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Estado de Minas ELEIÇÕES 2022

MG: cidade onde Bolsonaro teve maior vantagem em 2018 espera nova vitória

Em Perdigão, Centro-Oeste de Minas, o então candidato do PSL teve em 2018 72% dos votos no 1º turno


02/10/2022 06:00 - atualizado 01/10/2022 20:41

Rua no Centro de Perdigão, Centro-Oeste de MG
Na pequena e pacata Perdigão, PT nunca levou a melhor nas eleições presidenciais (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Em 2018, nenhum município mineiro deu, proporcionalmente, mais votos a Jair Bolsonaro (PL) do que Perdigão, no Centro-Oeste do estado. A pequena cidade de cerca de 12 mil habitantes liderou a lista das mais bolsonaristas no primeiro e no segundo turno da disputa contra o petista Fernando Haddad e, às vésperas do pleito que pode definir a permanência do atual presidente ou o retorno de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Palácio do Planalto, o cenário não parece distante do que aconteceu há quatro anos. 
 
Moradores contam sobre a expectativa para as eleições na cidade e se dividem entre quem acha que Bolsonaro mantém a votação expressiva de 2018 e quem avalia que o presidente segue levando a melhor, com uma vantagem mais apertada. Mas a aposta é na vitória do candidato do PL. Em comum, uma aversão aos candidatos petistas, que pode ser registrada no histórico das disputas eleitorais da cidade.
 
Na última eleição presidencial, Bolsonaro teve 72,13% dos votos de Perdigão no primeiro turno, maior marca de Minas. No segundo turno, o então candidato pelo PSL foi a escolha de 83,39% dos eleitores perdiguenses, novamente recorde estadual. Entre os apoiadores do presidente que acreditam que os números se repetirão em 2022 está o representante comercial José Naves. “Acho que a cidade está até mais fechada com Bolsonaro. Nosso prefeito foi bem-aceito pelo povo e ele é bolsonarista. O povo lembra demais do que o Lula fez no Brasil, muito desgaste, muita covardia”, avalia. 
 
José Naves - Perdigão
José Naves, eleitor de Bolsonaro em Perdigão: %u201CAcho que a cidade está mais fechada com Bolsonaro%u201D (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
 
 
A oposição a Lula é um argumento recorrente na cidade, bem como a aprovação de pontos comportamentais do presidente, como no caso do motorista Wenderson Junior: “Todo mundo da cidade diz que vai votar nele de novo. O pessoal está avaliando bem o governo, ele é linha direta, não tem esse negócio de ficar rodeando. Ele pôs a mão nos cofres e não deixou ninguém roubar. Por enquanto ele tem meu voto de confiança”, diz.
 
Wenderson Júnior - Perdigão
Wenderson Júnior, confiante na vitória: %u201CTodo mudo duz que vai votar nele (Bolsonaro) de novo%u201D (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
 
 
Mas há também quem acredita que Bolsonaro não deve repetir o mesmo sucesso na cidade. O presidente da Câmara Municipal de Perdigão, o vereador Juninho Cearense (Avante), cita uma pesquisa informal feita pelo prefeito Juliano Lacerda (Avante) para estimar uma vitória mais apertada para o candidato à reeleição. “Eu acho que a margem não vai ser a mesma, vai ser menor um pouco. O prefeito fez uma pesquisa há dois meses e o Bolsonaro estava com 46% e o Lula com 22%. Lula aumenta a porcentagem dentro da fábrica dele, ele tem uns 400 funcionários”, disse o vereador. Para Juninho, a perda de votos em redutos bolsonaristas pode influenciar no cenário nacional das eleições: “É de se preocupar, a gente que apoia o presidente acha que é preocupante. Acho que os operários mudaram o voto”.
 
Juninho Cearense - Perdigão
Para o vereador Juninho Cearense, Bolsonaro vence, mas %u201Ca margem vai ser menor um pouco%u201D (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
 
 
A comerciante Luciana Brandão, que trabalha em uma loja de produtos agrícolas, compartilha da mesma impressão do presidente da Câmara Municipal. Analisando o fluxo de clientes, ela conta que tem ouvido mais pessoas declarando voto em Lula “Já vi gente que veio aqui na loja e disse ‘eu voto no Lula e eu voto com muito prazer’. Eu fico calada, porque a gente está no comércio, não pode discutir. Em questão de política, futebol e religião, cada um tem o seu, então a gente respeita. Eu tenho escutado isso principalmente de pessoa humilde, pessoa que não sabe nem o que está acontecendo ali em São Paulo, nem em Belo Horizonte”, conta a vendedora, que se diz apreensiva com o cenário, apesar de achar que Bolsonaro ainda é preferência da maioria na cidade.

Luciana Brandão - Perdigão
A vendedora Luciana Brandão diz que tem ouvido mais pessoas falando que vão votar em Lula%u201D (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)

PT nunca ganhou em Perdigão

Desde a redemocratização, o Partido dos Trabalhadores teve candidatos à Presidência entre os dois mais bem votados no país em todas as eleições. Foram oito disputas, tendo o PT levado a melhor na metade delas, algumas com votações vitoriosas mesmo em cidades de regiões historicamente avessas ao partido, como o Sul de Minas. Em Perdigão, no entanto, há uma constante: os candidatos que se opuseram aos petistas levaram a melhor em todas as votações.
Perdigão tem como atividade econômica mais relevante a indústria de calçados, a exemplo da cidade limítrofe, Nova Serrana, principal centro do polo calçadista do estado. Essa não é a única característica que os municípios vizinhos têm em comum. Em Nova Serrana, o PT só venceu nas disputas presidenciais em 2002, quando Lula levou a melhor sobre José Serra (PSDB) por menos de um ponto percentual no segundo turno. Além disso, as duas cidades são destino de muitos migrantes do Nordeste do Brasil e do Norte de Minas, que chegam na região à procura de empregos nas fábricas.
 
“Toda vez que eles vão lá no Nordeste, vai um e voltam uns dez”, afirma Edson Amaral, que trabalha em uma oficina de reciclagem em Perdigão. No último censo, realizado pelo IBGE em 2010, 7,5% da população de Nova Serrana vinha de estados nordestinos, o maior percentual entre pessoas vindas de outros estados do Brasil. A chegada de trabalhadores de regiões que historicamente votam no PT não faz efeito nas urnas do Centro-Oeste mineiro.
 
O cenário antipetista de Perdigão foi terreno fértil para o candidato de oposição ao PT em 2018. A cidade, aparentemente, não dá indícios de ser a mais visceral apoiadora do presidente. Há poucas bandeiras do Brasil e as raras propagandas políticas vistas pela cidade não são do partido de Bolsonaro e nem trazem nomes ou o rosto de lideranças bolsonaristas do estado. Embora tenha sido a maior votação de todo o estado, proporcionalmente, os números de Bolsonaro em Perdigão não são muito diferentes dos de Aécio Neves (PSDB) em 2014. Se o atual presidente teve 83,39% dos votos no segundo turno, o tucano teve 79,76% quando perdeu a disputa para Dilma Rousseff.
 
Em um galpão repleto de materiais recicláveis, Edson Amaral conta que manterá voto em Bolsonaro em 2022 e dá relato que exemplifica como é difícil que o PT se infiltre no eleitorado da cidade. “Tem gente que fala que vai votar no Lula porque no tempo dele tinha carne e não faltava uma coisa e outra na mesa. Acho que este ano a turma está mais dividida.Tem esse boato que o Bolsonaro comprou não sei quantas casas aí, que também pode atrapalhar ele. Mas eu mantenho meu voto para não ir para o Lula. Se cair na mão do Lula vai ser igual era antes, ele o tempo todo roubando. Falam que não foi provado, mas é porque lá em cima tem o bolinho dele lá, puseram um pano por cima”.

Pandemia

Se, em boa parte do país, o presidente é muito criticado pela gestão da pandemia, o elevado número de mortes e falas se opondo ao isolamento social e à eficácia das vacinas, em Perdigão o impacto da COVID-19 é apresentado como um motivo para votar pela reeleição. “Se a gente parar para pensar, o Bolsonaro por exemplo, ele pegou tudo de ruim. Ele pegou uma guerra, pegou uma pandemia. Como que ele ia resolver isso tudo? Eu acho que ele merecia a segunda chance”, disse a comerciante Luciana Brandão.
 
Para o motorista Wenderson Junior, a sensação é a mesma: “Se ele for reeleito, vai fazer um bom governo, nesse agora ele não conseguiu trabalhar como queria por que veio crise, veio a pandemia, ele não teve culpa, não teve como fazer um bom governo”.

Religião

Em 2010, segundo o último censo do IBGE, cerca de 83% da população de Perdigão era católica, enquanto os evangélicos eram 16% dos habitantes. Passada mais de uma década, a percepção dos moradores aponta para uma realidade bem diferente. “O cenário mudou demais desde 2010, acho que aumentou uns 50% da população evangélica no município. Se não for a metade, tem mais evangélicos que católicos e esse voto no Bolsonaro ninguém tira, não”, calcula o presidente da Câmara Municipal, Juninho Cearense, que é vereador da cidade pelo terceiro mandato consecutivo.
 
Uma percepção superficial da cidade tende a corroborar com a fala do vereador. Em uma rápida caminhada pelo Centro de Perdigão é possível constatar ao menos quatro igrejas protestantes de diferentes denominações. Entre evangélicos e católicos, temas caros aos cristãos também foram apontados como justificativa para o voto em Bolsonaro por moradores que conversaram com o Estado de Minas. Foi o caso da dona de casa Karine Lopes. “Muita gente não ficou satisfeita com o governo do Bolsonaro, mas mesmo assim ele vai ganhar. Acho que o percentual cai, no máximo, para uns 70%. Acredito que isso seja pelo fato de ter muita gente aqui ligada à família e o Lula ser a favor do aborto ajuda um pouco nessa questão aí”, analisa.


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