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Estado de Minas

Fiéis celebram Padre Eustáquio e lotam igreja onde beato trabalhou

Toda a amplitude do lema 'Saúde e paz' foi lembrada ontem nas celebrações dos 75 anos da morte do beato, que precisa ter um milagre reconhecido para ser canonizado


postado em 31/08/2018 06:00 / atualizado em 31/08/2018 07:54

Devotos oram e depositam pedidos no túmulo do religioso(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PRESS)
Devotos oram e depositam pedidos no túmulo do religioso (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A PRESS)
Saúde e paz – o lema do beato Padre Eustáquio (1890-1943) foi lembrado, ontem, em Belo Horizonte, com sentido mais amplo do que as duas palavras que ele usava em seu trabalho pastoral e social. Durante as missas e demais celebrações religiosas na Paróquia dos Sagrados Corações (Igreja Padre Eustáquio), no Bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste de Belo Horizonte, muitos moradores e visitantes, a exemplo dos sobrinhos, que vieram da Holanda, afirmaram que, no mundo de hoje, “saúde e paz” se traduzem também por esperança, justiça, fraternidade, compreensão e fé na vida. A igreja ostenta o título de Santuário Arquidiocesano da Saúde e da Paz.


Desde bem cedo, os fiéis chegaram ao templo no qual foram celebradas missas de duas em duas horas, sendo a última (às 20h) presidida pelo arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo, e em referência aos 75 anos de morte do religioso que trabalhou na Região do Alto Paranaíba e na capital. No memorial que guarda os restos mortais do beato, homens, mulheres e crianças escreveram seus pedidos de graças e bênçãos, acenderam velas ou simplesmente rezaram com as mãos na lápide. “Vim aqui para pedir e agradecer. Para mim, ele já é santo”, contou a corretora de seguros Elizabeth Lúcia Oliveira de Jesus, moradora do Bairro Alípio de Melo, na mesma região.

Beatificado em cerimônia no estádio do Mineirão, na Pampulha, em 15 de junho de 2006, Padre Eustáquio está em processo de canonização, mas, para se tornar santo, é preciso que o Vaticano reconheça um milagre ocorrido após aquela data. “Temos o registro de muitas graças alcançadas, porém não temos a ocorrência de um milagre”, explicou o titular da Paróquia dos Sagrados Corações, padre Vinícius Maciel. Na avaliação do pároco, cerca de 25 mil fiéis deveriam passar, ontem, pela igreja. “No ano passado, 16 mil pessoas receberam a hóstia.”

Na avaliação do padre Vinícius, Padre Eustáquio era um “homem misericordioso”, capaz de dar atenção aos sofredores, pobres, doentes e às crianças. “A fé era o ponto fundamental para seu amor ao próximo. A maior lição que ficou é que é possível aliar, na atualidade, a religião, a religiosidade, com a vida real. Muitos, às vezes, costumam busca na religião algo externo, intimista, mas o Padre Eustáquio nos ensinou que a religião faz parte da vida concreta, do sofrimento humano, dos necessitados”, afirmou o pároco.

ARTE E FÉ Presentes à missa das 10h, com a participação de 1,2 mil pessoas e celebrada pelo padre Edmar Aparecido de Oliveira, ordenado há uma semana, os sobrinhos do beato – os irmãos Maria Velings, Will e Jan van den Boomen, e a sobrinha desse, Willenij – falaram sobre o orgulho de estar mais uma vez em BH, costume que começou na cerimônia de beatificação. “Ele tinha como lema ‘saúde e paz’, que vale para todo o mundo, no sentido de acabar com as desigualdades sociais”, afimou Jan.

Os devotos ocuparam o templo e outros espaços, como o memorial, em anexo, a entrada do teatro, na qual foi montada a sala dos milagres e de exposição de reportagens jornalísticas, esculturas, pinturas, retratos e objetos, e o velário. No palco do teatro, uma equipe gravava depoimentos de pessoas que alcançaram graças por intercessão de Padre Eustáquio, enquanto, nos degraus na frente da igreja, uma equipe de jornalistas holandeses, da mesma região do beato, realizava um documentário.

A professora aposentada Conceição de Sá Oliveira Mata, moradora do bairro vizinho Carlos Prates, visitou os retratos em companhia da filha Cláudia de Sá Oliveira Mata Silveira, casada e mãe de três filhos. Com os olhos brilhantes, Conceição lembrou que, em 1966, grávida de Cláudia, teve rubéola e foi orientada pelo médico a abortar. “Já estava com a guia de internação, mas decidi vir aqui à igreja e rezar, pedindo a intercessão do Padre Eustáquio. Já tinha dois filhos e aí veio esta princesa”, disse Conceição olhando para Cláudia, que trabalhou 30 anos em banco e se aposentou. “Nasci por causa dessa graça alcançada”, afirmou Cláudia.

O amor ao próximo foi sempre o sentimento que mais entusiasmou a enfermeira aposentada Aparecida Sampaio, moradora do Conjunto Santos Dumont, nas proximidades da igreja. “Gosto do Padre Eustáquio. É mais do que fé, de ficar rezando”, afirmou. Moradora da Região do Barreiro, a professora Vera Lúcia de Andrade confessou que estava à espera de uma graça. “Tenho certeza de que está para chegar”, disse com toda confiança. De terço na mão, a escritora e terapeuta holística Marlene Reis Barbosa, de 70, viúva, destacou que a mãe dela, Generosa, conheceu Padre Eustáquio. “Essa igreja é muito importante na minha vida, pois fui batizada, coroei Nossa Senhora e fiz primeira comunhão aqui. Tenho fé e considero Padre Eustáquio um santo.”

VIDA E OBRA Eustáquio van Lieshout nasceu na Holanda, em 1890, e aos 15 anos ingressou na Congregação dos Sagrados Corações, inspirado no exemplo de santidade do missionário São Damião de Molokai. Em 1919, foi ordenado sacerdote e continuou em seu país. Seis anos mais tarde, veio para o Brasil e fundou, junto com os padres Gil van den Boogaart e Matias van Rooy, a primeira comunidade da congregação no país.

Padre Eustáquio construiu o Santuário de Nossa Senhora da Abadia de Água Suja, em Romaria, na Região do Alto Paranaíba, e em seguida foi transferido para Poá (SP), onde se tem os primeiros relatos de milagres. A fama de santidade do chamado Vigário de Poá se espalhou por todo o país e, conforme as pesquisas, o incontrolável assédio das multidões levou seus superiores a afastá-lo da paróquia, em 1941. Viveu retirado em várias cidades paulistas, mineiras e na capital carioca.

Em 1942, o padre foi nomeado pároco em Belo Horizonte. Ficou apenas 1 ano e 4 meses na capital, o suficiente para deixar raízes profundas na espiritualidade do povo belo-horizontino. Mas uma repentina febre alta interrompeu este intenso apostolado e em 30 agosto de 1943 faleceu, vitimado por tifo exantemático ou febre maculosa, também chamada de febre do carrapato.

Conforme os relatos da época, incluindo a edição do Estado de Minas, o funeral foi uma verdadeira marcha triunfal. O túmulo, no Cemitério do Bonfim, continuou sendo visitado pelos fiéis, mas, com a construção da Igreja dos Sagrados Corações, o povo passou a chamá-la de Igreja Padre Eustáquio. O corpo de Padre Eustáquio foi exumado e trasladado para um túmulo dentro da igreja, em 1949, ficando até o ano de 2007, quando foi transferido para o Memorial, construído anexo ao templo.

 

Enquanto isso...

...PALCO A CAMINHO

Segundo o titular da Paróquia dos Sagrados Corações, padre Vinícius Maciel, Padre Eustáquio, durante o ano em que morou em Belo Horizonte, não só se preocupou com as ações pastorais e sociais, como também culturais. Embora na época em que viveu na capital (década de 1940) o terreno da igreja fosse um campo de futebol, ele idealizou um projeto com colégio, cinema, teatro e creche. Sobre o teatro, será inaugurado, ainda neste semestre, o Teatro Padre Eustáquio, ao lado da igreja, e em processo de restauração. Aberto para todas as manifestações artísticas, incluindo a exibição de peças, o espaço tem 500 assentos.

 

 

FESTA DA BEATIFICAÇÃO

Em 15 de junho de 2006, milhares de pessoas lotaram o estádio do Mineirão, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte, para participar da cerimônia de beatificação do Padre Eustáquio. Com a presença de autoridades do Vaticano, estava ali o reconhecimento público de uma vida heroica nas virtudes e no serviço. A festa foi realizada no dia de Corpus Christi, durante a 12ª Torcida de Deus, e recebeu a presença de delegações de vários estados brasileiros e até de religiosos latino-americanos. Como ocorreu ontem, muitos dos devotos aguardam agora a solenidade de canonização, quando, finalmente, o beato se tornará santo para os católicos.


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