Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

COVID-19: maio começa com alerta e incertezas em BH


Depois de registrar o pior mês da pandemia em abril, BH começa maio com incertezas e preocupações no enfrentamento à COVID-19. Com escassez de doses da vacina e uma transmissão do coronavírus que voltou à zona de alerta, o infectologista Unaí Tupinambás, que integra o comitê montado pela prefeitura para combater a doença, analisa com preocupação a chegada do outono e do inverno que se aproxima.





Isso porque as viroses sempre tendem a ser mais transmissíveis durante essas estações, portanto há ameaça de um novo sufocamento do sistema de saúde, que hoje permanece com seus leitos de UTI na zona crítica.

Com a vacinação ainda lenta e sem coordenação nacional, o futuro da pandemia não é animador, avalia o infectologista Unaí Tupinambás. "Outra questão que se coloca é o outono e inverno, quando normalmente se transmite mais doenças virais, o que pode impactar o sistema de saúde. O que se projeta é uma tragédia de proporções bíblicas. Já estamos com 400 mil mortes. Vamos chegar a quantas?", lamenta o especialista da UFMG.

Apesar disso, Unaí espera uma queda da transmissão do vírus nos próximos balanços. Segundo ele, monitoramentos feitos pela prefeitura com os profissionais de saúde mostram que há uma queda nas solicitações de internações nos hospitais.



Porém, o infectologista teme por uma terceira onda da COVID-19. Principalmente, porque a reabertura do comércio aconteceu em um cenário pouco favorável, com a ocupação das UTIs no vermelho.

"O que nos preocupa é se teremos uma terceira onda, ainda maior que a segunda. A gente ainda está lá em cima e, quando começa a cair um pouco, também se inicia a flexibilização. Não conseguimos manter a população em suas casas por falta de um auxílio emergencial decente. As pessoas estão passando fome", diz.

Prejuízo 

Com a vacinação ainda lenta, Unaí Tupinambás teme que a COVID-19 só seja vencida de maneira “natural” em BH. Isso quer dizer: uma imunidade de rebanho, cenário no qual a imensa maioria da população já se infectou, portanto o vírus não consegue mais se espalhar. Do ponto de vista do prejuízo social e econômico, e claro do número de mortes, esse panorama é catastrófico, porém não distante.

"A gente não pode esperar a imunidade de rebanho. O preço que nós vamos pagar é inaceitável do ponto de vista ético e humano. Veja, não dá para esperar que morram 1 ou 2 milhões de pessoas para acabar com a pandemia. Com um impacto social e econômico sem precedentes", afirma o especialista vinculado à UFMG.




PICO DE ABRIL

O ano de 2021 começou como sinônimo de esperança para a população em busca de dias melhores depois de um 2020 arrasador da pandemia da COVID-19. Em Belo Horizonte, porém, o primeiro quadrimestre se fechou como o pior momento da crise sanitária. Um dos principais indicadores, a ocupação geral dos leitos de UTI, só se manteve abaixo dos 70%, a zona crítica da escala de risco, em 13 dos 83 balanços da PBH neste ano, fechando na sexta em 78,1%.

Além disso, a capital mineira terminou abril com recorde de mortes e casos em um único mês desde o início do pesadelo: 1.105 óbitos – o equivalente a 25,5% do total – e 34.494 diagnósticos – 19,4% da totalidade.

O número de vidas perdidas pela COVID-19 nos primeiros quatro meses de 2021 também assusta: 2.452 até o último balanço da prefeitura, divulgado na sexta – 56,6% do total, apesar de a pandemia já ter 13 meses. Ou seja, a capital mineira já tem mais óbitos pela doença neste ano do que em todo 2020. Só no levantamento mais recente foram 34.





No início de março, o Estado de Minas mostrou quais eram as cinco razões que fizeram a COVID-19 explodir em BH: a falta de coordenação do governo federal; as viagens de férias e as aglomerações dos feriados; a queda do isolamento social; a lentidão da vacinação; e a circulação das novas variantes.

Àquela altura, porém, BH ainda não havia vivido o colapso do seu sistema de saúde. Na semana entre os dias 22 e 29 de março, a cidade teve mais pacientes graves com a virose do que vagas de UTIs à disposição.

Nas UPAs, corpos chegaram a ser depositados em locais improvisados por falta de espaço. Nos hospitais, corredores e enfermarias passaram a servir como unidades de terapia intensiva. E os profissionais de saúde, com o esgotamento acumulado dos meses anteriores, viveram um pandemônio.





Ao fim do primeiro quadrimestre de 2021, os fatores que circundam o pior momento da crise sanitária continuam os mesmos, segundo o infectologista Unaí Tupinambás, que integra o Comitê de Enfrentamento à Pandemia da prefeitura.

"(Essa alta) coincide muito com as festas de fim de ano e com a alta de janeiro. Logo depois, veio o carnaval, que impactou muito. Junto a isso, temos a nova variante, que é mais transmissora e pode causar quadros mais graves. E, claro, esse ambiente de contraponto, de negacionismo do representante máximo da nação, que dificulta o controle da pandemia", explica.

Outros dois indicadores da COVID-19 também tiveram momentos de situação crítica entre janeiro e abril. A taxa de transmissão ficou apenas 40 dos 83 boletins no estágio controlado, abaixo de 1. Já o percentual de uso das enfermarias esteve nesse cenário mais favorável em apenas 12 balanços nesse intervalo de tempo, fechando o mês em 58,3%.





Essa instabilidade forçou a prefeitura a publicar nove decretos para regular o funcionamento das atividades e incentivar o isolamento social: cinco para restringir a circulação de pessoas e quatro para flexibilizar.

O mais recente, iniciado no último dia 22, permitiu o expediente do comércio não essencial depois de 46 dias de interrupção – justamente no período em que a cidade viveu o colapso do sistema da saúde. Antes mesmo dele impactar nos números dos indicadores, o fator RT, que estava em queda, fechou o mês de abril na zona de alerta, em 1,01.

O vaivém das atividades chegou a proibir celebrações religiosas presenciais, o que motivou uma queda de braço do prefeito Alexandre Kalil (PSD) com o ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF).





Houve um primeiro fechamento geral em 11 de janeiro, quando a capital mineira começou a apresentar as altas resultantes das festas de Natal e do réveillon. A flexibilização aconteceu em 1º de fevereiro.

Em 6 de março, porém, uma nova alta motivou mais uma restrição de Kalil, que só caiu no dia 22 de abril. Entre esses decretos, o prefeito assinou outros que modificaram pontos específicos, como o funcionamento de praças, o comércio aos domingos e o serviço dos bares e restaurantes.

Minas recebe lote com mais 30,4 mil doses

As doses da CoronaVac estão na Central Estadual da Rede de Frio e vão ser encaminhadas para as 28 Unidades Regionais de Saúde (foto: Fabio Marchetoo/Governo de Minas/Divulgação )

A Central Estadual da Rede de Frio de Minas Gerais, no Bairro Gameleira, Região Oeste de Belo Horizonte, recebeu 30,4 mil doses da CoronaVac. O carregamento chegou em BH no fim da tarde de ontem.





Segundo o governo do estado, essas injeções vão para os 3% de trabalhadores da saúde e 6,2% dos servidores das forças de segurança que ainda não receberam a segunda dose. Também servirão para imunizar 7,4% dos funcionários da segurança pública, que vão receber a primeira dose.

As ampolas serão enviadas às 28 Unidades Regionais de Saúde (URSs). Depois, os municípios, responsáveis pela execução da campanha de imunização, deverão buscar seu quantitativo de vacinas. Essa é a 16ª remessa de vacinas recebida por Minas. Ela veio de São Paulo por via terrestre. Vale lembrar que a CoronaVac é produzida no Instituto Butantan, na capital paulista, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac Biotech.

A logística de envio das doses às 853 cidades mineiras será divulgada em breve, segundo a administração Romeu Zema (Novo). A expectativa é de que, amanhã, a 16ª remessa seja complementada com 676.250 doses da AstraZeneca (Oxford/Fiocruz).





No total, Minas já recebeu 6.852.080 doses de vacinas. Até sexta-feira (30/4), o estado imunizou 3.304.078 pessoas com a primeira dose e 1.549.072 com a segunda.

O que é um lockdown?

Saiba como funciona essa medida extrema, as diferenças entre quarentena, distanciamento social e lockdown, e porque as medidas de restrição de circulação de pessoas adotadas no Brasil não podem ser chamadas de lockdown.



Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil

  • Oxford/Astrazeneca

Produzida pelo grupo britânico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, a vacina recebeu registro definitivo para uso no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No país ela é produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

  • CoronaVac/Butantan

Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a liberação de uso emergencial pela Anvisa.





  • Janssen

A Anvisa aprovou por unanimidade o uso emergencial no Brasil da vacina da Janssen, subsidiária da Johnson & Johnson, contra a COVID-19. Trata-se do único no mercado que garante a proteção em uma só dose, o que pode acelerar a imunização. A Santa Casa de Belo Horizonte participou dos testes na fase 3 da vacina da Janssen.

  • Pfizer

A vacina da Pfizer foi rejeitada pelo Ministério da Saúde em 2020 e ironizada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi a primeira a receber autorização para uso amplo pela Anvisa, em 23/02.

Minas Gerais tem 10 vacinas em pesquisa nas universidades

Como funciona o 'passaporte de vacinação'?

Os chamados passaportes de vacinação contra COVID-19 já estão em funcionamento em algumas regiões do mundo e em estudo em vários países. Sistema de controel tem como objetivo garantir trânsito de pessoas imunizadas e fomentar turismo e economia. Especialistas dizem que os passaportes de vacinação impõem desafios éticos e científicos.





Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia

Em casos graves, as vítimas apresentam

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal

Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus.

 

 

Entenda as regras de proteção contra as novas cepas


 

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.

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