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Estado de Minas PESQUISA

Estudo indica diretrizes de atendimento a prematuros

Acompanhamento deve ser de pelo menos três anos com assistência de psicanalistas para intervir a tempo nas questões e nos riscos para saúde


12/12/2021 04:00 - atualizado 09/12/2021 11:56

Mulher grávida, deitada, com sapatinhos do bebê em cima da barriga
Estudo alerta para a atenção básica na rede pública aos bebês prematuros, que representam a principal causa de mortalidade no Brasil (foto: Marjon Besteman/Pixabay )
Pesquisa sobre prematuros aponta que, após o diagnóstico clínico, o atendimento básico deve durar três anos, no mínimo, com o devido acompanhamento de psicanalistas para perceber e intervir a tempo nas questões e nos riscos para a saúde psíquica dos recém-nascidos.

Mais do que números, o estudo é um alerta para a atenção básica na rede pública aos bebês prematuros, que representam a principal causa de mortalidade no Brasil. De acordo com a ONG Prematuridade.com, o Brasil ocupa a 10ª posição no ranking mundial de prematuridade, com cerca de 279 mil bebês prematuros por ano – 11,7% do total de nascimentos no país, procedimento que resulta na segunda causa de mortes de crianças com menos de 5 anos, perdendo apenas para a pneumonia. A maioria dos casos decorre de gestações na adolescência ou tardias, pré-natal deficitário e doenças maternas.
 
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), 15 milhões de bebês no mundo nascem todos os anos antes do tempo. O parto é considerado prematuro quando ocorre com menos de 37 semanas completas de gestação, ou 259 dias.

Centro de Apoio e Inclusão Social (Cais), em Contagem, apresentou os resultados do levantamento sobre atenção a bebês prematuros com quadro de debilidade e autismo. A pesquisa tem a chancela do Ministério da Saúde e aponta ações para otimizar o atendimento imediato, o que resultaria em economia substancial de verbas destinadas à saúde. Novembro Roxo é a campanha dedicada à conscientização da sociedade sobre o parto prematuro e a prematuridade.

POLÍTICAS PÚBLICAS 


Assinada pelas psicanalistas Cristina Abranches e Simone Hachem, a pesquisa, denominada “Riscos para a deficiência intelectual e no transtorno do espectro do autismo e a integração a tempo para bebês prematuros”, alerta para a necessidade urgente de implementação de políticas públicas voltadas ao atendimento precoce.

Cristina Abranches observa que a entrada de prematuros e de uma quantidade maior de crianças pequenas e de bebês egressos de UTI neonatal impactou todo o atendimento do Cais e permitiu algumas constatações clínicas que motivaram a pesquisa. Ela aponta como exemplo a percepção de que durante os encontros do programa Acompanhamento de Bebês observou-se que as crianças atendidas precocemente apresentavam uma evolução bem mais favorável em relação as que chegavam tardiamente.

Abranches estima que quanto mais precoce o atendimento, menor é o tempo necessário de acompanhamento. "Antes de atender os bebês, como fazemos hoje no Cais, tínhamos em média 12 anos de atendimento por criança. Para aqueles que chegam mais cedo, o tempo cai para um terço." A questão, segundo as pesquisadoras, é que há manifestações patológicas entre os 2 e 3 anos de idade e esse acompanhamento estendido, com uma intervenção a tempo, pode impedir que a patologia se instale ou se agrave.

SINAIS NO BEBÊ 


A escuta clínica, ainda segundo a psicanalista, foi outro fator de destaque, pois permitiu perceber alguns sinais no bebê que poderiam indicar um quadro psíquico que estava se desenvolvendo para uma posição autística ou mesmo uma posição débil, mesmo antes de se fechar um diagnóstico. “Muitas vezes, esses quadros psíquicos estavam associados a alguma intercorrência e a um comprometimento orgânico, mas em outros não era evidente”, diz Abranches.

Durante os levantamentos, verificaram-se diferenças marcantes no estado de saúde, nas habilidades cognitivas, no desempenho escolar e no comportamento, ao comparar crianças nascidas prematuramente com aquelas nascidas a termo. “Já em outros estudos percebia-se que as crianças prematuras teriam maior probabilidade em desenvolver os quadros de deficiência intelectual e transtorno do espectro autista. Esses foram os temas e desafios de estudos contemplados nessa pesquisa”, afirma.

Na realização da pesquisa foram avaliadas 384 crianças. Simone Hachem pontua que na análise dos resultados observou-se que a aplicação de qualquer um dos protocolos por si só não levaria ao encaminhamento do paciente, pois seria preciso a análise clínica decisiva, um diferencial para decidir qual o melhor encaminhamento e conduta clínica, protocolos que serviriam como um roteiro para balizar as observações e a análise clínica.

“Na análise do grupo de crianças que haviam recebido alta percebemos que no programa Acompanhamento de Bebês, constituído por crianças que chegam mais cedo, houve um maior efeito, com uma percentagem maior de autonomia e inclusão e taxa menor de crianças que ainda apresentam demanda para algum tipo de atendimento. Enquanto no Acompanhamento de Bebês encontramos 75,5% das crianças com autonomia e inclusão, no Núcleo de Intervenção Precoce, cujo objetivo principal é promover atendimentos especializados de acordo com a demanda de cada criança, foram 66,6%”, observa.
 

É IMPOSSÍVEL PREVENIR A PREMATURIDADE


Fernanda Natielly Fraga com seu bebÊ
A tatuadora Fernanda Natielly Fraga, de 23 anos, passou por uma gestação delicada. Foi necessário fazer dois pré-natais, um de alto risco, em função da asma crônica (foto: Arquivo pessoal )
De acordo com a coordenadora médica da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal da Maternidade Unimed-BH (Unidade Grajaú), Rosilu de Ferreira Barbosa, é possível prevenir a prematuridade. “O planejamento familiar e o pré-natal adequados são fundamentais para diminuir os casos. A gestante deve ser acompanhada desde o início da gravidez para evitar possíveis complicações e para que ocorra um parto adequado, tanto para a mãe quanto para o bebê”, explica.

O diagnóstico precoce da gravidez e o acompanhamento pré-natal regular e sistemático antecipam doenças e tratamentos, evitando prejuízos para a mãe e para o feto, bem como um nascimento antecipado. Diabetes gestacional, pré-eclâmpsia (aumento da pressão arterial na gestação), infecções maternas, tabagismo, gravidez gemelar, descolamento prematuro da placenta são algumas das condições que causam o parto prematuro.

“Quando o parto prematuro é inevitável, é necessário acolher esses frágeis e imaturos recém-nascidos em local apropriado, onde são esperados por uma equipe multidisciplinar para o cuidado especializado e gentil, baseado no manuseio e invasão mínimos, mas com tecnologia. O objetivo é promover crescimento e reduzir a chance de sequelas físicas e emocionais”, explica. A coordenadora da UTI Neonatal também defende a presença constante dos pais junto da criança. “Permitir que a mãe e o pai tenham livre acesso à criança é muito importante para um desenvolvimento mais rápido do bebê.”

A tatuadora Fernanda Natielly Fraga, de 23 anos, conta que passou por uma gestação delicada. Foi necessário fazer dois pré-natais, um de alto risco, em função da asma crônica. A pré-eclâmpsia, novo diagnóstico de hipertensão arterial ou de piora de hipertensão arterial preexistente, fez com que o bebê perdesse muito peso, e Sarah Carolina veio ao mundo na 26ª semana de gestação. Depois de permanecer quatro meses no Centro de Terapia Intensiva, a criança recebeu alta e foi encaminhada ao Cais.

“Fiquei encantada com o tratamento a nós dispensado. Aqui encontrei o apoio e a atenção necessários para mim, minha filha, meu pai e minha mãe. Não teria como bancar tantas especialidades indispensáveis, como acompanhamento neurológico, sessões de fisioterapia e psicólogos. O apoio dessas pessoas tem sido fundamental para toda a família”, afirma.


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