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Estado de Minas

Fechada e sem sinal de obras, Igrejinha da Pampulha decepciona turistas

Templo foi fechado em novembro. Em plenas férias escolares, turistas têm de se contentar em ver o local pela porta de vidro. Conjunto arquitetônico recebeu, há exatos dois anos, título de patrimônio cultural da humanidade


postado em 17/07/2018 06:00 / atualizado em 17/07/2018 12:14

Grupo de 54 alunos e 10 professores do Mato Grosso do Sul teve que se contentar ontem com a vista externa da São Francisco de Assis, um dos ícones da arquitetura moderna (foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)
Grupo de 54 alunos e 10 professores do Mato Grosso do Sul teve que se contentar ontem com a vista externa da São Francisco de Assis, um dos ícones da arquitetura moderna (foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)

Hoje faz dois anos que o conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, recebeu o título de patrimônio cultural da humanidade, mas um dos ícones principais da arquitetura moderna brasileira causa apenas frustração a quem mora na capital ou vem de longe para visitá-lo. Fechada desde novembro e com atraso de dois anos e sete meses no início da restauração, a Igreja São Francisco de Assis apresenta “um ar de abandono”, segundo centenas de turistas que, em plenas férias de julho, procuram o monumento à beira da Lagoa da Pampulha para contemplar a paisagem, tirar fotos ou simplesmente curtir o período de descanso.

Há mais de um mês, a ordem de serviço das intervenções no templo foi assinada pelo prefeito Alexandre Kalil (PHS), pelo secretário Municipal de Cultura, Juca Ferreira, e pelo superintendente de Desenvolvimento da Capital, Henrique Castilho e, conforme constatou, ontem, o Estado de Minas, não há operários no local ou o menor sinal de formação do canteiro de obras. As intervenções, mais do que necessárias, na avaliação dos especialistas, fazem parte dos compromissos assumidos com a Unesco depois da entrega do título.

Na tarde ensolarada e com temperatura agradável de ontem, um grupo de 54 alunos e 10 professores de Campo Grande e Dourados (MS) chegou todo animado para visitar a igreja projetada por Oscar Niemeyer (1907-2012) no início da década de 1940, emoldurada pelos jardins de Burle Marx (1909-1994) e com os trabalhos de outros artistas, a exemplo de Cândido Portinari (1903-1962), Paulo Werneck (1903-1962) e Alfredo Ceschiatti (1918-1989). Tudo em vão, pois as portas estavam fechadas. “Essa reforma está demorando demais, a gente fica frustrada, pois traz os visitantes aqui e parece que nada vai adiante”, lamentou a guia de turismo Maria Battle, que não tem mais explicações para os grupos. A também guia Marci Francisca Alves também se sente frustrada a cada vez. “É o cartão-postal de Belo Horizonte, as pessoas querem entrar, ver, enfim, conhecer”, disse.

Mineiro morador de Campo Grande, o aluno de direito Daniel Monteiro está de partida para Portugal, onde vai estudar, e aproveitou a passagem por BH para se despedir. “Vim especialmente à igrejinha da Pampulha, um lugar muito bonito. Pena que está sempre fechada”, afirmou o jovem com pesar. Restou contemplar a lagoa, que, em 17 de julho de 2016, foi fundamental para que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconhecesse a Pampulha não só como patrimônio cultural da humanidade como também Paisagem Cultural. O conjunto é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e município.

Acompanhada de familiares mineiros, Rita Maria Catanhede, moradora de São Luís (MA), ficou triste ao ver os jardins sem trato e sem flores, a grama pisoteada e, principalmente, as portas fechadas. “Dá realmente um ar de abandono”, comentou. Assim como a pequena multidão que passava a tarde no entorno do templo católico – casais de noivos posando para fotos, famílias inteiras andando para lá e para cá, namorados trocando carinhos e outros personagens – Rita Maria se juntou a outros brasileiros e, com os olhos naturalmente curiosos dos turistas, procurou ver, através da vidraça, os traços da obra reconhecida em todo o mundo.

Daniel Monteiro, morador de Campo Grande:
Daniel Monteiro, morador de Campo Grande: "Vim especialmente à igrejinha da Pampulha, um lugar muito bonito. Pena que está sempre fechada" (foto: Ramon Lisboa/EM/DA Press)


PROJETO Considerada uma das joias da arquitetura moderna, a Igreja São Francisco de Assis está envolta num processo de restauração, que contemplará do piso ao forro, que mais parece uma novela. E das mais polêmicas – praticamente não sai do lugar. Conforme o EM publicou em 12 de junho, a ordem de serviço foi publicada na edição do Diário Oficial do Município (DOM) daquele data, determinando o prazo de 10 dias para início das obras, cujo valor é de R$ 1,075 milhão. Os recursos são provenientes do Programa de Aceleração (PAC) das Cidades Históricas. “O valor não é grande, mas é uma obra muito significativa e está inserida numa estratégia mais ampla”, disse, então, Juca Ferreira.

Pertencente à Arquidiocese de Belo Horizonte, a construção tem na trajetória recente alguns capítulos que desanimaram os belo-horizontinos: os tempos e contratempos no projeto de restauro, as idas e vindas no processo de licitação e, acima de tudo, o protesto das noivas com casamento marcado para o ano passado. A situação se agravou com os danos causados a dois dos 14 quadros recriando as cenas da via-sacra pintados por Cândido Portinari (1903-1962) e destaque do templo.

Os serviços começariam em novembro de 2016, mas esbarraram em mais de 200 casamentos marcados para aquele ano – só nos quatro meses que o templo está fechado, poderiam ter sido celebrados em torno de 50 matrimônios. O problema chegou a tal ponto que, em 30 de outubro de 2016, inconformados com um possível fechamento da igrejinha, casais de noivos fizeram uma manifestação na porta do templo. Na sequência, com interveniência do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), foi firmado um termo de ajustamento de conduta (TAC) entre as partes envolvidas, ficando decidido que a obra só começaria este ano. O dinheiro para o restauro, conforme já adiantou ao EM a superintendente do Iphan em Minas, Célia Corsino, está assegurado.

O EM entregou em contato com a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) para saber sobre o início das obras, mas, até o fechamento desta edição não obteve resposta.

Já na manhã desta terça-feira, a prefeitura de BH, por meio de nota da Sudecap, informou que "por ser uma obra em patrimônio tombado, são necessárias licenças para colocação de tapumes e de obra em patrimônio tombado". "Conforme previsto em edital, é de responsabilidade da empresa vencedora da licitação providenciar as licenças necessárias, que costumam demorar até 60 dias para serem emitidas. A Prefeitura de Belo Horizonte está empenhada para agilizar a liberação das licenças, que devem ser emitidas até o final desta semana, respeitando as exigências legais", finaliza o Executivo municipal. (Com Cristiane Silva)

 

Novela sem fim


» A Igreja São Francisco de Assis está fechada desde novembro e com atraso de dois anos e sete meses no início da sua restauração

» Em dezembro, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital informou que a igreja não havia sido formalmente entregue à PBH para execução de obras e que só depois que isso ocorresse poderia se responsabilizar pelos cuidados e obras no bem reconhecido pela Unesco.

» No fim de dezembro, a Arquidiocese de Belo Horizonte entregou as chaves do templo à Prefeitura de BH (PBH), depois de tentativas de sua parte e sucessivas recusas de setores municipais, com relato da situação ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG).

» No pacote da entrega estavam adiamentos ao longo de 2015 e 2016, protesto de noivas com casamento marcado para 2017 e que corriam risco da não realização no local, e reuniões no MPMG, instituição na qual foi firmado termo de ajustamento de conduta (TAC) entre as partes envolvidas.

» Em 12 de junho, o prefeito Alexandre Kalil e outras autoridades municipais assinaram a ordem de serviço para início das obras num prazo de 10 dias, que já expirou

 

Dia de glória

(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press - 18/7/16)
(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press - 18/7/16)

O conjunto arquitetônico moderno da Pampulha se tornou patrimônio cultural da humanidade em 17 de julho de 2016, durante a realização da 40ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O encontro, com a presença de representes da Fundação Municipal de Cultura/Prefeitura de Belo Horizonte, ocorreu no Centro de Convenções de Istambul, na Turquia. A aprovação dos conselheiros foi por unanimidade. Além da chamada igrejinha da Pampulha, o conjunto interligado pela lagoa inclui o Museu de Arte da Pampulha (MAP), a Casa do Baile e o Iate Tênis Clube. No dia seguinte, queima de fogos e iluminação especial do templo celebraram a concessão do título (foto). 


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