Mariana Penido faz circo há um ano

Mariana Penido faz circo há um ano: "Você vai subindo de nível aos poucos. É um desafio"

fotos: Leandro Couri/EM/D.A Press


Arte milenar, o circo no Brasil costumava estar associado àquelas trupes que chegavam às cidades para se apresentar. Mas, agora, o picadeiro está ao alcance das mãos. Não mais apenas para pessoas que deixavam a vida tradicional para rodar por aí encantando o público com truques e malabarismos. O fazer circense, totalmente democrático e ferramenta de transformação, pode acontecer nas próprias academias de ginástica, ou em escolas dedicadas à prática, que pipocam por aí. Esqueça a lona e os animais – o circo pode estar a um passo de você.

A ginástica circense compreende modalidades como acrobacias aéreas (trapézio, tecido, lira e cordas), mastro chinês, trampolim, cama elástica, malabares, equilíbrio com perna-de-pau, monociclo, corda bamba ou arame esticado, e acrobacia de solo (estrela, rolamento, cambalhota, pirueta, parada de mãos, ponte, saltos, inclusive mortais). Pode conversar com diferentes expressões criativas, como a música, o teatro e a dança, falando apenas de algumas entre as infinitas possibilidades que o circo envolve - uma maneira de estar em movimento e praticar exercícios, ao mesmo tempo em que é pura diversão.

O professor de educação física e fisioterapeuta Elliot Paes observa uma maior procura por aulas de circo, como exercício físico propriamente dito, de cinco anos para cá. É uma prática alternativa a atividades mais convencionais, como vôlei, basquete e futebol, exemplifica. “São outras possibilidades. Uma atividade que pode ser realizada por crianças e adultos, de qualquer idade”, aponta.
 

Entre os benefícios do circo, o especialista cita a melhora da força, flexibilidade, mobilidade e estabilidade, além da esfera psicológica. Também implica disciplina e é uma forma de trabalhar o corpo inteiro por meio de cada movimento. Hoje em dia, explica Elliot, o corpo não é mais visto de maneira segmentada quando se pensa em exercícios físicos – tudo está interligado. “O circo é ainda um instrumento para a interação social, principalmente quando a realização da prática é coletiva. É uma busca pelo desempenho em cada detalhe, para alcançar resultados sempre melhores, individuais ou compartilhados”, ensina.
 

Pedro Sartori do Vale tem 37 anos e é artista circense. Especializado em mastro chinês, tem uma trajetória importante no circo, parte fundamental de sua vida. Hoje, ao lado da mulher, Maíra, coordena a Brava Escola de Circo, aberta em 2019, no Bairro Santa Lúcia, em Belo Horizonte. No espaço de treinamento para iniciantes e profissionais, são mais de 100 alunos, a partir dos 4 anos. São oferecidas aulas de acrobacia de solo, trampolins e cama elástica, acrobacias aéreas (trapézio, corda lisa, tecido acrobático, lira, entre outros), parada de mãos, báscula e mastro chinês, além de oficinas esporádicas de outras disciplinas. A intenção, a partir do início de 2024, é também criar um curso de formação profissional em artes do circo.

Pedro Sartori do Vale e a esposa Maíra (na foto, de blusa azul)

Pedro Sartori do Vale é artista circense e, ao lado da esposa Maíra (na foto, de blusa azul), coordena a Brava Escola de Circo, em BH



Uma história que começou bem antes. Pedro é formado em circo pela Spasso Escola Popular de Circo, de BH, desde 2005. Logo depois, partiu para a ginástica olímpica, prática que realizou por um ano e meio em um clube da cidade. Chegou a se formar em design de produto e, daí, criou asas e foi “ganhar o mundo“ com o circo. Mudou-se para Bruxelas, na Bélgica, onde ingressou na Ecole Supérieure des Arts du Cirque (ESAC) e ali se formou em 2011.

O trabalho com o circo teria ramificações em diferentes formas de atuação. De lá para cá, Pedro tem participado de variados projetos, espetáculos, festivais e companhias. O circo o levou a conhecer e atuar em países como França, Itália, Finlândia, Alemanha, Áustria, Escandinávia, o Leste Europeu, entre outros. Em 2016, com o espetáculo Dois, dividiu o palco com o irmão, Luis, também artista circense, que à época vivia na Finlândia – eles são os criadores do espetáculo. “A ideia é trabalhar o circo contemporâneo, não apenas as técnicas circenses em si. Nesse espetáculo, falamos de nossa relação como irmãos. A base é o arco e flecha”, conta.

Sempre com a mochila nas costas, Pedro ia e vinha trabalhando com circo. Até que resolveu voltar ao Brasil, em um processo gradual. Foi com o nascimento da filha Lira, em 2019, o retorno definitivo para a capital mineira, e o início da escola própria junto com Maíra, atriz, mestre em artes, trapezista e capoeirista. De volta à cidade, passou mais um ano, que ele chama sabático, totalmente dedicado à ginástica olímpica, outra vez.

Identificação  

Agora, a escola está a todo vapor. “Recebemos pessoas que querem viver do circo e das artes cênicas”, diz Pedro, que fala sobre sua identificação com o circo não apenas como treino e prática esportiva, embora isso seja importante. “É um lugar em que consigo estar em cena. Não apenas o circo em si. Com o circo, posso fazer o que quiser. Misturar música, teatro, artes visuais. Adoro construir coisas, por exemplo. Aqui temos inclusive uma oficina de metal e madeira em que os alunos fazem seu próprio equipamento. Podemos explorar, por meio do circo, vários meios de representar”, aponta.  

Aos 42 anos, Maíra diz que gosta do circo porque é uma atividade desafiadora do ponto de vista físico e também se encanta por sua beleza e estética cênica. Ela teve a primeira vivência no circo ainda criança, mas começou mesmo nesse universo aos 33 anos, também a partir da Spasso. A formação profissional é no teatro e, depois, migrar para o circo foi um caminho natural – hoje é seu trabalho, sua vida, diz ela, que dá aulas na Brava para crianças e adultos.

No palco

“Como atriz, sempre gostei do teatro físico, o corpo em cena. O circo é uma complementação dessa linguagem artística. E é uma das linguagens das artes cênicas não muito difundidas em BH, como são o teatro e a dança. Mas o circo pode estar no palco, não necessariamente na lona. Pode ocupar qualquer espaço destinado às artes cênicas – a rua, o palco, a lona, a casa de espetáculos. É mais uma possibilidade de expressão”, conta Maíra. Agora, ao lado de Pedro, vê a filha Lira, de 4 anos, crescer no circo – a pequena adora cama elástica e de se pendurar no tecido e na corda.