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Estado de Minas PANORAMA

COVID-19: Brasil muda 4 vezes de ministro em ano de recordes de mortes

Reportagem fez um levantamento do número de mortes pela COVID-19 a cada troca na gestão na pasta mais importante no enfrentamento à doença


23/03/2021 14:08 - atualizado 23/03/2021 16:12

(foto: Montagem EM/DA PRESS)
(foto: Montagem EM/DA PRESS)
A troca de comando no Ministério da Saúde ocorre no pior momento da pandemia no Brasil, quando o país registra 295.495 mortes no total e média diária de 2.306. O médico Marcelo Queiroga tomou posse da pasta, em cerimônia às portas fechadas, nesta terça-feira (23), em Brasília. O Estado de Minas elaborou levantamento do número de mortos no início e final de gestão de cada um dos ministros. Também elenca os posicionamentos dos gestores em relação a temas centrais no enfrentamento à pandemia, como vacinação, medidas de isolamento social e tratamento da doença.
 
O posto de pior gestão da pandemia - o Brasil é o país com maior registro de mortes diárias no mundo -  pode ser explicada  pelo o quê os números revelam. No entanto, por trás das estatísticas, está a mudança de comando na pasta, que deveria liderar o enfrentamento da doença.  Em um ano de pandemia, o governo Bolsonaro trocou quatro vezes de  ministro: Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich, Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga.
 
 
 
Às vésperas de completar um ano em que a Organização Mundial da Saúde declarou a COVID-19 uma pandemia, o Brasil assumiu a liderança no ranking global no número de mortes, ultrapassando os Estados Unidos, onde ainda está. 

Todo o Brasil assistiu às mudanças de comando em meio ao aumento nos números de casos e mortes, o que drenava as forças para discussões políticas quando o que deveria existir era um esforço de coordenação nacional da crise. O mais recente na pasta é o cardiologista Marcelo Queiroga, que assumiu o ministério na semana em que o país bateu tristes recordes: 2.842 mortes no dia 16 de março. 

As gestões têm sido envoltas em declarações polêmicas dos ministros numa relação tensionada entre seguir as determinações da ciência ou as ordens do presidente Jair Bolsonaro. Mas o mais danoso em relação às trocas no comando da Saúde são os números de casos e mortes, que apontam o total descontrole da pandemia - que fez inclusive que a imprensa internacional destacasse o medo em relação ao surgimento de novas variantes do vírus. 

Aumento de mortes por COVID-19 a cada gestão

Mandetta estava no comando pasta, quando a primeira morte foi confirmada e deixou, quando o novo coronavírus havia vencido 1.952 brasileiros. A média brasileira de novos casos era de 762 e 139 mortes por dia. Quando Teich entrou, a média de novos casos por dia era de  2.006 e a média de mortes por dia era de 155. Depois de desavenças sobre o uso de hidroxicloroquina e também de atitudes do presidente, pediu para deixar o cargo. Quando saiu, a média de casos e de mortes era cinco vezes maior - 10.485 casos e 706 mortes. Ao dar adeus, em 15 de maio, o Brasil totalizava 14.962 mortes e 220.291 casos .

Quando Pazuello assumiu interinamente, a média de novos casos por dia era de 11.046 e a de mortes de 715. Em 15 de março, quando foi demitido, a média de novos casos por dia era de 66.849 e a de mortes de 1.841. Quando deixou a pasta o Brasil totalizava 282.127 mortes e ultrapassava 11,6 milhões de casos. Marcelo Queiroga assumiu a pasta quando o Brasil atingiu 278.327 mortes e 11.483.031 casos.
 
O primeiro a ocupar o cargo de maior visibilidade da era Bolsonaro foi o deputado federal Luiz Henrique Mandetta, que já estava desde o início do governo, mas ganhou holofotes quando assumiu publicamente o enfrentamento da COVID-19, desde a confirmação do primeiro caso em 26 de fevereiro.
 
Em quase três meses, foram diversos os desencontros com o presidente que discordava, por exemplo, das orientações do ministro para adoção de medidas de isolamento social. Logo no início Mandetta apontou que o país passaria por estresse no atendimento, conforme declaração de 17 de março.

“Estamos imaginando que vamos trabalhar com espirais ascendentes entre abril, maio e junho. Passaremos de 60 a 90 dias de muito estresse e teremos sobrecarga." Em todas as coletivas, apareceu com o colete do Sistema Único de Saúde (SUS). Ao sair, em 16 de abril, destacou o papel do sistema público de saúde.  “Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar." 

Os avisos de Mandetta sobre a possibilidade de um colapso e a recusa, como esperava o presidente, de determinar a adoção da cloroquina como tratamento precoce fizeram com que Mandetta fosse substituído pelo médico Nelson Teich, que não ficou no cargo nem por um mês.  

Mudanças atrasam plano de vacinação nacional

Para o lugar de Teich, assumiu o general Eduardo Pazuello, que compunha a equipe do Ministério da Saúde. Ficou no cargo de forma interina por três meses e meio, quando assumiu definitivamente em 14 de setembro. Pazuello seguiu à risca as ordens de Bolsonaro. Um dos episódios que marcou sua gestão envolveu a Coronavac, vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. 

Em um enfrentamento ao governador João Doria, ao qual o instituto estava subordinado, o presidente desautorizou um memorando assinado em 7 de janeiro pelo ministro que previa a compra de 46 milhões de doses da vacina pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). Na ocasião, mostrou que fazia o que Bolsonaro determinava. Senhores, é simples assim: "Um manda e o outro obedece. Mas a gente tem um carinho, entendeu? Dá para desenrolar, dá para desenrolar". 

No tempo que esteve à frente do ministério, Pazuello passou por momentos polêmicos, como a denúncia de ter se omitido na crise de oxigênio nos hospitais de Manaus, que resultou na morte de centenas de pessoas por falta de atendimento. Também foram dirigidas a ele críticas em relação à falta e falhas no Plano Nacional de Vacinação contra a COVID-19. Quando apertado sobre quando o Brasil começaria a vacinação, quando a imunização já ocorria em 50 países, respondeu de forma vaga:  "A vacina vai começar no dia D, na hora H, no Brasil".  

Discordância entre ministros e presidente sobre enfrentamento 

Pazuello também foi muito criticado por apoiar o chamado “tratamento precoce”. No discurso de posse, em 16 de setembro de 2020, disse:  “O aprendizado [nesse tempo de enfrentamento da doença] nos mostrou que quanto mais cedo atendermos os pacientes, melhores são as chances de recuperação. O tratamento precoce salva vidas”. Até o último momento, ele negou a gravidade da crise no Brasil. Em 11 de março deste ano, para espanto dos governadores, afirmou: “Nosso sistema de saúde está muito impactado, mas não colapsou nem vai colapsar”.

Marcelo Queiroga, ao ser indicado em 15 de março, deu indícios de que não pretende contrariar o presidente Jair Bolsonaro. “O lockdown não pode ser uma política de governo." E completou: “Esse termo de lockdown decorre de situações extremas. São situações extremas em que se aplica. Não pode ser política de governo fazer lockdown. Tem outros aspectos da economia para serem olhados”. Enquanto isso, os números de mortes e casos seguem em alta no Brasil.


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