Laço Setembro Amarelo

Estado registou 12.645 casos de morte por lesão autoprovocada entre 2011 e 2020, ficando atrás apenas de São Paulo no ranking

Freepik/Divulgação

Dados do DataSUS, plataforma do governo federal que concentra informações relativas à saúde no Brasil, revelam que as mortes por suicídio entre 2011 e 2020 aumentaram 35% no país. Minas Gerais aparece em segundo lugar no ranking dos estados com o maior número de ocorrências. Por aqui foram registrados 12.645 casos no período analisado no levantamento. São Paulo lidera com 20.667 óbitos por lesão autoprovocada. Rio Grande do Sul (11.342), Santa Catarina (6338) e Paraná (6218) ocupam, respectivamente, a terceira, quarta e quinta posição.

 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio é a segunda maior causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos, além ser considerado um assunto extremamente complexo e multifatorial, já que pode afetar qualquer indivíduo. Entretanto, alguns fatores influenciam no aumento de ocorrências, como afirma a psicóloga do Hospital Semper, Clícia Nascimento. "Crises políticas e econômicas, desemprego em massa, maiores exposições a agrotóxicos, surgimento ou agravamento de doenças crônicas, epidemias, pandemias, entre outros motivos podem ser elencados", afirma.

 

Porém, apesar de a pandemia ter causado impactos na saúde mental da população, os números de casos de depressão e suicídio, felizmente, não explodiram no Brasil com a chegada da Covid-19. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2021, o aumento foi de 0,4% em 2020.

 

Assunto ainda é visto como tabu

 

Outro ponto importante a se analisar sobre o tema é o fato de que ele ainda é visto como um tabu por grande parte da sociedade. De acordo com Clícia, o medo de se falar sobre suicídio pode estar relacionado a dois outros assuntos complexos. "Um deles é que as conversas sobre a 'morte' ainda são vistas e tratadas com muita censura na nossa cultura.

Outra questão é que o estigma social que envolve o adoecimento psíquico e os transtornos mentais podem inviabilizar que o sujeito compartilhe suas dores e angústias com terceiros, dificultando, assim, a busca por atendimento profissional", explica a psicóloga acrescentando o fato de que o suicídio não deveria ser considerado um tabu, já que é um problema de saúde pública, capaz de causar impactos na sociedade como um todo. "A negligência acerca da questão pode corroborar para o agravamento dos sintomas depressivos no sujeito que sofre com o problema", completa.

 

Apesar de não existir um manual prático de prevenção ao suicídio, devido às suas diversas motivações, alguns comportamentos podem ser identificados como sinais. Quadros depressivos recorrentes, aparecimento ou agravamento de problemas, mudanças de comportamento, abuso de substâncias químicas, isolamento, autoagressão, sentimento de culpa e pensamentos negativos são indícios que devem ser vistos com atenção. "Muitos casos poderiam ser evitados se as pessoas tivessem acesso a informações de qualidade e ao tratamento adequado", pontua Clícia.

Ela explica a dinâmica do tratamento de alguém que apresenta adoecimento psíquico capaz de levar ao suicídio. "O tratamento envolve acompanhamento psicológico, tratamento e acompanhamento psiquiátrico. Quando necessário associa-se o uso de psicofármacos e outras áreas da saúde, bem como uma boa rede de apoio da família e amigos, que possuem papel fundamental antes, durante e depois do tratamento, pois fornecem suporte emocional", complementa.

 

Leia também: Setembro Amarelo: é preciso falar sobre suicídio 

 

Por fim, a psicóloga do Hospital Semper enfatiza que falar sobre o suicídio é de extrema importância, e a campanha Setembro Amarelo é apenas uma representação de algo muito maior e sobre a qual devemos ter empatia e olhar cuidadoso todos os dias do ano. "Hoje contamos com diversos canais que auxiliam àqueles que precisam de acolhimento e orientações direcionadas. Temos o Centro de Valorização da Vida (CVV), no número 188, com ligação gratuita, e as unidades básicas de saúde, que podem auxiliar nesses momentos. É importante frisar, contudo, que para atendimentos pós-tentativa de suicídio, é necessário acionar o serviço do SAMU, Corpo de Bombeiros e até mesmo as Unidades de Pronto-Atendimento de Hospitais", comenta.