
Mas o gasto pode pesar também nos bolsos de empregadores. Gilda Aparecida mora em General Carneiro, em Sabará, na Grande BH, e vai todos os dias para o Bairro Calafate, Oeste da capital mineira. Ela recebe um salário-mínimo e diz que, se tiver de pagar R$ 3,40 no metrô, precisará achar uma solução com o patrão. “Paguei R$ 3,40 hoje (ontem) com dor no coração. O que me incomoda mais é que o metrô não tem qualidade para valer esse preço de passagem. Espero ter um aumento para conseguir pagar esse valor”, diz Gilda, que gastava R$ 13,10 por dia e, com os novos valores, passaria a desembolsar R$ 16,30, um impacto de cerca de R$ 70 por mês.
A cuidadora de idosos Marineide Silva Lopes, de 47, que trabalha como autônoma fazendo plantões em locais que a contratam frequentemente, conta que arca com 100% do valor gasto com transporte. Moradora do Bairro Calafate, Oeste de BH, ela usa o metrô com frequência e já admite cortar alguma despesa para dar conta do aumento de 88,9% na passagem, caso ele se confirme. “Eu me mudei de Betim para o Calafate justamente para gastar menos, com a opção de ficar perto do metrô. O jeito vai ser diminuir algum gasto para compensar”, diz ela, que ganha pouco mais do que dois salários-mínimos, em média, por mês.
O economista André Veloso, que integra o movimento Tarifa Zero, fez um levantamento com base no banco de dados da Pesquisa Origem e Destino de 2012, conduzida pela Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de BH, e obteve números que mostram que 74% das pessoas que usam o metrô recebem até R$ 1.908, valor de dois salários-mínimos (veja quadro). A pesquisa é feita de 10 em 10 anos e é o principal retrato da mobilidade na região metropolitana.
Para chegar aos números, André agrupou todas as respostas à pesquisa que apontaram deslocamentos pelo modo “metrô/trem metropolitano” e, em seguida, o dado foi agregado pelas faixas de rendas estabelecidas e pelo somatório do campo “fator de expansão”. Esse campo dá a dimensão de representatividade no conjunto pesquisado para cada uma das respostas da pesquisa, feita por amostra. Além disso, as faixas de renda da pesquisa de 2012 foram agrupadas para possibilitar a comparação com o levantamento de 2002. Naquele ano, o percentual de pessoas que ganhavam até dois salários-mínimos e usavam no metrô era de 41,19%.
Para o economista, isso mostra que é importante investir em políticas de subsídio ao transporte público, com um modelo de financiamento que não seja composto apenas pela tarifa paga pelos que usam o serviço. Apesar de não ter feito o mesmo levantamento, o coordenador técnico da Pesquisa Origem e Destino de 2012, Paulo Rogério Monteiro, informou que os dados compilados por André são reforçados pelas características do metrô. “Por não ser um transporte fácil, o metrô se torna diferencial para quem de fato precisa pagar uma passagem mais barata, que são as pessoas de renda mais baixa”, afirma. (Com Sílvia Pires e Simon Nascimento, estagiários sob supervisão do editor Roney Garcia)
