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Estado de Minas TRAGÉDIA

João Monlevade: número de mortos chega a 18 e local do acidente é periciado

Sem licença para carregar passageiros, ônibus caiu de viaduto, supostamente após perder o freio na BR-381. Investigações já começaram


05/12/2020 10:00 - atualizado 07/12/2020 18:28

Perito da PRF carrega pedaço do ônibus envolvido no acidente(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Perito da PRF carrega pedaço do ônibus envolvido no acidente (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)


A Ponte Torta, de onde um ônibus que seguia de Alagoas para São Paulo despencou ontem, passa por perícia da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na manhã deste sábado. O trânsito flui em meia pista e, por volta das 9h30, havia lentidão. O trecho fica no km 350 da BR-381, entre João Monlevade e Nova Era, na Região Central de Minas. Eram mais de 40 pessoas no veículo, e o número de mortos chegou a 18, segundo informações atualizadas nesta manhã pela Polícia Civil. 

A reportagem apurou que a última vítima é um homem de 59 anos que estava internado no Hospital Margarida, em João Monlevade. Ao todo, 28 ocupantes do ônibus foram levados para a unidade de saúde, e cinco morreram. Outras 13 pessoas perderam a vida no local do acidente. Os corpos foram levados para o Instituto Médico Legal de (IML) de Belo Horizonte, cinco sem identificação. Três pessoas, entre elas o motorista, saíram ilesas porque pularam do veículo em movimento antes da queda da ponte.  

O cenário do desastre, a BR-381, é conhecida em Minas como rodovia da morte, por ser palco de acidentes em série. Ontem, depois de se solidarizar com as famílias das vítimas, o governador Romeu Zema (Novo) admitiu que o triste título pode ter alcance nacional.

Equipes usam trena para medir altura da queda do ônibus(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Equipes usam trena para medir altura da queda do ônibus (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
A Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) informou que o ônibus envolvido no acidente não tinha autorização para o transporte de passageiros. A ANNT também revelou que a empresa dona do veículo, a Localima Turismo, operava sob liminar judicial. O ônibus saiu do vilarejo de Santa Cruz do Deserto, município de Mata Grande, no interior de Alagoas, na manhã de ontem, e levava os passageiros para São Paulo. O desastre ocorreu às 13h30, na chamada “Ponte Torta”, próximo ao entroncamento da BR-381 com a BR-262, a oito quilômetros da sede urbana de João Monlevade e a 1,5 quilômetro do Bairro Jacuí.

A Polícia Civil de Minas Gerais abriu inquérito para apurar as causas do desastre minutos depois da queda do ônibus. Relatos de testemunhas apontam que as más condições mecânicas do veículo contribuíram para o acidente. Segundo testemunhas, o ônibus seguia pela BR-381, no sentido Ipatinga. Ao descer a serra, quando se aproximava da “Ponte Torta”, viaduto sobre o Rio Piracaba e a estrada de ferro Vitória Minas, o ônibus perdeu os freios e entrou pela contramão, descontrolado, chegando a bater no retrovisor de outro veículo que viajava no sentido contrário.

No “embalo da descida”, o veículo passou pela Ponte Torta, mas na subida perdeu aceleração (possivelmente por um outro problema mecânico) e começou a descer de ré, ainda segundo as testemunhas. Nesse momento, seis pessoas saltaram do veículo em movimento – uma delas seria o condutor do ônibus, que não foi identificado. Na sequência, o ônibus despencou do viaduto e pegou fogo.

As informações sobre a altura da queda variaram ao longo do dia, entre 15 e 35 metros. Mas a medição da perícia constatou que a altura é de 23 metros entre o viaduto e a área onde o ônibus caiu, ao lado dos trilhos da Estrada de Ferro Vitória-Minas. Na noite de ontem, equipe da Vale, que opera a ferrovia, trabalhava na liberação da área.

Houve um grande esforço das equipes do Corpo de Bombeiros, Serviço Móvel de Atendimento de Urgência e Emergência (Samu), Polícia Rodoviária Federal (PRF) e voluntários para o socorro às vítimas, levadas, inicialmente, para o Hospital Margarida, em João Monlevade. O hospital viveu uma situação de caos, já que estava superlotado, como referência regional para atendimentos aos pacientes da COVID-19, em alta em João Monlevade e municípios nos últimos dias.

Transporte aéreo

Hoje, guindaste retirou ônibus do local da queda, sobre a linha férrea(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Hoje, guindaste retirou ônibus do local da queda, sobre a linha férrea (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)

Ainda na tarde de ontem, três vítimas gravemente feridas no acidente foram transferidas para o Pronto-Socorro do Hospital João XXIII, em Belo Horizonte. Elas foram removidas pelo helicóptero Arcanjo, do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), depois de atendidas no Margarida. Uma das vítimas em estado grave transferidas para a capital é uma criança de 11 anos, que foi intubada. Também foram removidos um idoso com trauma na coluna e e traumatismo craniano, e outra criança na faixa de 8 a 10 anos.

Salto


Veja o que se sabe sobre o acidente (clique para ampliar)(foto: Arte EM)
Veja o que se sabe sobre o acidente (clique para ampliar) (foto: Arte EM)
Um dos passageiros que conseguiram escapar ilesos ao pular do ônibus em movimento relatou como foi a ação que salvou sua vida. O sobrevivente, identificado com o Cícero, disse que percebeu quando o ônibus perdeu o freio na descida e passou pela ponte sobre o Rio Piracicaba. “Percebi que tinha algo errado e fiquei em posição de movimento”, relatou o passageiro, explicando que já se preparou para saltar do ônibus em movimento.

Ele disse ainda que, após o ônibus atravessar a ponte e embalar na subida, o próprio motorista revelou o que tinha acontecido. “Faltou freio. Pula, que faltou freio. Só que o motorista foi o primeiro a pular. Ele pulou, acho que umas cinco pessoas pularam. Eu fui o último. Graças a Deus, consegui, estou aqui ileso, sem nenhum arranhão.”. Ele informou ainda que um dos motoristas do ônibus – que não dirigia no momento do acidente – também morreu na tragédia.


Sem autorização para o serviço


Bombeiros recolhem os pertences das vítimas do acidente(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Bombeiros recolhem os pertences das vítimas do acidente (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
O ônibus envolvido no acidente de ontem na BR-381, em João Monlevade, não tinha autorização para transportar passageiros. A informação é da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que também disse à imprensa que a empresa dona do veículo que caiu de ponte na Região Central de Minas operava sob liminar judicial.

De acordo com a ANTT, a empresa está cadastrada junto ao órgão e recebeu autorização para prestar serviços com passageiros após obter uma liminar na Justiça. Apesar disso, o veículo que caiu da ponte na BR-381 não tinha autorização para transportar pessoas. “A empresa está cadastrada na ANTT e tem um Termo de Autorização para prestação de serviço regular concedido pela Justiça, por liminar. No entanto, o veículo em questão não estava habilitado para prestar o serviço de transporte de passageiros", disse o órgão.

Multas

Desgovernado, o ônibus, que saiu de Alagoas e ia para São Paulo, sofreu queda de 23 metros antes de pegar fogo(foto: Josagno Mota/Divulgação )
Desgovernado, o ônibus, que saiu de Alagoas e ia para São Paulo, sofreu queda de 23 metros antes de pegar fogo (foto: Josagno Mota/Divulgação )
O Estado de Minas mostrou que o veículo em questão já havia sido multado por transporte ilegal. Em 5 de julho de 2019, o ônibus foi penalizado por "transitar efetuando transporte remunerado de pessoas quando não licenciado para esse fim", o que configura transporte irregular de passageiros. Na ocasião, foi gerada uma multa no valor de R$ 130,16, que ainda não foi quitada. A multa foi lavrada na BR-251, em Montes Claros, no Norte de Minas.

Além disso, há outras duas autuações relacionadas ao ônibus, sendo uma em que o veículo teria passado direto por um posto de pesagem e uma outra em que foi constatada irregularidade no velocímetro. Ambas foram registradas em Minas Gerais e ainda não se transformaram em multa. As infrações são graves e podem gerar pena de R$ 195,23. A reportagem não conseguiu contato com a Localima Turismo, dona do veículo.

A estrada da morte e das obras inacabadas


A estrutura da ponte não se encontra em boas condições. A reportagem flagrou uma rachadura na liga entre dois blocos de concreto. Ao fundo, o ônibus que caiu(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
A estrutura da ponte não se encontra em boas condições. A reportagem flagrou uma rachadura na liga entre dois blocos de concreto. Ao fundo, o ônibus que caiu (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Seis anos de ansiedade, com vidas perdidas e muitos sustos no caminho. Desde o governo de Fernando Henrique Cardoso até Jair Bolsonaro, a melhoria e a duplicação da BR-381 são temas frequentes em campanhas eleitorais na expectativa de dar uma solução ao grave problema. Mas até então quase nada realmente saiu do papel. Dos 303 quilômetros que compõem o trecho do acidente com o ônibus, pouco mais de 35 foram duplicados.

O governador Romeu Zema (Novo) se solidarizou com as vítimas da tragédia de ontem envolvendo um ônibus em João Monlevade e reconheceu que a rodovia precisa de reparos urgentes. Ele disse que há diversas obras aprovadas para a estrada no Ministério da Infraestrutura e que, apesar da lentidão dos projetos, a duplicação da BR-381 é, hoje, a maior intervenção do governo federal em Minas. Para o governador, o trecho onde ocorreu o acidente ontem já pode ser considerado a “estrada da morte” em nível nacional (leia mais abaixo).

O governo federal pretendia conceder a administração da rodovia à iniciativa privada, mas adiou a decisão para o ano que vem. O Ministério da Infraestrutura enviará ao Tribunal de Contas da União (TCU) os estudos de concessão da rodovia. A consulta pública da proposta de edital prevê R$ 9,1 bilhões em investimentos e R$ 5,6 bilhões em custos operacionais para o período de 30 anos de concessão. Entre as principais obras estão previstas a duplicação de 595,4 quilômetros da rodovia (inclusive no trecho depois de Valadares), 42,4 quilômetros de faixas adicionais e a construção de 54 passarelas.

Acesso comum dos mineiros às praias do Espírito Santo, o trecho que vai de Belo Horizonte a Governador Valadares conta com algumas obras de duplicação em ritmo lento. A última delas foi inaugurada em agosto em Nova União pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, atendendo a uma reivindicação antiga de motoristas que passavam pelo trecho. A intervenção foi feita apenas dos quilômetros 411 a 419, passando pelo Vale do Aço. A previsão não foi cumprida de que, até dezembro, 66 quilômetros da rodovia estariam prontos.

O governo federal havia liberado no mês passado mais nove quilômetros de pista duplicada no trecho de Rio Una até Caeté (lote 7), comportando as cidades de Barão de Cocais, Bom Jesus do Amparo, Nova União e Caeté . A intervenção total inclui a remodelação dos túneis Antônio Dias e Prainha, além da construção de passarelas, dois viadutos e três pontes.

Obras também foram anunciadas para duplicar o lote 3.1 de 28,7 quilômetros), entre Jaguaraçu e Antônio Dias. Com previsão de inauguração em fevereiro de 2017, o trecho ainda não foi concluído, com uma parte ainda parada – apenas 12,7 quilômetros foram concluídos de fato. O novo prazo dado pelo Governo Federal venceu na terça-feira.

O Departamento Nacional de Infraestrutura de Trânsito (DNIT) é responsável por quatro de um total de 11 lotes das obras de duplicação e melhoramentos no segmento localizado entre Belo Horizonte e Governador Valadares. O Estado de Minas questionou o Ministério da Infraestrutura a respeito do atraso na entrega das obras, mas não obteve retorno até a publicação da matéria.

Atenção redobrada


Os longos trechos em obras podem causar novos acidentes, já que motoristas imprudentes não conseguem se livrar dos obstáculos na pista. “Quando transitar por um trecho em obras os motoristas devem redobrar a atenção, diminuir a velocidade e respeitar a sinalização”, recomenda o porta-voz da PRF, inspetor Aristides Amaral Júnior.


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