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Estado de Minas TRAGÉDIA DE MARIANA

Pesquisa aponta renascimento de solo impactado pela barragem do Fundão

Pesquisadores da Universidade Federal de Lavras (Ufla) monitoram o solo às margens do Rio Gualaxo, Carmo e Doce e apontam fatores favoráveis à revegetação


10/11/2021 12:44 - atualizado 10/11/2021 14:28

planta nascendo em meio à lama
Uma planta germinando sob rejeito da barragem de Fundão em margem do Rio Gualaxo é sinônimo de reabilitação do solo (foto: Ufla/Fapemig/Divulgação)
As previsões ambientais das áreas impactadas pelo rompimento da barragem de Fundão, desastre ocorrido em 5 de novembro de 2015, em Mariana, eram devastadoras. Mais de 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos percorreram quilômetros da bacia hidrográfica do rio Doce, entre Minas Gerais e Espírito Santo, até chegar ao Oceano Atlântico. Agora, após seis anos do desastre, pesquisadores da Escola de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Lavras (Ufla), dão a boa notícia de que o solo que recebeu os rejeitos químicos da barragem está se recuperando.

Há melhoria nos atributos químicos como redução de pH, redução da concentração de sódio e aumento de matéria orgânica, assim como nos atributos físicos, como a formação de estrutura que favorece a infiltração e armazenamento de água e aeração do solo. Além das melhorias de atributos biológicos: percebe-se o aumento da biomassa a atividade microbiana do solo e consequentemente o retorno gradual das funções ecológicas deste novo solo formado. A principal área pesquisada foi a margem do Rio Gualaxo do Norte.

"O solo está saindo da UTI", disse o coordenador do estudo, professor Marco Aurélio Carbone Carneiro. Com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), os estudos do Tecnossolo começaram seis meses após o desastre. Desde então, é realizado o acompanhamento das áreas nas quais o rejeito foi depositado, avaliando as condições desse novo ambiente para crescimento de espécies de plantas e recuperação das áreas degradadas. 

“As previsões eram alarmantes. Nós tínhamos uma situação de que um grande volume de rejeitos foi depositado nas margens e calhas dos rios, contaminando e prejudicando vários ecossistemas ao longo dos Rios Gualaxo, Carmo e Doce até desaguar no oceano. O que nós temos percebido é que as matas ciliares estão sendo revegetadas, não há nenhum impedimento químico, com exceção da alta concentração do ferro e manganês, o que em algumas plantas podem ocasionar fitoxidez, mas no geral se você realizar um voo percebe-se que o Rio Gualaxo está todo revegetado. E este foi o rio mais impactado pelo rompimento”, pontua o professor Marco Aurélio.

Condições químicas eram desfavoráveis ao crescimento de vegetação 

Durante a primeira visita, os cientistas observaram que a passagem do rejeito retirou toda a cobertura vegetal da margem do rio, atingindo, inclusive, áreas agrícolas.

“Esse rejeito, depositado às margens do rio Gualaxo do Norte, inicialmente dificultou o estabelecimento e desenvolvimento de plantas nativas e exóticas, já que sua estrutura é composta principalmente por partículas finas (silte), promovendo o selamento superficial, dificultando a infiltração de água, aeração e o crescimento radicular”, comenta o pós-doutorando em Microbiologia e Bioquímica do Solo, Jessé Valentim dos Santos.

Após três meses, a expedição percorreu mais de 70 km de áreas impactadas pela passagem da lama de rejeito e coletou cerca de uma tonelada de amostras de Tecnossolo, rejeitos e solos não afetados. Com esses materiais, foi realizado um detalhamento sobre a presença de elementos químicos, características físicas e mineralógicas. 

“Em geral, os pesquisadores encontraram o predomínio de ferro e manganês, pH elevado, baixa disponibilidade de nutrientes para plantas e baixa densidade e diversidade de microrganismos, como relatado pela pós-doutora em Microbiologia e Bioquímica do Solo, Marisângela Viana Barbosa.
Vegetação rasteira nascendo em meio à lama
Rejeitos da barragem de Fundão percorreram quilômetros da bacia hidrográfica do Rio Doce (foto: Ufla/Fapemig/Divulgação)

Retorno gradual de condições favoráveis à revegetação

As amostras coletadas ao longo da bacia do Rio Doce integram um banco de dados com informações das características físicas, químicas e biológicas do solo. Atualmente, as visitas ao local são realizadas de duas a três vezes por ano, para acompanhar a evolução do processo de recuperação das áreas. O pós-doutorando Jessé esclarece, ainda, que o retorno de atividade biológica no solo, embora ainda muito baixo, tem sido uma evolução, e aponta para um caminho de melhoria. “Muitos desses desafios em relação às características do Tecnossolo vêm sendo superados. Já observamos o retorno, inclusive, de pequenos animais aos locais nos quais foi feita a reparação da vegetação”.

Segundo o coordenador da pesquisa, o professor Marco Aurélio, como medida emergencial, a Fundação Renova fez o plantio via semente de um mix de várias espécies de diferentes famílias e isso auxiliou no processo de reabilitação desse solo.
raízes de uma planta
Em área impactada com rejeitos já é possível observar movimentação biológica (foto: Ufla/Fapemig/Divulgação)
 
“A natureza é muito dinâmica, é difícil prever algum cálculo de completa recuperação, mas ela está se recuperando a seu tempo. O que percebemos é que no solo está ocorrendo a entrada de matéria orgânica e isso tem contribuído com a estruturação e manutenção de água e nutrientes e ativação dos processos biológicos”, diz o professor.  

O ‘Dia D do Rio Doce’ está disponível em PDF

A pesquisa integra, também, o livro “Dia D do Rio Doce: Um olhar científico sobre o maior desastre socioambiental do Brasil”, publicado em setembro pela Editora UFLA, com a parceria de várias instituições de pesquisa do Brasil. O conteúdo é gratuito e pode ser acessado neste link. https://repositorio.ufla.br/jspui/handle/1/48007


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