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Estado de Minas Covid-19

Pandemia cancela Festas de Agosto pela primeira vez em mais de 100 anos

Celebrações são realizadas há mais de 180 anos em Montes Claros, no Norte de Minas. Restrito, evento será virtual


18/08/2020 06:00 - atualizado 18/08/2020 16:08
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Risco de propagação do coronavírus levou cidade do Norte de Minas a cancelar os festejos promovidos desde 1839
Risco de propagação do coronavírus levou cidade do Norte de Minas a cancelar os festejos promovidos desde 1839 (foto: Luiz Ribeiro/Em/DA Press 20/8/15)

Uma tradição de mais de 180 anos interrompida pela primeira vez. As centenárias Festas de Agosto, que deveriam ocorrer neste mês em Montes Claros, no Norte de Minas, de hoje a domingo, tiveram as atividades presenciais suspensas por causa do isolamento social. A medida sanitária preventiva foi motivada para evitar o risco de transmissão da COVID-19. Esses eventos costumavam reunir milhares de pessoas.

Pelos registros históricos, uma edição dos festejos jamais tinha deixado de ser realizada ao longo de quase dois séculos no município. O cancelamento foi anunciado pela Prefeitura de Montes Claros, responsável pela organização das atividades.

Neste ano, o evento terá somente uma programação virtual, com a transmissão de lives (palestras, rodas de conversa) sobre cultura popular, missa e de shows de artistas regionais. A agenda on-line foi batizada Festival Agosto Vivo, iniciativa da Secretaria Municipal de Cultura de Montes Claros.

De acordo com registros do historiador Hermes de Paula no livro Montes Claros, sua história sua gente e seus costumes, publicado em 1957, a data mais antiga da realização dos festejos folclóricos é de 1839 (há 181 anos). “Mas isso não significa que (1839) tenha sido o ano da primeira festa. Muito provavelmente, não foi. É apenas o primeiro registro”, afirma a memorialista Virgínia Abreu de Paula.

Ela ressalta que Hermes de Paula fez outro registro mais longínquo das festividades, ainda na primeira metade do século 19: “Quando se comemorou a coroação de D. Pedro II, em 8 de setembro de 1841, depois do cortejo ou passeata com a efígie do imperador foram permitidos vários divertimentos durante três dias”, detalha.

Fé e devoção


As festividades têm como protagonistas os grupos de catopês, marujos e caboclinhos, que, movidos pela fé e devoção, ao longo de mais de 180 anos desfilam pelas ruas com seus ritmos, roupas coloridas (branco, rosa, azul e vermelho), danças e ritmos nos cortejos.

Os catopês, marujos e caboclinhos, bastante ligados à cultura negra, sempre atraíram pessoas às ruas
Os catopês, marujos e caboclinhos, bastante ligados à cultura negra, sempre atraíram pessoas às ruas (foto: Luiz Ribeiro/EM/DA Press)


Os catopês, marujos e caboclinhos sempre atraíram centenas de visitantes, sendo objeto de documentários e pesquisas em universidades sobre a cultura popular. Neste ano, porém, a alegria dos participantes nas ruas foi interrompida por causa da pandemia.

Nem Gripe Espanhola parou apresentações


Não existe nenhum registro de que as Festas de Agosto já tenham deixado de ser realizadas em algum ano desde seus primeiros registros oficiais. Virgínia de Paula lembra que seu pai, o historiador, Hermes de Paula, apesar de falar muito das tradições folclóricas, não fez nenhuma anotação se alguma edição não ocorreu, nem mesmo durante pandemia da gripe espanhola, nos anos de 1918 e 1919.

O antropólogo João Batista Almeida Costa, professor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), afirma que, de fato, em 2020, “pela primeira vez na história”, as Festas de Agosto deixarão de ser realizadas, presencialmente”.

O especialista diz que, “talvez”, durante a gripe espanhola as Festas de Agosto não tenham sido realizadas. Porém, não há qualquer anotação histórica do cancelamento de alguma edição das atividades folclóricas e religiosas.

As Festas de Agosto sempre foram movidas pela religiosidade do povo, em homenagem a Nossa Senhora do Rosário, a São Benedito e ao Divino Espírito Santo. As tradições mostram também etnias que formaram o povo brasileiro com os grupos de catopês (que teriam origem nas tradições dos negros africanos), marujos (oriundo dos portugueses) e os caboclinhos (representação dos índios).

Para João Almeida Costa, a não realização dos rituais na forma presencial representa uma desfiguração das tradições. “Do ponto de vista da cultura, a realização dos festejos pela mídia digital evidencia o enterro da categoria folclore para se referir às Festas de Agosto. Assim, é mostrado com elas são dinâmicas, incorporando as necessidades contextuais e abandonando práticas que eram parte dos acontecimentos rituais”, comenta o antropólogo.

Só on-line


Festival Agosto Vivo*

Sexta-feira
10h Missa
11h Apresentação Catopês
14h Roda de Conversa Virtual
16h Roda de Conversa Virtual
19h Apresentação Artística
20h30 Apresentação Artística
22h Apresentação Artística

Sábado
10h Missa
11h Apresentação Caboclinhos
14h Roda de Conversa Virtual
16h Roda de Conversa Virtual
19h Apresentação Artística
20h30 Apresentação Artística
22h Apresentação Artística

Domingo
10h Missa
11h Apresentação marujada
14h Roda de Conversa Virtual
16h Roda de Conversa Virtual
19h Apresentação Artística
20h30 Apresentação artística
22h Apresentação artística

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