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Estado de Minas BASTIDORES

Como a maior crise militar desde a redemocratização do Brasil foi debelada

Após ampla articulação para controlar turbulência entre membros das Forças Armadas e poder civil, ministro da Defesa garante: "está totalmente pacificado"


29/01/2023 04:00 - atualizado 29/01/2023 10:14

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, com Tomás Paiva, escolhido para assumir o comando do Exército por seu perfil legalista (foto: YouTube/Reprodução - 21/1/23)

A semana que passou foi a primeira, depois de quase dois meses, em que as Forças Armadas deixaram de ocupar as manchetes do noticiário. Não há mais acampamentos golpistas na frente de quartéis nem sinais de insubordinação na tropa.

Os novos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica assumiram a defesa da legalidade e trabalham para que suas corporações retomem as tarefas constitucionais, afastando da caserna as paixões políticas.

Militares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro foram afastados — ou deixarão seus cargos nos próximos dias. A mais grave crise envolvendo militares e o poder civil desde a redemocratização do país está sendo superada pela política.

Este fim de semana é o primeiro em que o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, consegue, efetivamente, descansar após os tormentosos dias que culminaram nos atos de 8 de janeiro. À reportagem, José Múcio confirmou a virada no clima. “Espero que todos os meus fins de semana sejam tranquilos a partir de agora”, disse ele, após assegurar que o ambiente nas Forças Armadas “está totalmente pacificado” porque as instituições militares “sabem o papel que desempenham como instrumento do Estado brasileiro”. “Nós estamos confiantes de que as relações com as Forças Armadas serão cada vez mais tranquilas, em prol do país.”

A crise, deflagrada após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para presidente da República, só começou a ser debelada com a entrada em cena do político pernambucano que viria o ser o ministro da Defesa. No começo de dezembro do ano passado, ele abraçou a missão dada pelo então presidente eleito de pacificar as relações entre  militares e o novo governo que seria instalado. Sob desconfiança do próprio entorno de Lula – mais ligado ao PT –, José Múcio foi o primeiro nome escolhido pelo novo governo que começou a trabalhar como ministro antes de tomar posse.

troca de comando no Exército, na Marinha e na Aeronáutica foi marcada por percalços, chás de cadeira e gestos mal-educados. Mas José Múcio traçou uma estratégia: era preciso isolar os bolsonaristas radicais e atrair o que ele costuma chamar de oficiais legalistas, perfil no qual os novos comandantes deveriam se encaixar, independentemente de preferências políticas.

As primeiras tentativas de organizar a transição fracassaram. Os três chefes das Forças decidiram deixar os cargos em 22 de dezembro, para não ter que bater continência ao presidente eleito. O movimento foi interpretado como  insubordinação ensaiada, cuja intenção era expor a insatisfação fardada com a eleição de Lula.

O então comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Junior foi o primeiro a distensionar o diálogo. Decidiu não aderir ao movimento dos colegas e confirmou sua permanência no cargo até a designação do sucessor. Em 2 de janeiro, ele passou o posto para o tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno, em uma solenidade que teve a presença de José Múcio, que só assumiria formalmente como ministro horas depois. A sucessão na FAB foi a mais tranquila.

Quem travou qualquer possibilidade de diálogo com o novo governo foi o ex-comandante da Marinha almirante Almir Garnier Santos. Ele simplesmente recusou-se a conversar com José Múcio e nem sequer participou da cerimônia de posse do escolhido de Lula, almirante Marcos Sampaio Olsen. Deixou o posto de comandante à meia-noite de 31 de dezembro, poucas horas antes da posse de Lula. O clima pesado entre os dois só se desfez depois que o almirante se mostrou arrependido, após a posse de Olsen. 

FATOR EXÉRCITO 


O então comandante do Exército general Marco Antônio Freire Gomes foi convencido a permanecer no cargo até o fim do ano. E assim o fez, passando o posto para o general Júlio Cesar de Arruda às 11h do dia 30, antevéspera da posse de Lula. Para o futuro ministro José Múcio, a sucessão no topo da cadeia de comando das Forças Armadas estava equacionada.

O general Arruda era visto como uma pessoa “afável e educada”, e manteve uma relação de cordialidade e respeito com o ministro Múcio nos poucos dias em que ficou à frente do posto. O problema é que o general se recusava a retirar os acampamentos da frente dos quartéis. Os atentados terroristas de 8 de janeiro atropelaram a tolerância do presidente Lula com o comando do Exército. A exoneração de Arruda começou, então, a ser discutida.

A gota d'água foi a postura corporativista do general, que se recusou a revogar a nomeação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente Bolsonaro, para a chefia do 1º Batalhão de Ações e Comandos, sediado em Goiânia. Ele terminou exonerado.

O que ajudou foi o discurso, dias antes, do então comandante militar do Sudeste, Tomás Miguel Ribeiro Paiva, em um evento. “Quando a gente vota, tem que respeitar o resultado da urna. Não interessa. Tem que respeitar (...). Esse é o papel de quem é instituição de Estado”, declarou Paiva. “Alguém me arrume o telefone desse cara”, pediu José Múcio a assessores.

 Com credenciais para o posto máximo do Exército, como mais antigo na linha sucessória, Paiva recebeu o convite de Lula, a quem pediu voto de confiança “para trazer o seu pessoal de volta”. Na primeira missão, convenceu Cid a abrir mão do cargo.  



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