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Estado de Minas

Câmaras Municipais propõem moções de repúdio à prova do Enem

Vereadores querem anular o exame por causa de questão sobre a frase da filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir - "ninguém nasce mulher: torna-se mulher"


postado em 31/10/2015 06:00 / atualizado em 31/10/2015 13:23

Vereadores repudiam pensamentos da filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir(foto: O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas )
Vereadores repudiam pensamentos da filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir (foto: O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas )

A questão do último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que cita uma célebre frase da filósofa e escritora francesa Simone de Beauvoir - “ninguém nasce mulher: torna-se mulher”, de seu livro O segundo sexo, de 1949 - segue rendendo polêmica. Duas Câmaras Municipais, de Sete Lagoas, na Região Central de Minas, e de Campinas (SP), propuseram moções de repúdio ao Ministério da Educação (MEC) por causa da prova, com pedido para que seja anulada.


A de Sete Lagoas deve ser votada semana que vem. O autor é o vereador Padre Décio (PP), que nega que tenha havido confusão entre igualdade e ideologia de gênero na proposta de repúdio. Segundo ele, a questão fala sobre igualdade de gênero, mas sua intenção é uma afronta à família, por passar nas entrelinhas a ideologia de gênero, recusada pelo Plano Nacional de Educação. O vereador, que também e formado em filosofia, disse que “conhece bem” a obra de Beauvoir, taxada por ele de “pedófila e nazista”. “Não tenho nada contra homossexuais e não aceito violência contra mulher, mas, como católico, não posso ser favorável a nada que destrua a família, como aborto, maconha e casamento gay”, disse o vereador.

Na última sessão da Câmara, a questão foi tratada como “maldita” por Milton Martins (PSC), um dos vereadores favoráveis ao protesto. Ela também contou com o apoio dos vereadores Pastor Alcides (PMDB), Gilberto Doceiro (PMDB) e Milton Saraiva (PP). A Câmara tem 17 vereadores.

“Demoníaca”
Em Campinass, a moção de repúdio foi aprovada na Comissão de Constituição e Legalidade da Câmaraa. A iniciativa foi do vereador Campos Filho (DEM), que classificou a questão como “demoníaca”. Segundo ele, o Enem foi buscar “informações com uma filósofa lá em mil trocentos para impor a nós a discussão de gênero. Como pode alguém ser um homem de manhã e mulher à noite?”, questionou. O relator da proposta, Henrique Cirilo (PSDB), disse que ela afronta a Constituição e o Plano Nacional de Educação, que rejeitou a inclusão da discussão sobre ideologia de gênero nos currículos das escolas.

Durante a sessão, cujo vídeo já viralizou na internet, os vereadores favoráveis ao projeto se revezaram na tribuna para criticar a “destruição” da família. Para eles, a questão trata da defesa do casamento gay e das relações homossexuais e não da defesa de direitos iguais para homens e mulheres, que foi o tema do Enem. A pergunta do exame pedia para o candidato caracterizar qual movimento social da década de 1960 foi influenciado pelo pensamento de Beauvoir. A resposta correta era “organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero”. Para o vereador Cid Ferreira (SD), a questão é um “desacato à sociedade brasileira”.

DESCOBRIRAM BEAUVOIR

 

Depois da prova do Enem em que a escritora Simone de Beauvoir (1908-1986) foi citada, o verbete do Wikipédia que trata da sua biografia sofreu quase meia centena de alterações e teve milhares de acessos. A maioria das mudanças traz ofensas à escritora, tida como uma das precursoras do movimento feminista em todo mundo, por isso novas alterações foram bloqueadas pelos administradores da página. Filósofa, escritora e feminista, Simone de Beauvoir (na foto com companheiro, Jean Paul Sartre) escreveu a tão discutida frase do Enem em seu famoso livro O segundo sexo, de 1949. Nele, ela defende que os traços associados à feminilidade - e que muitas vezes colocam as mulheres em condições inferiores aos homens - não são decorrentes da biologia, do nascimento e sim de imposições culturais machistas.

 

 


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