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Estado de Minas TRAGÉDIA NA SAÚDE

Em um ano, COVID mata mais no Brasil do que infarto e acidentes de trânsito

Pesquisa de professor do Insper indica números maiores do que doenças do coração, diabetes e Alzheimer também


25/03/2021 06:00 - atualizado 25/03/2021 07:54

UTI superlotada em hospital de Florianópolis: milhares de pessoas estão morrendo por falta de vacina e medidas de prevenção(foto: Eduardo Valente/Shoot/Estadão Conteúdo)
UTI superlotada em hospital de Florianópolis: milhares de pessoas estão morrendo por falta de vacina e medidas de prevenção (foto: Eduardo Valente/Shoot/Estadão Conteúdo)


Num cenário cada vez mais tenebroso, com hospitais lotados, pacientes morrendo nas filas de internações e falta de medicamentos para intubações, o Brasil mais uma vez uma atinge marca negativa em proporções aceleradas. Em pouco mais de um ano desde a primeira vida perdida, o país contabiliza 300 mil mortes por coronavírus e vê a doença se expandir por regiões, cidades menores e faixas etárias diferentes, colocando toda uma nação em alerta máxima. O problema ainda é agravado com o surgimento de novas variantes da COVID-19 vindas do Amazonas (B.1.128), do Reino Unido (B.1.1.7) e da África do Sul (B.1.351).

Com dados coletados até o dia 17 deste mês, um relatório feito pelo professor Thomas Conti, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), em parceria com o Ministério da Saúde, mostra que o coronavírus já é maior causa de óbitos entre os brasileiros. Em um ano de pandemia, o vírus matou quase o dobro que as doenças isquêmicas do coração (mais de 170 mil pessoas). A doença também fica à frente de óbitos por infarto (130 mil), diabetes (65 mil), Alzheimer (55 mil) e acidentes de trânsito (44,5 mil).

Seria como se a pandemia tivesse colocado fim às populações inteiras de 5.475 dos 5.570 municípios do país, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A marca seria equivalente ao público total do show da banda inglesa Queen no Rock in Rio de 1985, ou mesmo ao número de pessoas que foram às ruas nas manifestações populares em junho de 2013. O estrago feito pela COVID-19 no país é três vezes maior que a capacidade do Camp Nou, estádio do Barcelona, ou quase quatro vezes mais do que comporta o atual Maracanã. Por fim, a doença dizimou no Brasil seis vezes mais que a Guerra do Paraguai, no século 19.

"Não aprendemos nada com a pandemia. Toda a política foi errada ao apresentar a possibilidade de expansão de leitos. E expandir leitos não é conter vírus. Conter a doença seria ampliar testes, fazer barreira sanitária, fazer lockdown nacional"

Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina da USP, em Ribeirão Preto



Em 8 de agosto do ano passado, os brasileiros atingiram a marca de 100 mil mortos. Em 7 de janeiro deste ano, antes de iniciar o processo de vacinação em massa, o país ultrapassou as 200 mil vidas perdidas. Por fim, chegou aos 250 mil óbitos em 24 de fevereiro, num espaço de tempo cada vez menor. Muitos especialistas já afirmavam que março seria o auge da pandemia, com média superior a 2 mil óbitos diários.

No mês passado, o professor Domingos Alves, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto (SP), já havia apontado que o Brasil chegaria à marca de 300 mil mortes no fim deste mês. “Essa questão passou a ser aritmética simples. Não é necessário ter um modelo matemático exacerbado para fazer essas contas. Hoje, temos uma taxa de mortos por dia de mais de 2,2 mil em ascensão. A situação em que nos encontramos é ruim, e é muito rápido apontar quando chegaremos às 400 mil mortes. Será em um mês, até o fim de abril, provavelmente", afirma o professor ao Estado de Minas. 

A abundância de mortes ocorreu num contexto de mudanças no Ministério da Saúde e inexistência de medidas conjuntas de prevenção ao coronavírus feitas pela União, estados e municípios. Quatro ministros passaram pela Saúde desde a confirmação do primeiro caso, em 25 de fevereiro – Henrique Mandetta, Nelson Teich, Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga –, enquanto o Palácio do Planalto e vários governadores renunciaram ao distanciamento social.

Nas últimas semanas, vários estados ultrapassaram o percentual de 90% em ocupação de leitos de UTI. Por determinação do governo de Minas Gerais, todos os municípios foram obrigados a aderir à onda roxa do programa Minas Consciente e decretar toque de recolher, ainda que alguns prefeitos tenham resistido à medida. Araraquara, no interior de São Paulo, foi o único a adotar o lockdown, com fechamento até mesmo do comércio não essencial e intensa fiscalização nas ruas. E, mesmo assim, a incidência de casos no país cresce assustadoramente, com mais de 5,7 mil por 100 mil brasileiros.

Domingos Alves condena as ações feitas pelo país no enfrentamento à COVID-19 e pede maior atitude das autoridades: “A pandemia foi extremamente politizada no país. Em novembro, quase todos os cientistas já alertavam para a possibilidade do que observamos em março. De lá pra cá, nenhuma medida de conter a transmissão foi feita de forma efetiva. É muito comum você hoje ouvir falar que o maior problema é a nova cepa da COVID-19, que vem do Amazonas. Na verdade, a prevalência da variante é resultado de uma falta de controle da doença. Não houve barreiras sanitárias do Amazonas para os outros estados”.

“Não aprendemos nada com a pandemia. Toda a política foi errada ao apresentar a possibilidade de expansão de leitos. E expandir leitos não é conter vírus. Conter a doença seria ampliar testes, fazer barreira sanitária, fazer lockdown nacional”, complementa o professor da USP.

(foto: Arte Em)
(foto: Arte Em)


Situação de terra arrasada

Em abril do ano passado, o governo federal iniciou o pagamento de parcelas de auxílio emergencial para quase 70 milhões de be- neficiários. Entretanto, a inflação e o desemprego afetaram a crise econômica, ampliando o número de brasileiros à margem da pobreza. “Vivemos uma situação de terra arrasada. Ela começou muito antes, com a negação do presidente da República e dos ministros, que defendiam o discurso de que a pandemia passaria logo, que era apenas uma gripezinha. Além das mortes, a COVID-19 escancarou a disparidade, a vulnerabilidade e a pobreza extrema. É inacreditável que 35% da população ainda vê o Brasil conduzindo bem a pandemia. Um país contraditório como o nosso é um caldo péssimo”, afirmou o professor e infectologista Dirceu Greco, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e presidente da Sociedade Brasileira de Bioética.

Ele entende que as pessoas mais pobres são justamente as que estão em maior risco na pandemia: “Muitos falam que o vírus é democrático, porque atinge todas as pessoas. Mas isso não é verdade. Ele pode infectar igualmente todos, mas o risco e a gravidade estão relacionados à vulnerabilidade, que são as dificuldades inerentes à saúde, dificuldade de receber cuidados médicos e disse- minação. Tudo isso já estava ocorrendo e foi acentuado com a pandemia, chegando em seu descalabro agora, com um número alto de mortes”.

Mesmo com a aprovação das vacinas CoronaVac, AstraZeneca e Pfizer pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Plano Nacional de Imunização (PNI) caminha a passos lentos no país. Menos de 6% da população brasileira recebeu a primeira dose, o que faz o vírus ser transmitido facilmente. O plano do governo federal é imunizar 100% dos brasileiros somente no segundo trimestre de 2022. Até lá, muitos tendem a sofrer com internações e mortes, num verdadeiro caos no país.

“O Brasil vive uma barbárie mundial. Não podemos sair daqui tão cedo, nem mesmo para a América Latina. A visão que há é de que aqui está tudo descontrolado. Temos de falar de solidariedade aos profissionais de saúde e às famílias que perderam essas 300 mil pessoas. Hoje, pelo menos 1,5 milhão de brasileiros estão sofrendo com a morte, angústia e o processo em torno da doença. Nós atingimos um número intolerável e vergonhoso”, ressalta Greco.

Ministério divulga dados incompletos

O Brasil ultrapassou a marca de 300 mil mortes em decorrência da COVID, após registrar 2.009 novos óbitos pela doença nas últimas 24 horas. Ao todo, o país contabiliza 300.685 vidas perdidas. Os dados, divulgados pelo Ministério da Saúde, não têm as informações do Ceará, que por problemas técnicos na base de dados do sistema de informação não atualizou os números nessa quarta (24/3). A Região Sudeste foi a que registrou maior número de mortes nas últimas 24 horas, 761, sendo que só Minas Gerais teve 374 óbitos nesse intervalo, e São Paulo, 281. Em seguida, o Sul do país contabilizou 510 mortes; o Nordeste, 364; o Norte, 202; e o Centro-Oeste, 172. No mesmo intervalo, o país teve 89.992 novos registros da COVID-19, elevando o total de casos para 12.220.011.

O que é o coronavírus

Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.


transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.


A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.

Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia
  • Em casos graves, as vítimas apresentam:
  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal
  • Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus 

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.


Para saber mais sobre o coronavírus, leia também:


 
 


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