipos de movimentos e, até mesmo, o desvio de obstáculos, com a implantação de sensores”, explica.

Para a idealização do projeto, Gustavo Pantuza conta que fez uma visita ao instituto Jenny de Andrade Faria, em Belo Horizonte, que presta serviços de atenção ao idoso e à mulher. Ele foi acompanhado, durante a observação de atendimento a pessoas com Alzheimer, por duas terapeutas ocupacionais, para conhecer os problemas enfrentados pelos idosos e pelos cuidadores frente à doença. “A visita me motivou a criar uma estratégia para a viabilização do projeto, dada a carência de tecnologias no monitoramento e no cuidado com tais pessoas”, revela.

 

Inteligente e funcional

O robozinho foi montado com ferramentas de hardware aberto (como ocorre no caso dos softwares com programas de código livre). Ou seja, nada de propriedade privada foi usado. Por ser um protótipo, Gustavo Pantuza usou materiais do cotidiano, como caixa de plástico para aguardar alimentos, palitos de picolé e restos de fios. “Caso ele venha a ser produzido para fins comerciais, esses produtos logicamente serão substituídos por material mais apropriado.”

Se, na aparência, Pitoco utiliza materiais simples, tecnologicamente falando ele é um hard-ware bem sério. Seu cérebro é baseado em uma placa Arduino e conta com um shield (plaquinhas que se encaixam em cima do Arduino para aumentar sua funcionalidade) de wi-fi e outro shield de câmera. O robozinho tem ainda um silencioso driver para o motor. Duas baterias são usadas no protótipo, uma para alimentar a plataforma Arduino e outra para o motor. “Num cenário inteligente, no qual o robô seria acionado de cinco em cinco minutos para uma vigília, por exemplo, de dois minutos, uma bateria simples feita de pilhas comuns duraria o dia inteiro. No caso de funcionamento direto, a carga dura pouco mais de uma hora”, revela o cientista, ressaltando que o projeto pode ser desenvolvido ainda para outros fins. “Já estudamos um robô semelhante para vasculhar esgotos. O modelo poderia ter algumas garras para, caso fosse possível, consertar coisas erradas, como desobstruções internas.”

Industrializado

Os próximos passos, segundo Gustavo Pantuza, caso haja interesse do mercado, são aplicar inteligência artificial ao robô, melhorar a parte de circuitos e criar chassis mais industriais. “Tudo bem simples de introduzir”, afirma. De acordo com cálculos do seu criador, Pitoco custou em torno de US$ 200 para ficar pronto, valor que certamente seria bem inferior, caso fosse produzido industrialmente. “Tive de comprar tudo individualmente: a câmera, o Arduino, os shields, o chassi. Para a indústria, isso seria bem mais econômico, principalmente porque pretendo continuar fazendo tudo utilizando código aberto”, completa. 

 

Robótica mais acessível
Arduino é uma plataforma física de computação de código aberto, baseada numa simples placa microcontroladora e em um ambiente de desenvolvimento para escrever o código para a placa. Na prática, trata-se de uma plataforma de prototipagem eletrônica, que torna a robótica bem mais acessível a todos. Projetos em Arduino podem ser independentes ou se comunicar com softwares, rodando no computador (como os programas Flash, Processing, MaxMSP etc.). Os circuitos podem ser montados à mão ou adquiridos pré-montados, e o software de programação de código livre pode ser baixado de graça na internet.