Jornal Estado de Minas

TRAGÉDIA

Incêndio em hospital para COVID-19 mata mais de 80 pessoas no Iraque



Pelo menos 82 pessoas morreram e 110 ficaram feridas na madrugada deste domingo (25) no incêndio de um hospital para pacientes com COVID-19 em Bagdá, uma tragédia que provocou a ira dos iraquianos, em um país com um sistema de saúde devastado.



O incidente foi causado por cilindros de oxigênio "armazenados sem respeitar as condições de segurança" no hospital Ibn al-Khatib de Bagdá, disseram fontes médicas à AFP.

"O Ministério do Interior anuncia a morte de 82 pessoas e 110 feridos no incêndio acidental" no hospital, informa um comunicado divulgado pela mídia estatal.

Muitas vítimas estavam sob ventilação mecânica quando os cilindros de oxigênio explodiram, causando um incêndio que se espalhou rapidamente, de acordo com médicos e bombeiros.

Um primeiro balanço, de fontes médicas, reportou 23 mortes e, posteriormente, um segundo, de uma fonte oficial, elevou para 53 mortes.

Esta tragédia gerou uma onda de raiva entre os iraquianos, depois que fontes médicas atribuíram a tragédia à negligência, muitas vezes ligada à corrupção endêmica que assola o país. "Renúncia do ministro da Saúde" era o assunto mais comentado no Twitter no Iraque.



O país de 40 milhões de habitantes tem um sistema de saúde precário, que nunca se recuperou de quatro décadas de guerra.

O primeiro-ministro, Mustafa Al Kazimi, anunciou três dias de luto nacional e a abertura de "uma investigação imediata", cujos resultados ele deseja "em 24 horas".

O primeiro-ministro suspendeu o chefe da saúde do leste de Bagdá, o diretor do hospital e os chefes de segurança e manutenção técnica. Eles estão sendo interrogados e ninguém - segundo ele - poderá ser libertado "até que os culpados sejam julgados".

- Sem proteção -

Explosão de cilindros de oxigênio foi a causa do incêndio em hospital do Iraque (foto: AHMAD AL-RUBAYE / AFP)


No meio da noite, quando havia dezenas de parentes com "trinta pacientes em uma unidade de terapia intensiva" reservada para os casos mais graves da covid em Bagdá, as chamas se espalharam pelos andares, informou uma fonte médica.



"O hospital não tinha sistema de proteção contra incêndios e os tetos falsos permitiram que o fogo se propagasse para produtos altamente inflamáveis", declarou a Defesa Civil.

"A maioria das vítimas morreu porque foram deslocadas e privadas de respiradores, e outras, sufocadas pela fumaça", acrescentou.

Vídeos postados nas redes sociais mostram bombeiros tentando apagar as chamas enquanto os doentes e suas famílias tentam deixar o prédio nos arredores de Bagdá.

Amir, de 35 anos, relatou à AFP que "salvou por pouco seus irmãos que estavam no hospital". "As pessoas se encarregaram de retirar os feridos", disse.

É um "crime", denunciou a Comissão governamental de Direitos Humanos. "Contra pacientes exaustos pela covid-19 que colocaram suas vidas nas mãos do Ministério da Saúde e que em vez de serem curados morreram nas chamas".



A Comissão apelou ao primeiro-ministro Mustafa al Kazimi para remover o ministro da Saúde, Hasan al Tamimi, e "levá-lo à justiça".

O mesmo foi exigido pelo presidente da República, Barham Saleh, e pelo chefe do Parlamento, Mohamed al Halbusi.

Por sua vez, a missão da ONU no Iraque expressou "sua dor" e se declarou "chocada" com a tragédia.

- População jovem -

Horas depois do incêndio, o Ministério da Saúde se gabou de ter "salvado mais de 200 pacientes" e prometeu "um balanço preciso de mortes e feridos mais tarde".

Mas até esta tarde, não deu mais informações.

O Iraque, um país com escassez de medicamentos, médicos e hospitais há décadas, superou na quarta-feira um milhão de casos de covid-19. Mas registra um número de mortos relativamente baixo, provavelmente porque sua população é uma das mais jovens do mundo.



Segundo o Ministério da Saúde, 1.025.288 iraquianos foram infectados desde o surgimento do novo coronavírus no país em fevereiro de 2020, dos quais 15.217 morreram.

Iraquianos lamentam corrupção que mata


O incêndio é, para os iraquianos, uma nova demonstração de que a má gestão e a corrupção estão matando o país.

Principal envolvido e "acusado", o ministro da Saúde, Hassan al-Tamimi, foi suspenso e colocado à disposição dos investigadores. Próximo do poderoso líder xiita Moqtada Sadr, Tamimi não publicou nenhuma reação após a tragédia no hospital Ibn al-Khatib.

Após o incêndio, que começou em cilindros de oxigênio "armazenados sem respeitar as condições de segurança", segundo fontes médicas, testemunhas e médicos garantiram à AFP que não era possível identificar muitos dos corpos carbonizados.



Um médico de Ibn al-Khatib disse à AFP, sob condição de anonimato, que "na unidade de terapia intensiva da covid não havia saída de emergência ou sistema de combate a incêndios".

Por isso, a evacuação foi lenta e dolorosa, com pacientes e parentes se empurrando nas escadas de serviço e doentes morrendo quando seus ventiladores foram abruptamente retirados para evacuá-los.

- Fumantes e visitantes -


Isso já havia sido denunciado em um relatório público sobre o setor da Saúde de 2017 e resgatado hoje pela Comissão governamental de Direitos Humanos.

Pior, o ministério do Interior anunciou que 7.000 incêndios ocorreram de janeiro a março no Iraque. Muitos deles, segundo autoridades e bombeiros, provocados por curtos-circuitos em lojas, restaurantes ou prédios cujos proprietários pagaram propinas para evitar a fiscalização.

"Foi a má gestão que matou essas pessoas", protestou o médico de Ibn al-Khatib, enumerando as muitas falhas no estabelecimento.

"Funcionários andam fumando pelo hospital onde os cilindros de oxigênio são armazenados. Mesmo na UTI, sempre há dois ou três parentes ao lado do leito do doente", denunciou. E "não é só em Ibn al-Khatib, é assim em todos os hospitais públicos" do país.



"Quando equipamentos quebram, nosso diretor nos diz para não relatar", contou uma enfermeira de outro hospital de Bagdá. "Ele diz que isso daria uma imagem ruim do estabelecimento, mas, na realidade, não temos nada que funcione", disse à AFP.

E até o presidente da República, Barham Saleh, admitiu no Twitter: "A tragédia de Ibn al-Khatib é o resultado de anos de enfraquecimento das instituições do Estado por meio da corrupção e da má administração".

Até a década de 1980, o Iraque era reputado no mundo árabe por seu serviço de saúde público gratuito e de alta qualidade. Hoje, seus hospitais estão dilapidados, suas equipes mal treinadas e o orçamento de saúde não chega a 2% em um dos países mais ricos em petróleo do mundo.



Os médicos contam as mesmas histórias há anos: colegas espancados, ameaçados de morte ou sequestrados por parentes de pacientes que morreram ou caíram sob o fogo cruzado de confrontos tribais ou familiares.

Os iraquianos preferem se submeter a operações e tratamentos no exterior, porque no Iraque a especulação explodiu os preços: do cilindro de oxigênio aos comprimidos de vitamina C, os preços triplicaram desde o início da pandemia.

Em 2019 e no início de 2020, os iraquianos protestaram contra a corrupção que custou ao país o dobro de seu PIB. Para eles, a decadência dos serviços públicos é resultado de anos de nepotismo e entendimento entre partidos políticos que operam em cartéis para se protegerem.

Além de Tamimi, o governador de Bagdá e autoridades locais foram suspensos e estão sendo interrogados.

Diante de líderes considerados "corruptos" e "incompetentes", os iraquianos há muito preferem se defender sozinhos.



Foram jovens, com a boca e o nariz cobertos por camisetas, que retiraram os feridos do hospital, os colocaram em ambulâncias e ajudaram os sobreviventes em meio à densa fumaça no Ibn al-Khatib.

O que é um lockdown?

Saiba como funciona essa medida extrema, as diferenças entre quarentena, distanciamento social e lockdown, e porque as medidas de restrição de circulação de pessoas adotadas no Brasil não podem ser chamadas de lockdown.



Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil

  • Oxford/Astrazeneca

Produzida pelo grupo britânico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, a vacina recebeu registro definitivo para uso no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No país ela é produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

  • CoronaVac/Butantan

Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a liberação de uso emergencial pela Anvisa.





  • Janssen

A Anvisa aprovou por unanimidade o uso emergencial no Brasil da vacina da Janssen, subsidiária da Johnson & Johnson, contra a COVID-19. Trata-se do único no mercado que garante a proteção em uma só dose, o que pode acelerar a imunização. A Santa Casa de Belo Horizonte participou dos testes na fase 3 da vacina da Janssen.

  • Pfizer

A vacina da Pfizer foi rejeitada pelo Ministério da Saúde em 2020 e ironizada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi a primeira a receber autorização para uso amplo pela Anvisa, em 23/02.

Minas Gerais tem 10 vacinas em pesquisa nas universidades

Como funciona o 'passaporte de vacinação'?

Os chamados passaportes de vacinação contra COVID-19 já estão em funcionamento em algumas regiões do mundo e em estudo em vários países. Sistema de controel tem como objetivo garantir trânsito de pessoas imunizadas e fomentar turismo e economia. Especialistas dizem que os passaportes de vacinação impõem desafios éticos e científicos.





Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia

Em casos graves, as vítimas apresentam

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal

Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus.

 

 

Entenda as regras de proteção contra as novas cepas



 

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.


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