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Estado de Minas PARALISIA INFANTIL

Vacinação contra a pólio perto do fim: os riscos de não levar seu filho

Tanto em BH quanto em Minas, mais de um terço das crianças menores de 5 anos ainda não foram aos postos. Autoridades fazem alerta sobre reintrodução da doença


28/09/2022 04:00 - atualizado 28/09/2022 10:07

William Xavier levou Mirela e Bernardo
William Xavier levou Mirela e Bernardo para conferir e atualizar o cartão de vacinas: "Depois que algo acontece, não adianta lamentar" (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.a press)

 

A três dias do fim da campanha nacional de vacinação contra a poliomielite, tanto em Belo Horizonte quanto em Minas Gerais, mais de um terço das crianças que deveriam ser imunizadas ainda não foram levadas aos postos. Distante, portanto, da meta de pelo menos 95% do público-alvo imunizado, indicada pelo Ministério da Saúde. Entre os mineiros de 1 a 5 anos, a cobertura está em 66,08%. Em Belo Horizonte, esse percentual está em 62,02%, segundo dados do governo federal.

 

A campanha contra a poliomielite, também conhecida por pólio ou paralisia infantil, vai até sexta-feira (30/9). Por enquanto, o governo federal não sinalizou com nova prorrogação, apesar de nenhuma unidade federativa do Brasil ter ainda batido a meta.

 

A vacina contra a pólio é administrada em dois formatos: injetável e em gotas. Aos 2, 4 e 6 meses de idade, a primeira  dose com vacina inativada é injetável. Aos 15 meses há o primeiro reforço com a vacina oral (duas gotinhas). Aos 4 anos, o segundo reforço, também em gotas.

 

Em Minas, segundo a Secretaria de Estado de Saúde, 1.045.371 crianças fazem parte do público-alvo, mas apenas 690.808 delas foram vacinadas. Segundo a coordenadora estadual do Programa de Imunizações, Josianne Dias Gusmão, a principal dificuldade para alcançar as famílias é a impressão que os adultos têm sobre a doença, tida como algo distante.

 

“A falsa impressão de que a pólio não vai voltar dificulta o avanço da campanha. O último caso no país foi em 1989, mas não quer dizer que nunca irá voltar. Por isso, devemos manter as taxas vacinais altas. Existem casos em outros países e, com a facilidade de viagens e imigração atuais, é perigoso pegar em um outro local e trazer para o Brasil”, explica a coordenadora.

 

Desde que o Ministério da Saúde prorrogou a campanha, no início de setembro, Minas passou a intensificar a recomendação para que as 28 unidades regionais de Saúde realizem busca ativa na comunidade, estendam os horários de funcionamento e promovam a vacinação fora dos centros de saúde.

 

BELO HORIZONTE Em situação semelhante à do estado, em Belo Horizonte, dos 104.132 moradores menores de 5 anos, apenas 64.590 receberam o reforço contra a pólio. Apesar disso, a cidade está entre as capitais com maior cobertura no país. Segundo o diretor de Promoção à Saúde e Vigilância Epidemiológica, Paulo Roberto Corrêa, desde meados de agosto, as autoridades municipais perceberam que a adesão estava baixa e iniciaram ações para tentar aumentar a cobertura.

 

“Fizemos vacinação em parques municipais, shoppings, escolas e aumentamos a disponibilidade de vacina para todos os postos da cidade. Houve retorno positivo, principalmente nos fins de semana nos shoppings, quando os pais costumam passear com os filhos. Mas isso não é suficiente, devemos chegar ao percentual de 95%”, diz, em referência à meta de cobertura. “É importante que os pais levem os filhos até o fim desta semana; caso contrário, fica para vacinar como rotina, com o dia que está marcado no cartão”, completa.

 

A Regional Centro-Sul de BH é a que registra a menor adesão por enquanto. Entre os motivos avaliados pela prefeitura está o pensamento de que, com o cartão de vacina completo, não é necessário retornar aos postos. “Às vezes, os pais acham que isso não é algo preocupante, porque nunca viram casos de paralisia infantil, mas é justamente a imunização que impede a reintrodução da doença no país”, explica Paulo Roberto.

 

Notícias falsas sobre imunizantes também são apontadas como culpadas pela desinformação e, consequentemente, pelas dúvidas de famílias. “Acredito que as informações inverídicas deixam os pais em dúvida. Às vezes, eles não sabem muito bem o que é uma campanha e não levam os filhos. E a outra questão é a de achar que o cartão está completo e não precisam tomar reforço. Se 95% tomarem, as outras 5% ficam protegidas pelo restante”, completa.

 

O medo de um problema futuro fez com que William Xavier levasse os dois filhos ao centro de saúde antes que a campanha acabasse. Mirela, de 2 anos, foi a única vacinada, porque o irmão, Bernardo, de 7 anos, já estava fora do público-alvo e com o cartão completo. “Trouxe os dois, porque queria saber se faltava alguma dose no cartão. A Mirela tomou as gotinhas, mas o Bernardo não precisou. É sempre bom precaver de futuros problemas. Pode não ter a doença no país agora, mas não quer dizer que é impossível acontecer”, diz o pai. “Vacinem, porque depois que algo acontece, não adianta lamentar. Os filhos são pequenos e não têm noção dos riscos, mas nós, pais, temos essa responsabilidade de agir para protegê-los.”

 

 

Doença grave, mas ainda negligenciada

 

De acordo com o Ministério da Saúde, a poliomielite é “uma doença contagiosa aguda causada pelo poliovírus, que pode infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pela boca dos doentes e provocar ou não paralisia”. Nos casos mais graves ocorrem paralisias musculares, sendo os membros inferiores os mais atingidos. No Brasil, o último caso ocorreu em 1989, no município de Souza, na Paraíba.

 

A maioria das pessoas infectadas não fica doente e não manifesta sintomas. Porém, quando eles ocorrem, o infectado pode, de forma mais frequente, apresentar febre, mal-estar, dor de cabeça, dor de garganta e no corpo, vômitos, diarreia, prisão de ventre, espasmos, rigidez na nuca e meningite.

 

Segundo o médico pediatra e epidemiologista José Geraldo Leite, quando os infectados apresentam sintomas, eles começam de uma forma inespecífica, mas a evolução é rápida. “Sintomas iniciais duram de dois a quatro dias, com febre e problemas intestinais. Depois há uma aparente melhora, mas um ou dois dias depois a doença volta já com a paralisia dos membros. A mais comum é nas pernas, mas qualquer músculo pode ser comprometido, inclusive os respiratórios”, explica.

 

Crianças e adultos podem ser infectados, mas a preocupação principal é com as crianças não-vacinadas. “Qualquer pessoa que não seja vacinada pode pegar a doença. No Brasil, a maioria dos jovens e adultos passaram pelas campanhas de vacinação com alta adesão e estão imunizadas. O maior temor são as crianças nascidas a partir de 2016, quando começou a queda na adesão à vacinação”, acrescenta.

 

REFORÇO De acordo com o médico, ao realizar a vacinação em massa, uma barreira é criada para a circulação do vírus. “A pessoa pode estar protegida da doença, mas mesmo assim transmitir. A vacinação em massa ajuda a impedir que o vírus entre no país e volte a circular”. Mesmo que o cartão de vacina esteja completo, crianças menores de 5 anos devem ser levadas aos postos para tomar o reforço, fazendo com que o organismo fique ainda mais resistente ao vírus. “Fica como uma dose extra, não há nenhum problema. Essa vacina é muito bem tolerada. Como as crianças já vacinadas receberam três doses de injeção, não há riscos ao tomar a dose oral” conclui o especialista.

 

Não há cura para a poliomielite, a doença só pode ser prevenida pela imunização, por isso, ela é administrada várias vezes. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não há registros de casos nas Américas e Europa há algumas décadas. Entretanto, a baixa cobertura causa preocupação.

 

O Brasil foi certificado pela OMS em 1994 como livre da pólio, mas segundo a Fiocruz, há um grande risco de reintrodução da doença no país, já que desde 2015, a meta de 95% do público-alvo vacinado não é atingida.

 

“Enquanto a poliomielite existir em qualquer lugar do planeta, há o risco de importação da doença. É um vírus perigoso e de alta transmissibilidade, mais transmissível do que o Sars-CoV-2 (da COVID-19), por exemplo. Estamos com sinal vermelho no Brasil por conta da baixa cobertura vacinal, e é urgente se fazer algo. Não podemos esperar acontecer a tragédia da reintrodução do vírus para tomar providências”, afirmou o pesquisador Fernando Verani, epidemiologista da Escola Nacional de Saúde Pública ao portal da Fiocruz.

 

No mundo, há uma endemia no Afeganistão e no Paquistão, além de surtos em alguns países africanos. 


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