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Estado de Minas CHUVA EM MINAS

Comércio de Sabará amarga muitos prejuízos com inundação do Rio das Velhas

Donos de estabelecimentos comerciais sofrem com semanas seguidas de enchentes, que levaram por água abaixo lucros e planos


12/01/2022 06:00 - atualizado 12/01/2022 12:06

Avenida no Bairro Santo Antônio das Roças Grandes, em Sabará
Avenida no Bairro Santo Antônio das Roças Grandes, em Sabará: comércio arrasado pela enchente provocada pelo principal rio da região (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Os pés cansados de quem trabalha duro para conseguir o ganha-pão da família hoje estão cobertos de lama. São pequenos comerciantes das cidades atingidas pelas enchentes dos últimos dias em Minas Gerais que começam a fazer a limpeza dos estabelecimentos e passam a contabilizar os estragos. Em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, lojistas que trabalham próximo ao Rio das Velhas vivem o drama de ter que começar do zero, já que autoridades nem sequer oferecem recursos para que esses negócios consigam dar a volta por cima.

“Reeguer? Só com trabalho, fé em Deus e vamos lá tocar a vida”, descreve Ezio Rosa de Jesus, de 35 anos. O metalúrgico é filho da proprietária de um bar no Bairro Santo Antônio das Roças Grandes, que chegou a ficar intransitável por causa da cheia do curso d’água entre domingo e segunda-feira. “Nós tínhamos pensado que este ano não ia encher e acabou enchendo de novo”, lembra a enchente de 2019.

No bar, que também funciona como restaurante servindo almoço aos trabalhadores da região, a água chegou até o teto: foi prejuízo total. “Perdeu a geladeira, o freezer, fogão industrial, bebida e comida. Agora, é recomeçar. Esse é o hobby e ganha-pão da minha mãe”, explica, empenhado em ajudar a lavar a sujeira deixada pelo aguaceiro que passou pela cidade.

Ezio lembra que esse drama não é novo na cidade, que ainda teve que conviver – assim como o resto do mundo – com o impacto econômico devido à pandemia do novo coronavírus. “Não chegou nem a completar dois anos que nós perdemos tudo. Quando começamos a reerguer, veio a enchente, depois veio a COVID, e agora que estava dando uma melhorada, veio a enchente novamente”, recorda. “E a gente nem pode contar com ajuda de governo nem da prefeitura. É tudo farsa. Mas tudo bem, a gente aperta aqui, aperta ali e volta. Vamos conseguir de novo. Minha mãe é batalhadora”, finaliza.

Ao lado do bar está a casa de ração de Angélica Aparecida Baião, de 38. A comerciante estava feliz e cheia de planos há um mês, quando ampliou seu negócio e conseguiu uma loja maior para trabalhar. Trinta dias depois, ela assistiu do apartamento de cima à sua loja ser inundada por completo. Só deu tempo de resgatar os bichos: patos, coelhos, pássaros e galinhas. Animais que ela comercializava com amor.

Angélica Aparecida Baião, dono de loja de ração em Sabará
''Daqui para a frente é tudo eu. O prejuízo é todo meu. Sei que a gente não pode esperar nada de governo'' - Angélica Aparecida Baião, dono de loja de ração em Sabará (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)


“Eu deixei os bichos na prateleira mais alta e tivemos que quebrar a janela para pegá-los", conta. “Eu comecei meu comércio há um ano e meio e mudei pra cá em dezembro, com mais espaço para mais mercadorias. Veio a enchente e acabou com tudo”, lamenta Angélica, que acredita que pode ter tido danos avaliados em R$ 30 mil. “Agora não podemos pensar muito no prejuízo. Daqui pra frente é tudo eu. O prejuízo é todo meu. Sei que a gente não pode esperar nada de governo.”

A poucos metros dali, atravessando a ponte sobre o Rio das Velhas, é possível encontrar uma força-tarefa para limpar o primeiro boteco da cidade, ainda na MG-262. Os donos do Bar das Mangueiras contam que o rio começou a subir de nível na sexta-feira passada, mas foi na noite de sábado para domingo  que a água atingiu o estabelecimento. Como o comércio está na parte mais alta do leito do rio, já no Bairro Rosário, a água alcançou aproximadamente um metro de altura – o suficiente para deixar estragos.

Mutirão 

“Hoje, estamos fazendo mutirão de limpeza para ver o que dá pra recuperar. Nossa sorte é que a gente colocou muita coisa para cima, mas mesmo assim perdemos muita coisa, muitas cadeiras quebraram, a sinuca também, tem muita coisa pra gente avaliar daqui pra frente. Tomara que não tenha perdido muita coisa”, diz a comerciante Luciana Regina Lopes Moreira, de 51. “Meu marido trabalha aqui há 40 anos, desde que era do pai dele. Agora a gente tá pensando que toda vez que começar a chover, vamos ter que tirar tudo daqui de dentro”, prevê, preocupada com a recuperação. “Agora é trabalhar, né? Começar tudo de novo.”

Sabará ficou com diversos pontos alagados e algumas regiões com muita lama após as chuvas do fim de semana. Lama, prejuízos em casas e comércios, pista escorregadia e muita preocupação: esse é o cenário que ainda se repete mesmo após a baixa do nível do rio. Pelas ruas, é possível ver funcionários da prefeitura e voluntários fazendo aos poucos a limpeza da cidade. Moradores ainda seguem com dificuldade para sair para trabalhar: a ponte de General Carneiro, que liga o bairro à MG-262 e também dá acesso ao Centro Histórico de Sabará e a BH, está interditada devido a rachaduras na estrutura. Ainda não há previsão para liberação pela Defesa Civil e Corpo de Bombeiros.



O Centro Histórico e demais regiões da cidade seguem com muito barro e tratores tentam fazer o escoamento da sujeira, mas o trânsito segue complicado em diversas ruas. Na área central, algumas vias seguem em “pare e siga” com ajuda de agentes da Guarda Municipal. Na Praça do Esporte, o nível da água do Rio Sabará permanece alto e a recomendação é que se evite a região.

A reportagem entrou em contato com o governo de Minas para saber se haverá alguma ajuda aos comerciantes que sofreram com as chuvas em Minas, mas não obteve retorno.

Procurada pelo EM, a Prefeitura de Sabará informou, em nota: “Estamos trabalhando intensamente para desobstruir as vias e os acessos principais para moradores e comerciantes. Ainda estamos com pontos de alagamentos com transbordamento do Rio das Velhas na cidade. Para alcançar todas as regiões, todos os moradores e comerciantes, precisamos de mais alguns dias. Hoje (11/1), a Secretaria Municipal de Saúde iniciou a distribuição de hipoclorito e água sanitária para higienização e desinfecção em geral, priorizando as áreas onde já foi realizada a total limpeza. Todos os atingidos serão beneficiados e orientados quanto às medidas de prevenção a doenças.”

A nota diz ainda: “Sobre o benefício financeiro, a Prefeitura de Sabará informa que, em 2020, quando a cidade foi também assolada por uma enchente, os imóveis atingidos foram isentados do IPTU, tanto residências quanto comércios. Para este ano, a administração já avalia a adoção da mesma medida. Vale acrescentar que todas as pessoas atingidas devem procurar pelos benefícios junto à prefeitura, seja nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras), nas unidades básicas de saúde  (UBS), bem como na Secretaria Municipal de Fazenda, caso seja aprovada a isenção de imposto em 2022.”

Ministros prometem ajuda

Os ministros da Cidadania, João Roma, e do Meio Ambiente, Joaquim Leite, sobrevoaram Pará de Minas e Nova Lima, afetadas pelos temporais dos últimos dias. Em conversa com jornalistas antes do voo, eles afirmaram que vieram dar “todo apoio” do governo federal a Minas Gerais. “Estamos vivendo um fenômeno que vem gerando uma calamidade em todo o Brasil. Acompanhamos isso de perto no estado da Bahia, onde vimos cenas que tocaram o coração de todos. Agora, em Minas, as chuvas estão tomando maior intensidade. Uma calamidade como essa tem várias fases, mas estamos aqui trabalhando para dar todo o suporte”, disse Roma.

De acordo com o ministro da Cidadania, a verba liberada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que disponibiliza crédito extraordinário de R$ 700 milhões para suporte às regiões afetadas pelas fortes chuvas nos últimos dias, também será destinada para Minas Gerais. Os ministros confirmaram que depois de sobrevoar as áreas mais atingidas irão conversar com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).

Em todo o estado, entidades e órgãos oficiais continuam se mobilizando para garantir abrigo e assistência aos atingidos pelas chuvas. De acordo com o Painel de Monitoramento de Desastres no Período Chuvoso 2021/2022, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese), 36 abrigos temporários operam neste momento em 22 municípios para atender desalojados e desabrigados pelas chuvas dos últimos dias no estado.

As informações do painel são coletadas a partir de boletins da Defesa Civil de Minas Gerais e em tempo real, a partir de dados da equipe da Sedese, em contato com gestores de 115 municípios para apoio no levantamento e cadastro das famílias que ficaram desalojadas e que se encontram em situação de risco.

A Faculdade Milton Campos realiza a campanha Milton Campos Solidária, a fim de arrecadar donativos para as vítimas das chuvas. Podem ser doados materiais de higiene pessoal e de limpeza, água mineral e roupas e calçados em bom estado. As entregas podem ser feitas na própria Milton Campos, de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h; sábados e domingos, das 8h às 18h. Os itens arrecadados serão destinados à Prefeitura de Nova Lima.

A capital, segundo a prefeitura, ainda não registrou acolhidos nos abrigos de sua rede de atingidos por enchentes ou deslizamentos. Mesmo assim, foram disponibilizadas vagas emergenciais na rede de acolhimento já instalada no município. A PBH informou que ofertou até o momento 400 refeições para famílias desalojadas e equipes em campo. Não há, organizadas pelo município, iniciativas de doações.

Acolhimento

Se na capital ainda não houve necessidade de abrigar pessoas desalojadas, a situação é bem diferente em outros municípios da região metropolitana. Segundo a Prefeitura de Betim, as famílias que precisaram deixar suas casas em decorrência das fortes chuvas que atingem a cidade desde sexta-feira foram encaminhadas para casas de parentes ou para abrigos disponibilizados para acolhimento pela prefeitura em quatro escolas municipais.

A prefeitura iniciou campanha para doações. A vice-prefeita de Betim, Cleusa Lara, disse que foram constituídos 10 pontos nas regionais, na prefeitura, shoppings Monte Carlo e Passagem, também na CDL. Os itens mais necessários são colchões, roupa de cama, cobertores, copos descartáveis, materiais de higiene pessoal e de limpeza, e brinquedos para as crianças abrigadas. 

"Nossa situação é crítica, com mais de 9 mil desalojados, mais de 300 em abrigos. Temos três abrigos em Citrolândia, um no Alterosa e outro no Centro, para pessoal em situação de rua, e mais um na região do Terezópolis e Icaivera", disse a vice-prefeita. "Os cidadãos que quiserem contribuir com os trabalhos da prefeitura de forma voluntária podem entrar em contato com a Superintendência de Defesa Civil pelo telefone 3594-1201. Neste momento, os trabalhos demandam, especialmente, a ajuda de geólogos, mas a prefeitura reforça que todo tipo de auxílio é importante e muito bem-vindo", informou em nota. (Ana Mendonça e Elian Guimarães)
 


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