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Estado de Minas MADRUGADA GELADA

Frio lota abrigo para quem foge das baixas temperaturas nas ruas de BH

Na vésperada de madrugada em que é previsto frio recorde na capital, o Estado de Minas acompanhou a busca por abrigo no Bairro Floresta, em BH


18/05/2022 20:38 - atualizado 18/05/2022 21:48

Fila para triagem no Albergue Tia Branca, no Bairro Floresta, em BH
Fila para triagem no Albergue Tia Branca, no Bairro Floresta, fica maior em dias de frio e chuva (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
A chegada precoce do frio agrava a situação de quem passa a noite nas ruas das grandes cidades brasileiras. A busca por abrigo ganha um novo elemento para quem já se desvencilha diariamente da vulnerabilidade, fome e violência proporcionadas pela falta de um teto. Em Belo Horizonte, às vésperas da madrugada que se anuncia como a mais fria do mês de maio em mais de cem anos, centenas de pessoas buscam vaga nos centros de acolhimento da capital. O Estado de Minas acompanhou a entrada de pessoas em situação de rua no Albergue Tia Branca, no Bairro Floresta.

Com capacidade para 270 homens adultos, o Albergue Tia Branca fica completamente lotado em dias de chuva e frio. Mas a situação não é diferente quando o tempo está ameno. Segundo o coordenador da casa, Willian Marques, a média de lotação do local é de 260 pessoas. Quase sempre os ambientes ficam lotados, portanto.

“Estou há dois anos na coordenação do albergue, que é um espaço extremamente importante para dar oportunidade às pessoas de passar em um momento que elas estão fragilizadas e vulneráveis. A gente oferece um espaço digno de acolhimento, de escuta, para dormir com tranquilidade, se alimentar e se higienizar. As pessoas aqui criam vínculos e por ter essa questão da segurança, é por isso que acessam nesse formato de pernoite”, conta.

As portas do albergue abrem às 17h. Os primeiros a entrar são idosos e pessoas com deficiência e, depois, a casa recebe os demais homens maiores de idade. Para conseguir uma vaga, é preciso ter um cadastro e passar por um processo de triagem.

Por se propor um ambiente de passagem, o albergue oferece apoio e alia as vagas de pernoite à participação em movimentos, busca por trabalho, tratamento de saúde e demais formas de assistência para oferecer a oportunidade de independência às pessoas que se encontram em situação de rua. Willian cita uma das iniciativas coordenadas pela casa, além do acolhimento.

“Nós temos aqui também um programa chamado ‘cabide social’. Quando a pessoa precisa de uma roupa melhor para uma entrevista de emprego, ou para encontrar um familiar, por exemplo, ela pode buscar lá. Sabemos que isso é importante e, para quem está na rua, é difícil manter as peças limpas e conservadas, então prestamos esse apoio”, explica.

O catador de materiais recicláveis Jefferson Tadeu Silva chegou ao albergue depois de participar da passeata do movimento antimanicomial de BH nesta quarta (18). Na rua há seis meses, ele conta que faz parte de outros movimentos oferecidos às pessoas que estão sem teto e que ajudam a ter uma vaga no albergue

“Já tem algum tempo que estou na rua e eu participo do Centro Pop (Centro de Referência da População de Rua) durante o dia e me chamaram para participar do evento hoje. Sou catador de material reciclável e agora vou tomar um banho, jantar e descansar. Já venho aqui no albergue há seis meses, desde que caí em situação de rua. A rua além do frio é perigosa”, explica.

Jefferson Tadeu, catador de materiais recicláveis no pátio do albergue
Jefferson Tadeu é catador de materiais recicláveis (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
 
Após o processo de triagem para a composição das vagas, cada um dos 270 homens que entram no Albergue Tia Branca recebe passes. Eles são trocados por toalhas e um kit higiene para banho, cobertores e duas refeições: jantar e café da manhã. Às 7h do dia seguinte, todos os ocupantes deixam o albergue.

Além do frio, ocupantes da unidade de acolhimento buscam a fuga das ruas, o que significa insegurança. O paulista Alexandre Mendes Domingues estava no refeitório quando conversou com a reportagem. Entre uma garfada e outra da refeição que chega ao albergue direto dos Restaurantes Populares da capital, ele conta que busca apoio para escapar também da violência.

“Sou de São Paulo, mas minha mãe veio pra Vespasiano e eu vim com ela. Há 14 anos que eu moro em BH. Há cinco anos eu venho no albergue, conheço todos, desde os assistentes até as faxineiras. É onde tenho acesso livre para jantar, tomar banho e assistir televisão. Mas eu gosto mais de ficar na minha cama, lendo a bíblia. Em dias assim é indispensável, na rua tem muito frio e muita maldade, pessoas batendo umas nas outras por coisas pequenas, por um cobertor, uma manta”, relata.

Alexandre Domingues no refeitório do albergue
Alexandre Domingues janta antes de ir para a cama: fuga do frio e da violência das ruas (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)


O carioca Júlio César está na capital mineira há 25 anos, onde foi motorista de ônibus. À reportagem ele relatou lutar contra o alcoolismo. Já idoso, ele conta que faz todos os esforços para escapar da rua, onde encontra mais dificuldades para ter sucesso em sua batalha contra o vício.

“Estou em recuperação e tratamento contra o alcoolismo. Fui motorista de ônibus 9407, 9030, 9031, Circular, várias linhas. Venho para fugir não só do frio, mas também para ter um convívio. Eu estou numa situação difícil e estou tentando sair, não quero ficar na rua, a rua para mim me traz a maior tristeza, quero sempre estar perto de uma pessoa amiga”, disse.

Para o também ex-motorista Paulo Ribeiro da Silva, de 51 anos, a rua foi o destino após a demissão durante a pandemia. Ele esperava uma vaga no albergue quando conversou com a reportagem. 

“Eu estava fazendo um trabalho e perdi minha hora, mas sou cadastrado aqui e na rua eu não fico. Se precisar, eles me encaminham para outro abrigo. Eu trabalhava, mas na pandemia, demitiram 80 funcionários da empresa e fiquei sem renda para pagar o aluguel”, relata.
 
Jessé Santos no refeitório do albergue
Jessé Santos veio da Bahia e é outro migrante no Albergue Tia Branca (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
 
 
Paulo perdeu o emprego no ano passado e, desde então, depende de locais de acolhimento para não passar a noite na rua. Em meados de 2021, período crítico da pandemia da COVID-19, Belo Horizonte tinha mais de 8.300 pessoas em situação de rua segundo o programa Polos de Cidadania, da Faculdade de Direito da UFMG


Grande procura


Por volta das 18h30, com uma hora e meia da abertura dos portões, o Albergue Tia Branca ainda não tinha alocados todos os 272 ocupantes da noite que se anuncia a mais fria do ano. Já fora da rua, cerca de 100 pessoas esperavam pelo processo de triagem e de entrega dos passes para banho, cobertor e refeições no pátio da unidade.

Fila para pegar cobertores no albergue
Quem garante a vaga no albergue consegue passes para trocar por cobertores (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)


Se protegendo do frio, as pessoas em busca de um teto para a noite se juntavam em pequenos grupos, conversavam com funcionários do albergue e ansiavam pela oportunidade de entrar nas acomodações enquanto a temperatura caía sensivelmente.

Camas em dormitório para idosos do albergue
Dormitórios reservados para idosos, no piso térreo do albergue (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)



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