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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Saúde mental e política: a representação do ódio na psique humana

Em ano de eleições, como os discursos governamentais e a forma como as políticas são conduzidas afetam emocionalmente uma parcela da população


18/08/2022 13:30 - atualizado 18/08/2022 13:36

estátua O Pensador
Os discursos governamentais e a forma como as políticas podem trazer danos irreparáveis para uma parcela da população, é preciso pensar a respeito (foto: Alexandria/Pixabay )
Existem muitos fatores que afetam a saúde mental das pessoas e, cada vez mais, a polarização política acarreta danos aos relacionamentos, chegando, por vezes, a  ameaçar a liberdade do indivíduo. Como a psicanálise vê este embate de lados políticos? Quais são exatamente os desafios que trazem à saúde psíquica do cidadão?

A psicanalista, membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano, doutora em psicologia pela PUC/SP e publisher, Fernanda Zacharewicz, da Aller Editora, traz algumas obras que ajudam os analistas e todos aqueles que se interessam pelo tratamento criado por Freud,  a entender como esses embates as afetam.


Psicanálise e pandemia

Esta obra traz uma perspectiva bastante incomoda: a da necropolítica. Antes mesmo da pandemia do COVID-19, o Brasil já mostrava seus discursos de ódio, manifestações de preconceito e desrespeito com as pessoas. As últimas eleições foram marcadas por esses temas, a aniquilação dos diferentes e o descaso com minorias. E todas as falácias rancorosas, evidenciadas na cultura do espetáculo das redes sociais, acabaram por estimular o comportamento violento e furtar (pelo medo) o direito de as pessoas se expressarem, o que para Freud é um caminho danoso para se trilhar dentro da psique humana.

A psicanalista e publisher, Fernanda Zacharewicz
A psicanalista e publisher, Fernanda Zacharewicz, indica obras que ajudam todos aqueles que se interessam pelo tratamento criado por Freud, a entender como embates políticos afetam as pessoas (foto: Fernanda Zacharewicz/Divulgação)
Diante dessa abordagem, Fernanda expõe que o trabalho em uma análise trata justamente que o sujeito possa reconhecer sua singularidade e como relacionar-se com os outros contando com esse seu traço próprio. "Estar inserido em uma sociedade onde a diferença é o incômodo, o que deve ser apagado ou até mesmo destruído tanto profundos danos à saúde mental do cidadão como também põe em risco sua integridade física ao incentivar discursos de intolerância ou realocar verbas para projetos que apoiam o ódio à diferença."  
Políticas de empobrecimento, incentivo à violência e à discriminação aumentam exponencialmente a sensação e insegurança dos habitantes dos grandes centros urbanos. Neste livro, os autores apontam o possível adormecimento do pensamento crítico dos cidadãos, tornando menos penoso à existência no atual contexto histórico, mas, simultaneamente, há uma automatização da própria vida. Vive-se pela metade, como morto-vivo. A partir de um olhar ora político, ora psicanalítico, ora artístico, mas sempre contextualizando sobre o simbólico dos corpos sem alma, os textos reunidos esmiúçam o conceito de decomposição para revelar o que há de comportamento zumbi nas relações humanas (ou desumanas).

capa do livro
Livro: Ensaio sobre mortos-vivos (foto: Aller Editora/Divulgação)
Fernanda aponta que é parte inerente à vida humana a construção de vínculos sociais criando uma comunidade na qual o sujeito possa sentir-se seguro para descobrir e desenvolver suas habilidades. "A incerteza dessas condições, a permanente ameaça de violência e a exigência do mercado capitalista por resultados cada vez mais inatingíveis pode prejudicar fortemente a inserção do cidadão em sua sociedade. Essa marginalização pode ser exemplificada pelos aglomerados humanos que foram grupos com regras próprias e que se caracterizam pelo afastamento da vida pública, aqui podemos usar como exemplos os grupos de usuários de drogas ou os suntuosos condomínios fechados onde os economicamente mais privilegiados criam uma ficção de mundo ideal ao murar-se de seu entorno". 


Faces do sexual

A discussão sobre as questões de gênero está presente nas questões políticas de forma mais assídua nos últimos tempos. E a psicanálise não pode ser furtar desse debate. Com artigos de especialistas do mundo todo, esse livro discute sobre as identidades de gênero, o tratamento que se deu a elas durante a história da psicanálise (desde o caso Dora em Freud até o atendimento a candidatos à cirurgia de redesignação sexual) dando espaço para que a sexualidade humana seja compreendida em suas diversas expressões, abandonando a ideia do padrão heteronormativo. Com esse debate, a própria psicanálise incentiva e abre espaço em sua comunidade para que essa população encontre espaço de escuta livre de preconceitos.

Leia também: 
Saúde mental: prevenção e promoção melhoram qualidade de vida da sociedade


A psicanalista ainda complementa que a sexualidade é parte essencial da vida humana e compreender suas diversas expressões é respeitar cada sujeito desde sua singularidade.


Ato analítico e afirmação da vida

 livro
Livro: Psicanálise e pandemia (foto: Aller Editora/Divulgação)
A postura de negação da existência do vírus da COVID-19 e a resistência em aderir às medidas de prevenção, do governo federal durante a pandemia, contribuiu enormemente com milhares de mortes ocorridas no país. Essa dura realidade traz à ordem do dia os temas ligados à gestão da saúde pública. "Essa obra traz uma coletânea de textos frutos de um ano de debate entre psicanalistas sobre a importância decisiva de posicionar-se desde uma ética em que a vida humana seja sempre prioridade. Retoma, ainda, a perspectiva freudiana que aponta que a extrema fragilidade do momento vivido “conduz a um doloroso cansaço do mundo e a  uma rebelião contra o fato constatado”. Todo este cenário, traz uma resposta neurótica; o ressentimento e a culpabilização desenfreada do próximo."

Para finalizar, Fernanda ressalta a necessidade de "optar eticamente a cada escolha pois essas têm consequências que podem ser nefastas, como o vivido pelo Brasil no âmbito federal há mais de três anos. Optar eticamente fornece ao sujeito a possibilidade de redimensionar seu lugar no mundo e sua responsabilidade para com aqueles com quem compartilha a existência."



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