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Estado de Minas LITERATURA

Consciência corporal: livro 'Articule-se' será lançado no sábado, em BH

A publicação é resultado de quatro décadas de pesquisa autoral da bailarina e preparadora corporal, em torno da consciência corporal e da anatomia do movimento


29/11/2022 14:03 - atualizado 29/11/2022 17:02

Ireni Ziviani
O livro contribui para as áreas das artes e da saúde, e funciona como guia para artistas, atletas e pessoas que se interessam por conhecer e cuidar do próprio corpo (foto: Arquivo pessoal/Divulgação)

Neste sábado (3/12), a bailarina e pedagoga do movimento Irene Ziviani realiza o lançamento de seu livro "Articule-se", escrito em colaboração com a artista de dança e pesquisadora Júlia Ziviani Vitello. Resultado de 40 anos de pesquisas sobre o movimento, com contribuições importantes, como a de Klauss Vianna, a obra aborda o desenvolvimento do método Articule-se de reeducação do movimento, criado por Irene, que vem sendo aplicado a pessoas comuns que buscam um trabalho corporal consciente, bem como artistas da dança, do teatro, das artes plásticas e da música, em Belo Horizonte e no Rio Janeiro. A edição e produção editorial são de Ludmila Ferreira. A orelha do livro é de autoria da bailarina Angel Vianna. O lançamento ocorre na Livraria Scriptum - Rua Fernandes Tourinho, 99 (Savassi), entre 11h30 e 14h30. O acesso é gratuito. 

Para saber um pouco mais sobre o trabalho, será disponibilizada a partir de 1º de dezembro, uma palestra de apresentação do método Articule-se, com tradução em libras, nos canais da autora no Instagram (instagram.com/irene_ziviani) e no YouTube youtube.com/@articulese). Também ficará disponível conteúdo acessível para pessoas com deficiência visual, neste link youtu.be/P9S2JYMTEL8. Este projeto é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte.

"Articule-se porque é nas articulações dos nossos ossos onde ocorre o movimento do corpo", comenta a bailarina Irene Ziviani sobre o título da obra. O livro reúne textos teóricos bem como 32 propostas de exercícios que têm como base a reeducação corporal através do movimento consciente, além de fotos e desenhos anatômicos que facilitam a apreensão do leitor, de forma lúdica. "Minha intenção foi de formatar um conteúdo menos técnico e mais simplificado, com exercícios práticos que têm o objetivo de proporcionar a cada um, de forma consciente, um melhor alinhamento do corpo", conta.

Segundo a bailarina, a pesquisa está relacionada a como cada pessoa dialoga com seu próprio corpo, no simples movimento do dia a dia. "O corpo tem as suas leis mecânicas feitas para impulsionar o movimento. O trabalho é essa tomada de consciência, como você vai respeitando o seu corpo e buscando o movimento mais natural e original, como as crianças no primeiro setênio", explica.

Esses entre outros conceitos adotados por Irene possuem afinidade com a Educação Somática - campo de pesquisa estruturado no movimento que surge no início do século XX e propõe vivências de autoconhecimento e autopercepção ao repensar padrões antigos e arraigados de comportamentos contraprodutivos, assumidos pelo indivíduo durante a vida. "Se há dor é sinal de que existe algo desalinhado no corpo. A estratégia é aprender a localizar onde está a causa e a causa pode não estar no ponto onde dói. Uma dor no quadril pode nascer de uma hiperextensão do joelho, e assim por diante. O corpo nos apresenta infinitas possibilidades. Sua capacidade de regeneração e recuperação. Então é preciso conhecer seu funcionamento", conclui.

Assentar, levantar, abaixar para pegar algo próximo ao chão, deitar-se, caminhar, atividades comuns do dia a dia são algumas das práticas encontradas durante uma aula no estúdio de Irene, no bairro Serra (Belo Horizonte). A bailarina também lança mão de conceitos da anatomia, da fisiologia, da biomecânica e da psicomotricidade. Lá a preparadora corporal ministra cursos e workshops para pessoas de diferentes formações como atletas, músicos, bailarinos, atores, engenheiros, arquitetos, médicos, comunicadores e pessoas em geral interessadas em conhecer o próprio corpo. "As minhas aulas são dinâmicas. Gosto de usar materiais diversos: sucata, elásticos que possam imitar a elasticidade de um músculo, canos de PVC para que a gente possa massagear os pés, bolinhas de tênis, mapas de anatomia, peças de resina que imitam o osso como os membros, os braços, as pernas, a bacia, o eixo vertebral", conta.

Durante a prática, para facilitar o aprendizado, tudo é experimentado por cada aluno em seu próprio corpo. "A resposta vem com a aquisição de novas habilidades motoras, trazendo para o indivíduo, a capacidade de autonomia para que ele possa adotar uma vida ativa e saudável", afirma Irene.

O engenheiro e jornalista Guilherme Minassa, de 70 anos, foi aluno de Irene Ziviani. Avesso ao esporte e a atividades físicas em geral, com o passar do tempo o corpo passou a acumular todo tipo de dor, sobretudo nas costas. Depois de se consultar com diversos médicos, foi recomendado à bailarina por um acupunturista. Apesar de poucos encontros com Irene, conta que nunca mais foi o mesmo. "Ela me deu dicas simples sobre minha forma de caminhar. Disse que estava um pouco instável e me pediu que imaginasse que cada pé ocupava uma canoa. Portanto, eu não poderia desequilibrar o corpo, ou então, uma das canoas viraria". Além de aliviar as dores, Guilherme garante que prestar atenção enquanto caminha passou a ser uma descoberta diária. "Também comecei a praticar pilates e hoje tomei gosto pelo exercício físico. Ganhei qualidade de vida", diz.

Desde que Irene e o ortopedista José Arthur Coelho de Aguiar se conheceram, há mais de 10 anos, criaram uma parceria de admiração."Não costumo ser um médico invasivo. Têm casos de atletas e músicos que chegam ao meu consultório, com problemas como hérnia na coluna, bursite e tendinite, que acabo encaminhando à Irene. Às vezes, ela orienta uma simples correção postural, sem necessidade de cirurgias ou medicamentos". Para o médico, são ajustes valiosos que valem para uma vida toda. "Uma grande maestrina que nos ensina a movimentar e afinar os instrumentos (músculos, tendões e articulações), tornando o dia a dia mais leve e livre de tensões", afirma.

A história de Irene Ziviani com o movimento nasce de uma escoliose identificada ainda na infância, na década de 1960. Para corrigir o desvio, é levada pela mãe para a prática da dança no Ballet Ana Lúcia Carvalho, tradicional escola de Belo Horizonte. "Dançar trouxe uma base segura para que eu pudesse construir a minha trajetória como artista e professora. Exige muita disciplina, mas oferece muitas possibilidades como equilíbrio, não só físico, mas também emocional", garante.

Pioneiros 

Aos 17 anos, quando já dava aulas, Irene conhece os bailarinos Klauss Vianna e Angel Vianna. Pioneiros da expressão corporal no Brasil, o casal modifica a forma de Irene abordar o movimento. "klauss trouxe o estudo da anatomia para dentro da sala de aula. Para ele era importante que os bailarinos conhecessem com profundidade o próprio instrumento de trabalho". Entre os ensinamentos de Klauss, o movimento deveria iniciar no centro do corpo, onde reside a memória inteligente, e só então ser projetado no espaço. "Ele falava muito da importância dos ossos para impulsionar o movimento através das articulações. Também falava do sorriso das clavículas, do sorriso do joelho. Ele dizia: 'mas é só um sorriso e não uma gargalhada porque a gargalhada compromete o espaço nas articulações' ", lembra.

Nos anos 1960 surgem, no Brasil, diversas técnicas de consciência corporal, frutos de uma nova mentalidade que percorre o mundo e tenta derrubar as fronteiras estabelecidas desde a Renascença, nas artes cênicas. "Essas pesquisas emprestam, pela primeira vez, no ocidente, voz aos dançarinos e despertam nos atores de teatro a consciência de que não são apenas voz, mas voz e corpo em movimento a serviço da expressão artística", contextualiza o diretor João das Neves em texto escrito sobre Irene. Falecido há 4 anos, o artista (ex - Grupo Opinião) conheceu Irene logo que se mudou para Belo Horizonte e foi um dos frequentadores de suas aulas. "Um corpo jamais será o mesmo depois de passar pelas mãos de Irene Ziviani. Como costumo afirmar, o seu é um trabalho delicadamente violento. Música e movimento se fundem, confundem e abrem caminho para a espontaneidade criativa", conclui.

Assim como João, outras gerações de artistas também foram alunos da educadora, como os atores Benjamim Abras e Rodrigo Jerônimo, a artista plástica Leonora Weissmann e a cantora Titane, que segundo Irene "está presente em todos os momentos. Acredita no meu trabalho e se submete a ele, consciente da existência de uma relação intrínseca entre voz e corpo", afirma.

Serviço

Lançamento presencial do livro Articule-se
3 de dezembro, sábado - 11h30 às 14h30
Livraria Scriptum - Rua Fernandes Tourinho, 99 - Savassi - BH/MG
Entrada gratuita
Venda no local e pelo site da editora Scriptum
www.livrariascriptum.com.br


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