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Estado de Minas

Motoristas desafiam leis até 'nas barbas' do Detran em Belo Horizonte

EM flagra festival de infrações nos arredores do Departamento Nacional de Trânsito. E nem disparada das multas inibe o desrespeito às normas, visto por todo lado em BH


postado em 10/02/2020 06:00 / atualizado em 10/02/2020 07:48

Veículo estacionado em ponto de ônibus põe em risco a segurança de quem usa os coletivos(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
Veículo estacionado em ponto de ônibus põe em risco a segurança de quem usa os coletivos (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
 

Nas garagens do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MG), na Avenida João Pinheiro e na Rua dos Aimorés, em Lourdes, o entra e sai de motos do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar e da Guarda Municipal de trânsito é frequente. Nos acessos, entre as multidões que buscam os serviços do departamento, passam servidores, agentes e delegados da Polícia Civil. Mas nem a presença de todo esse aparato de fiscalização e disciplina parece inibir os motoristas transgressores, que transformaram os arredores do símbolo das normas de trânsito em Belo Horizonte num território sem lei, onde avanços de sinais são frequentes e as vagas de estacionamento para idosos, deficientes, pontos de ônibus e de carga e descarga são apossadas irregularmente sem medo de punição. O desrespeito às normas de circulação nas vias e de utilização dos estacionamentos em BH desafia até os efeitos no bolso do motorista, já que não faltam multas. Segundo a BHTRans, os flagrantes de avanços semafóricos em 2019 cresceram 37% e os estacionamentos em desacordo com as normas e o excesso de velocidade 18%, cada um, na comparação com 2018 (confira quadro).

Em 2019, o número de veículos registrados na capital mineira atingiu 2.279.568, uma ampliação de 85,6% em uma década. O dado pode explicar por que é crescente o número de condutores que cobiçam irregularmente as 3.183 vagas de rotativo e reservadas a idosos e deficientes. No próprio quarteirão do Detran-MG, essa situação ficou evidente como pôde comprovar a reportagem do Estado de Minas na terça-feira.

A rampa que leva à garagem do pátio do Detran-MG tem demarcadas, no seu acesso à Avenida João Pinheiro, uma vaga de deficientes físicos de um lado e uma reservada a idosos do outro. Na terça-feira, vários carros sem credenciais e com pessoas de outros perfis sem direito a estacionar ali bloqueavam as vagas de cidadãos com necessidades especiais. Numa dessas ocasiões, um Renault Logan Branco, com uma mulher e uma criança, e um Volkswagen Voyage prata, conduzido por um homem que deu sinais de ser motorista de aplicativo, se apertaram na vaga de deficientes. Do outro lado, o espaço para motoristas acima dos 65 anos com credenciamento tinha sido sido ocupado por um rapaz num Fiat Pálio vermelho.

A apenas 10 metros dali, no mesmo quarteirão, um homem sem qualquer dificuldade motora aparente e que dirigia um Ford Focus se apoderou de vaga de deficientes. Para completar o festival de transgressões impunes, o espaço de carga e descarga logo acima dessa vaga foi tomado por taxistas, que implantaram ali uma espécie de ponto informal para suas atividades.
Nos arredores do Detron, as infrações continuam como se o edifício nada simbolizasse. Motoristas apressados, sobretudo os que ingressam no cruzamento da Avenida João Pinheiro com a Rua dos Aimorés, avançam o sinal vermelho sem preocupação. Motociclistas também aceleram na luz vermelha assim que a sinalização que permite a travessia de pedestres na faixa pisca alertando que vai ser fechada.

Até os pontos de ônibus do quarteirão seguinte são assediados por motoristas, que os transformam em estacionamentos. Na frente dos dois abrigos para o transporte coletivo desse quarteirão, que são servidos por noventistas de ônibus, a reportagem viu três veículos bloqueando os embarques e desembarques para estacionar. Um deles, uma picape Fiat Strada, com duas escadas amarradas na caçamba e sobre o teto, acabou mesmo deixado sobre as letras O e N da palavra “ônibus” pintada no asfalto, e ali ficou por mais de uma hora, sem qualquer problema para o condutor. “É um absurdo, mas a gente que usa ônibus já está cansado de ver isso acontecer. Pode ser a um quarteirão do Detran, na frente da prefeitura, precisamos de fiscalização para acabar com os abusos. Imagine que idosos e pessoas em cadeiras de rodas precisam entrar na rua para pegar o ônibus, porque uma pessoa folgada está usando o ponto como estacionamento”, reclama o estudante Ramon Cardoso, de 22 anos.

A reportagem procurou o Detran-MG para saber se o departamento estava ciente da audácia de motoristas infratores em seus arredores, muitos deles buscando por serviços do próprio prédio público e atrapalhando outros cidadãos que também os buscam. Por meio de nota, a assessoria de imprensa do departamento informou que “sempre que a população aciona ou são detectadas infrações de trânsito no entorno do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG) são tomadas as providências cabíveis imediatamente. Nos casos em que o veículo está estacionado de forma irregular em vagas de deficientes ou idosos, por exemplo, o proprietário do veículo é multado em R$ 293,47, recebe sete pontos na habilitação e o veículo é removido para um pátio”, diz o texto.

Corrida pela segurança


(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)

Número crescente de autuações de trânsito é indicativo da multiplicação de infrações e também, segundo a BHTRans, que a fiscalização “está sendo eficiente”. Na avaliação do órgão os principais objetivos desse trabalho – a segurança e a fluidez do trânsito – estão sendo alcançados. “Desde 2000, a frota de BH mais que triplicou, de 679 mil veículos a 2,2 milhões hoje. Mesmo com isso, conseguimos resultados extraordinários, como a diminuição de atropelamentos no período de 4.148, em 2000, para 1.475 em 2018. A mortalidade para cada 10 mil veículos era de 4,37 em 2000 e em 2018 ficou em 0,55“, afirma o gerente de análise e processamento de infrações da BHTRans, Leonardo Rios.

Além da fiscalização em campo, o gerente destaca também a melhoria nos sistemas de monitoramento por radar, que funcionam 24 horas e somam 478 aparelhos medidores de velocidade, avanços e invasão. “Incrementamos no ano passado os detectores de avanço em mais 44, chegando a um total de 271. Conseguimos também reduzir os radares de velocidade que sofriam com vandalismo e isso permitiu uma cobertura mais prolongada”, observa Rios.

O gerente conta que em praticamente todos os bairros mais movimentados há pedidos de instalação de radares e vagas especiais e que tudo isso é avaliado. “Quando destinamos certas vagas a pessoas com necessidades motoras, isso ocorre porque há serviços importantes para suas vidas na região e isso traz mais proximidade e conforto para esse cidadão. Quem invade acha que é um espaço subutilizado, mas não vê que obrigou uma pessoa que tinha direito a parar mais longe. No caso das cargas e descargas, isso ainda traz reflexos para o trânsito, por isso esses locais têm uma atenção maior da fiscalização”, afirma o gerente da BHTRans.

 

Desrespeito por todos os lados

No Bairro São Pedro, fila de carros fecha área da Rua São Domingos do Prata vedada para esse fim(foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)
No Bairro São Pedro, fila de carros fecha área da Rua São Domingos do Prata vedada para esse fim (foto: Edésio Ferreira/EM/DA Press)

O desrespeito às regras de trânsito não se restringe a uma única área da cidade. Na Savassi, tradicional bairro comercial e de serviços, estacionamento em área proibida e avanços de sinal saltam aos olhos. Na Rua Cláudio Manuel, que é rota para as instalações de um movimentado colégio da Região Centro-Sul, os semáforos são ignorados, com as fileiras de veículos fechando cruzamentos e se apossando até da faixa de pedestres.

Os pontos de ônibus são se tornam estacionamento com até três carros disputando a área com espaço mínimo entre um e outro. Enquanto isso, passageiros são obrigados a ficar sempre na rua para conseguir enxergar a chegada dos coletivos e a embarcar e desembarcar no meio da pista de rolamento quando o ônibus finalmente chega e para em fila dupla. O reflexo de tudo isso no trânsito também é imediato, com a redução de uma pista, agora ocupada por um ônibus, trazendo mais lentidão e abrindo oportunidades de manobras arriscadas de motociclistas pelos corredores de carros.

Problemas que também ocorrem em bairros residenciais, como o São Pedro, que é vizinho à Savassi e representa uma ligação importante entre as avenidas Nossa Senhora do Carmo e Uruguai com os bairros Santo Antônio e Cidade Jardim. Na Praça Dom Silvério, por exemplo, os veículos que acessam a Rua Lavras pela Major Lopes e pela Montes Claros fazem o que querem. Ingressam na contramão, abrem filas duplas pela contramão, estacionam em área de carga e descarga e até mesmo na pista de rolamento onde não há demarcação de vagas, ou seja, no meio da rua.

Na esquina com a Ruas São Domingues do Prata, um dos principais acessos para o Santo Antônio e a Cidade Jardim, a Major Lopes teve a pista tomada por estacionamentos clandestinos, que encolhem a capacidade da via. Isso se reflete em fileiras que atrapalham o tráfego das avenidas Uruguai e Nossa Senhora do Carmo. Na terça-feira, a reportagem do EM contabilizou nada menos do que nove veículos estacionados irregularmente em área destinada à circulação.

A principal via do bairro, a Rua Major Lopes, é onde ocorrem mais variedades de infrações. Na esquina com a Rua Rio Verde, o semáforo é sempre desrespeitado, obrigando pedestres a correr e os carros de sentido concorrente a esperar os infratores apressados. A faixa de pedestres desse local, por exemplo, já é prejudicada por ter metade de seu acesso tomado por uma árvore e um poste. A isso, soma-se ainda o estacionamento de carros e motos dos dois lados, praticamente bloqueando a área de travessia de pedestres.

“O desrespeito aqui se tornou regra e tem feito dessas ruas lugares mais perigosos. O movimento também é grande por haver muitos colégios na área. Passou da hora de termos uma fiscalização mais atuante”, disse a consultora de informática Maria Teresa Tavares, de 63 anos, moradora do bairro que teve dificuldades para passar pela faixa de pedestres bloqueada.
Os estacionamentos de carga e descarga também foram loteados por carros de passeio, obrigando entregadores e transportadores a formar filas duplas, num efeito cascata que paralisa o tráfego na região. Diante de sete carros invadindo uma das áreas de carga e descarga, o motorista de caminhão Hugo Machado Meireles, de 32, há 10 anos no ramo, afirma se tratar de situação recorrente em BH. “Isso é assim em todo o Centro. Aqui, na Avenida Paraná, na Afonso Pena. Ou chegamos bem mais cedo ou não tem lugar. A gente dá voltas, atrasa, para em fila dupla, atrapalha o trânsito e ainda leva multa”, lamenta.


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