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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Superação de vício em games requer amparo e suporte familiar

Rede de apoio emocional ao jogador se torna essencial, associada ao tratamento definido por profissional da saúde mental


27/03/2022 04:00 - atualizado 28/03/2022 12:56

controle de jogo
Os principais sintomas do vício em jogos estão relacionados ao tempo, à intensidade e à prioridade que o game assume na vida da pessoa (foto: bohed/Pixabay)
Os principais sintomas do vício em jogos estão relacionados ao tempo, à intensidade e à prioridade que o game assume na vida de quem passa a substituir as relações com família, amigos, o trabalho, estudos e o lazer pelas horas dedicadas ao perigoso entretenimento.

Os fatores, listados pela psicóloga clínica Renata Mafra, coordenadora do curso de psicologia da Universidade Estácio Belo Horizonte, revelam distúrbio que tem mecanismo de funcionamento semelhante ao da dependência física/química.

 Renata Mafra
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 10/3/22)
 

Quanto ao tratamento, ela afirma que a rede de apoio ao jogador é fundamental, além do acompanhamento especializado. “A psicoterapia atuará nos aspectos comportamentais, afetivos e sociais, enquanto que a psiquiatria estabelecerá um tratamento medicamentoso de apoio aos sintomas de abstinência e de transtornos associados.

O suporte familiar e de grupos, como o Jogadores Anônimos, possibilita o encontro com pessoas que já passaram por períodos ou situações semelhantes e podem contribuir com suas histórias e estratégias de superação.”

A psicoterapia atuará nos aspectos do comportamento, afetivos e sociais, enquanto a psiquiatria estabelecerá o uso de medicamentos de apoio aos sintomas

Renata Mafra, psicóloga

 
 
Renata Mafra ensina que a dependência física está associada ao uso de substâncias psicoativas que agem no cérebro, repercutindo no psiquismo (as características psicológicas de cada pessoa)  e no comportamento. Essas substâncias atuam nas áreas ou circuitos de recompensa do cérebro, liberando a dopamina, que é um neurotransmissor associado à sensação de prazer.
 
O comprometimento provocado pelo vício em games pode ser ainda mais grave em crianças e adolescentes porque elas estão em processo de desenvolvimento, podendo ainda manifestar a síndrome de abstinência por meio de irritabilidade, insônia, ansiedade e tremores.

Para Renata Mafra, é essencial incluir no dia a dia delas a diversidade das atividades escolares, o esporte e o convívio social que possibilitam a evolução emocional e cognitiva.
 
“A dependência intervém sobre esse processo com consequências diversas: problemas de interação social, isolamento, alterações no sono, na alimentação, afetividade, sedentarismo, irritabilidade e baixo desempenho nos estudos”, explica. Caso os jogos tenham apelo à violência, há ainda uma sobrecarga de estresse com aumento na liberação de cortisol, além de alterações no comportamento.

Os pais ou responsáveis precisam estabelecer limites às crianças e adolescentes para evitar o contato nocivo com o mundo dos games. “A Sociedade Brasileira de Pediatria lançou um manual que estabelece o tempo de uso de tela adequado para crianças e adolescentes, inclusive os jogos. No entanto, existem pessoas mais predispostas à dependência e, no caso de jogos, estudos indicam que sejam do sexo masculino e aquelas com algum transtorno compulsivo ou personalidade impulsivas”.
 
Renata Borja
(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press %u2013 16/3/22)
 
 

Qualquer pessoa está sujeita a um vício de alguma forma

Renata Borja, psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental

 

Proteção

A boa notícia é que existem fatores protetores que contribuem para a prevenção, uma presença atenta e afetuosa da família, a prática de esportes, a limitação educativa no tempo de uso de tecnologias, as atividades ao ar livre.

Na avaliação da psicóloga Renata Borja, também especializada em terapia cognitivo-comportamental, o problema da dependência de jogos é o mesmo de qualquer outra forma de dependência e está relacionado ao que é conhecido como “recompensa desadaptativo”.
 
“Quando a pessoa tem uma emoção desconfortável, está chateada porque ocorreu algo ruim e, se, de repente, se sente bem ao jogar, a tendência é de que ela regule seu humor e se sinta bem com o jogo. Ela vai se distrair daquela emoção negativa, daquela frustração. Portanto, qualquer pessoa está sujeita a um vício de alguma forma”, alerta.
 
Fatores genéticos e biológicos também devem ser considerados, assim como outros transtornos dos quais a pessoa possa ser portadora, mas isso não significa que ela possa desenvolver o vício.

“Se ela criar um sistema de compensação das emoções com os jogos, estará mais susceptível. Mas o que todos deveriam saber é que temos esse sistema de recompensa para nos autorregular, mas ele pode ser usado de uma forma positiva ou negativa, funcional ou disfuncional”, ensina Renata Borja.

No campo da forma positiva, a psicóloga exemplifica situações em que uma atividade física melhora o humor e faz a pessoa se sentir melhor. Essa estratégia faz com que a pessoa crie um aprendizado, se ajuste e o corpo se autorregule. Renata Borja enfatiza que o problema não está nos games; está na forma como a pessoa usa o jogo.
 

Risco de trombose ronda os gamers 

 
Quem tem o hábito de ficar sentado ou deitado durante grandes períodos de tempo, sem movimentar as pernas, como é o caso dos jogadores de videogames, eleva o rico de contrair doenças vasculares, como a trombose. A preocupação cresce com a extensão desse perigo às pessoas da faixa etária de 15 a 24 anos, segundo 
Fabio Rossi, cirurgião vascular e presidente da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP)

Quando as pessoas permanecem imobilizadas por muito tempo, seja sentadas, seja em pé, ficam sujeitas ao processo da estase, o represamento do sangue nas pernas. “O sangue parado tende a se solidificar, formando o coágulo ou trombo. Isso significa um aumento do risco de trombose, que, atualmente, tem atingido também os jovens gamers que permanecem sentados por horas”, diz Fabio Rossi.
 
A doença ocorre quando há a formação de coágulo na circulação sanguínea, que prejudica o fluxo de sangue no organismo. Os coágulos também surgem com a trombose venosa profunda (TVP) e a embolia pulmonar (TEP).

Um dos principais mecanismos responsáveis pelo retorno do sangue venoso dos membros é a contração da bomba muscular da panturrilha, que, por sua vez, impulsiona a coluna de sangue de volta ao coração, e é prejudicada com a falta de movimento.
 
A trombose se manifesta com inchaço, edema, dor e arroxeamento nas pernas. Nos casos de embolia, são comuns dores no peito, tosse, falta de ar, palpitação e, em ocorrências mais graves, parada cardiorrespiratória e morte. “Nessas situações, é indispensável procurar um médico vascular.”

Fabio Rossi recomenda, como prevenção, que as pessaos evitem ficar longo tempo em uma mesma posição, seja em pé, deitado ou sentado; fazer pausas durante as partidas de videogame para movimentar os membros inferiores, com pequenas caminhadas e alongamentos ao longo do dia; praticar exercícios físicos regularmente; manter alimentação balanceada, sem o exagero de alimentos gordurosos; e ingerir bastante líquido.

“Não vale refrigerante, porque contém cafeína, que promove a diurese e pode provocar até mesmo a desidratação”, observa o cirurgião vascular. 
 

O QUE PODE DETERMINAR O VÍCIO

  • Falta de controle sobre o jogo, seja na frequência, intensidade, seja na duração
  • Baixa autoestima
  • Dificuldades de autocontrole
  • Impulsividade
  • Dificuldade de comunicação
  • Depressão
  • Timidez
  • Agressividade e irritabilidade
  • Ansiedade
  • Bullying
  • Sentimento de pertencimento ao mundo dos gamers
  • Ausência de lazer e atividade física

AS CONSEQUÊNCIAS

  • Compromete a socialização, tanto devido ao prejuízo nas relações pessoais quanto na escola ou na profissão
  • Ter necessidade de jogar cada vez mais
  • Sensação de sofrimento quando não estiver jogando
  • Deixar de tomar banho e escovar os dentes
  • Alteração do sono ou mudança de horário de dormir
  • Faltar às aulas, ao trabalho ou adiar tarefas
  • Opção pelo jogo em vez de se alimentar ou se alimentar somente em frente do computador ou da TV 


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