
Em seus discursos e ações, buscou um canal direto com a população a ponto de, por vezes, sinalizar a sobreposição do diálogo com os demais poderes. Sobretudo no início, o relacionamento foi conflituoso, em especial com o Congresso. No entanto, atores de ambos os lados, Executivo e Legislativo, fazem um balanço positivo do primeiro ano da gestão Bolsonaro. A leitura é de adaptação.
No Planalto, a visão é de que a promessa de fazer diferente na política prevaleceu. Enquanto governos anteriores adotaram mecanismos de loteamento de ministérios, estatais e autarquias por aliados políticos a fim de assegurar a governabilidade, a atual gestão apostou em um modelo diferente, de maior liberdade nas nomeações.
Para congressistas, foi uma forma de desprestígio a parceiros potenciais, que causou vácuo e omissão. Para o Executivo, foi uma maneira de prestigiar, não tutelar e manter a harmonia e independência entre os poderes.
Em comparação aos últimos dois anos ímpares – quando não há eleições e a produtividade costuma ser sazonalmente maior – o número é 17% sobre 2015, primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff, mas 7,8% inferior ante 2017, primeiro ano completo do ex-presidente Michel Temer.
Proposições
“O meio termo seria o presidente ter o poder de agenda e fazer valer esse poder, mantendo a liderança sobre a proposição dos debates”, analisa. No entanto, ele reconhece que o processo foi feito sem o loteamento de cargos. “Antes, percebia-se claramente quem tinha indicado quem, quem era quem; agora você não tem isso. É uma coisa positiva”, admite.
“A incontinência verbal do presidente é uma questão pessoal, mas ele não disse nada que caracterize crime de responsabilidade. Os excessos verbais só surpreendem quem nunca tinha conversado com ele. Eu o conheço desde 1991, e acho que continua o mesmo. É coerente, talvez até demais, mas só não podem dizer que mudou”, pondera.
“Não vou dar os nomes, mas, com exceção de Esperidião Amin, o prognóstico era de que o presidente ficaria sem condições de governabilidade. Eu disse absolutamente que ‘os problemas que está tendo é porque está fazendo uma forma de política diferente’. Ele vai sobreviver, e, se não tiver nenhum escândalo moral, vai governar. E, se nós ajudarmos, porque também estamos em uma democracia, nós vamos aprovar coisas importantes. É só olhar o que aprovamos ao longo do ano”, sustenta.
“2020 será mais sereno”, diz ministro
Por vezes visto como um poder sem articulação, o Palácio do Planalto faz boa avaliação do ano. “Ah, não tem articulação, dizem alguns. Imagina se tivesse. Passamos a reforma da Previdência, a MP da Liberdade Econômica e o pacote anticrime – ainda que um pouco alterado. Se há uma insatisfação é com a nova maneira de fazer articulação, franca, direta, baseada em critérios e princípios que os caras estão achando estranho”, defende o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos.

O articulador político do governo faz um balanço de que todos ainda estão se adaptando ao novo relacionamento. “O presidente é direto, impulsivo, mas conhece o Parlamento. Aí falam: o governo não diz o que quer. Diz sim. Creio que está havendo adaptação, é um movimento novo. Por isso, acredito que, em 2020, teremos muito menos embates”, analisa.
Fio da navalha
“Eu vou dar um exemplo. O cara quer um cargo muito valorizado. Chega e pede esse cargo técnico, que está comigo desde fevereiro, executando um bom trabalho. Vamos exonerar para botar um cara que um deputado ou senador quer? Temos procurado ter um meio termo. Muita nomeação ocorreu. Agora, há alguns cargos que, realmente, são muito técnicos para se desfazer”, explica.