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Estado de Minas

Vizinhos das Torres Gêmeas festejam remoção da última família que ocupava imóvel


postado em 19/07/2012 06:00 / atualizado em 19/07/2012 07:07

De maneira discreta, sem divulgação, chegou ao fim, depois de 16 anos, a invasão de dois prédios na Rua Clorita, no Bairro Santa Tereza, Região Leste de Belo Horizonte. Para os vizinhos dos imóveis ocupados, apelidados de Torres Gêmeas, a desocupação traz de volta o sossego e os faz sonhar com a valorização imobiliária e investimentos na melhoria das casas onde moram. O entusiasmo se tornou maior depois que o Estado de Minas divulgou ontem, com exclusividade, a existência de um projeto que prevê a construção de um complexo arquitetônico estimado em R$ 2 bilhões no local. A melhor notícia para eles é que o empreendimento pretende transformar as Torres Gêmeas em dois hotéis de luxo, além de criar um centro de entretenimento e um edifício empresarial que será o mais alto da América Latina, com 85 andares distribuídos em 350 metros de altura.

Angelina Henrique está reformando a sua casa e assegura que tranquilidade voltou de vez à Rua Clorita(foto: Fotos: Jackson Romanelli/EM/D.A Press )
Angelina Henrique está reformando a sua casa e assegura que tranquilidade voltou de vez à Rua Clorita (foto: Fotos: Jackson Romanelli/EM/D.A Press )
A professora Angelina Henrique dos Santos Figueiredo, de 61 anos, mora na Rua Clorita e conta que reconquistou a paz depois de 16 anos de tormento. “Fiquei tão animada com a desocupação que estou reformando a minha casa. Acho que vai ser muito valorizado isso aqui”, disse Angelina. Mas, para ela, a maior felicidade foi poder andar com tranquilidade pela rua. “A gente não tinha sossego, paz. Não podia chegar tarde da noite em casa. Eu vivia prisioneira dentro da minha própria casa. Havia muita gente boa nos prédios, mas alguns eram perigosos”, disse.

A professora lembrou que, por causa da ocupação, a rua vivia cheia de policiais revistando suspeitos de crimes e também pessoas inocentes. “Toda hora chegava um carro da polícia com sirene ligada e havia muito tumulto. Tinha muita briga entre os moradores dos prédios. Eles não costumavam mexer com a vizinhança, mas, quando chegava gente de outros lugares para buscar drogas, dava muito medo”, conta a professora.

"Antes, era perigoso voltar do trabalho à noite e a polícia estava sempre por aqui, revistando as pessoas", lembra a subgerente Ariane (foto: Fotos: Jackson Romanelli/EM/D.A Press )
A subgerente de padaria Ariane Michelly Santos, de 22, também se sente aliviada. “Antes, era perigoso até andar pela rua. Jogavam objetos e sacolas de lixo do alto dos prédios e eu tinha medo de voltar do trabalho à noite”, disse ela, também lembrando a presença ostensiva da polícia na região. “A PM fazia operação o tempo todo na rua, revistando as pessoas, e era muita gente estranha que vivia nos prédios. Agora, a violência deve acabar”, disse Ariane. Um morador lembrou crimes ocorridos no local, como o assassinato de um traficante jogado de um dos prédios pelo rival. Dois latrocínios cometidos em Santa Tereza, o de um comerciante e o de um estudante, foram atribuídos pela polícia a criminosos que se escondiam nas Torres Gêmeas.

Policiamento

A última família que ocupava as Torres Gêmeas deixou o local em 29 de junho, de acordo com comunicado enviado pela Polícia Militar ao juiz da 2ª Vara Empresarial do Fórum Lafayette, Sálvio Chaves. No ofício, a PM pediu providências à massa falida no sentido de evitar a reocupação dos imóveis. O juiz abriu vistas para a representante da massa falida e uma leiloeira contratou a Mirell Construtora para levantar 300 metros de muro, com 2,8 metros de altura, no entorno do imóvel. Além disso, policiais do Batalhão de Polícia de Eventos (BPE) são mantidos 24 horas no local, para não deixar ninguém entrar no prédio novamente. A assessoria de imprensa do Fórum Lafayette informou que a data do leilão da torre 2 está para ser marcada. O dinheiro, como no primeiro leilão, será usado para quitar dividas das empresas falidas que construíram o empreendimento.

A família que deixou o prédio 2 é a de Alicrenéia José de Andrade. Ela foi incluída no Programa Bolsa Moradia da PBH e se mudou para a Vila Ponta Porã, ao lado do Boulevard Shopping, na frente das Torres Gêmeas, do outro lado da Avenida dos Andradas, já no Bairro Santa Efigênia. Durante três meses, Alicrenéia vai receber R$ 500 para pagar o aluguel. Ela não fazia parte das primeiras famílias que ocuparam os dois prédios em 1980. Passou a morar no local depois que o morador de um dos apartamentos morreu.

 

 

Memória

 

Falência das construtoras

Os dois prédios das Torres Gêmeas, com 17 andares cada um, começaram a ser construídos na década de 1970 pela ICC Incorporadora e pela Jet Engenharia. Em 1980, com muitos dos apartamentos já vendidos na planta, as duas empresas faliram e as obras foram interrompidas. Em 1996, 171 famílias de sem-casa invadiram os prédios, começando uma ocupação que durou 16 anos e rendeu inúmeras disputas jurídicas.

Por várias vezes, a Justiça determinou a desocupação dos imóveis, mas liminares e ações de defensores dos direitos humanos impediram o cumprimento da determinação judicial. A solução só surgiu em 2010, depois que um incêndio na Torre 1 comprometeu a estrutura do prédio e as 68 famílias que ocupavam o imóvel foram removidas para sua segurança. Em junho do ano passado, a Torre 1 foi a leilão e vendida por R$ 2,6 milhões.

Em setembro do ano passado, 85 famílias que ocupavam a Torre 2 foram notificadas pelo Corpo de Bombeiros de que o imóvel seria interditado por decisão da 6ª Vara da Fazenda Pública Estadual. A edificação não atendia aos requisitos mínimos de segurança contra incêndio e pânico previstos em leis estaduais.

Segundo a Prefeitura, as famílias que ocupavam as Torres Gêmeas são atendidas pelo Bolsa Moradia e deverão ser reassentadas em definitivo em unidades dos programas habitacionais da PBH. São 171 famílias cadastradas, a maioria vinda das ruas e de situação de vulnerabilidade social antes da ocupação dos prédios.


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