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Estado de Minas DESASTRE CLIMÁTICO

Risco geológico impõe mudanças urbanas, diz especialista

Professor receita 'esvaziamento' de áreas propensas a deslizamentos para evitar tragédias como a que ocorreu em Petrópolis


17/02/2022 06:00 - atualizado 17/02/2022 07:22

Aglomerado da Serra
Vista do Aglomerado da Serra, uma das áreas consideradas de alto risco geológico na capital mineira (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)


A tragédia provocada pela chuva em Petrópolis, no Rio de Janeiro, acende um alerta para os riscos geológicos presentes em todo o Brasil por apresentar condições bioclimáticas que concentram maior volume pluviométrico. Em Minas Gerais, por exemplo, a situação não é diferente como foi visto no início do ano com os temporais que deixaram milhares de famílias desalojadas. O grande desafio das autoridades públicas é buscar um plano para evitar que estes desastres se repitam todos os anos. E a saída, aponta Allaousa Saadi, professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (IGC/UFMG), está no planejamento das cidades, dimunindo a densidade demográfica nas áreas de risco.
 
Na capital mineira, segundo a Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), apesar de o risco geológico ser dinâmico, as áreas de risco geralmente são localizadas na região do Taquaril, Sustenido e Teodomiro Cruz, no Aglomerado da Serra. Hoje existem mais de 2 mil moradias em situações de risco alto e em 2021 foram removidas, preventivamente, 126 famílias. Só este ano, a Defesa Civil já atendeu 361 chamados de deslizamento e escorregamentos.
 
“No nosso país, vivemos em condições bioclimáticas situadas entre os trópicos, área que concentra maior volume pluviométrico. Isso faz com que nossas rochas, ou a maior parte delas, sejam facilmente apodrecidas, alteradas. Uma rocha se transforma num solo argiloso e arenoso muito profundo e atinge metros de espessura. É um solo que armazena muita chuva, gerando bolsões de água. Em condições de relevo, isso provoca processos de desmoronamento”, explica Allaousa Saadi, professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal de Minas Gerais (IGC/UFMG).
 
De acordo com ele, os riscos são maiores na região de Petrópolis do que em Minas. “Lá, o risco é maior porque o volume de chuva é maior do que aqui devido à altitude e proximidade do oceano. A concentração das águas numa bacia fluvial é mais rápida e ocorre num espaço menor”, avalia. “De parecido temos o substrato rochoso, mas você tem inclinações elevadas e essas ocorrências de chuvas superconcentradas”, acrescenta.


 
Mas para tudo há solução. “A palavra ‘risco’ só tem sentido de ser utilizada quando há ameaça a bens e pessoas, uma cidade. Em condições naturais, aquilo não configura risco, é uma evolução natural. Sem a presença de pessoas, as áreas que estão escorregando e matando as pessoas, estariam deslizando do mesmo jeito, mas de uma forma menos prejudicial. Os lugares têm predisposição natural, mas o modelo de ocupação urbana faz com que esses movimentos sejam de maior intensidade e de decorrência maior”, aponta.
 
A solução, defende está no desadensamento populacional nessas áreas. “O que tem que fazer? Tirar as pessoas da situação onde estão ameaçadas. Nossos gestores precisam esvaziar 25% da cidade. Por exemplo, pegar as pessoas nas áreas de risco e colocá-las em lugares bem equipados, não muito longe das áreas onde elas trabalham. É preciso remodelar a cidade de maneira inteligente, utilizando faculdades cognitivas”, avalia.
 
O professor prevê novos desastres. “A lição é muito difícil de aprender porque de 2010 até 2022 não fizeram nada para ter um controle do escoamento das águas. Daqui a uma década em Nova Lima, por exemplo, o que vai acontecer naquele município vai entrar para a história. Pelo andamento da densidade da urbanização, é um descontrole total”, disse.

Estragos em série

A primeira quinzena do ano, principalmente, foi marcada por fortes chuvas, que castigaram municípios de Minas Gerais e provocaram grandes estragos. O número de municípios em situação de emergência desde o início do período chuvoso chega a 341, segundo o boletim da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec). Foram 24 pessoas que morreram em decorrência dos temporais, 3.992 desabrigados e 24.610 desalojados. Na manhã de ontem, a Defesa Civil de Belo Horizonte emitiu um novo alerta para a possibilidade de pancadas de chuva (20 a 40mm) com raios e rajadas de vento em torno de 50km/h, válido até a manhã de hoje. Ontem, ventania e a chuva de granizo danificaram estabelecimentos comerciais e causaram transtornos aos clientes, na Região da Pampulha, onde o teto do  Supermercados BH foi praticamente partido ao meio. Ninguém se feriu.


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