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Estado de Minas

Febre amarela: cresce ris­co de con­ta­mi­na­ção urbana

Mi­nas che­ga à sex­ta mor­te por fe­bre ama­re­la no ano e, mes­mo os ca­sos con­fir­ma­dos sen­do da for­ma sil­ves­tre, ame­a­ça ur­ba­na cresce. Qua­tro dos epi­só­di­os fo­ram em ci­da­des da RM­BH


postado em 11/01/2018 06:00 / atualizado em 11/01/2018 07:53

Detalhe do Bairro Cascalho, em Nova Lima, onde há um paciente com suspeita de ter a doença: município já registrou dois óbitos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Detalhe do Bairro Cascalho, em Nova Lima, onde há um paciente com suspeita de ter a doença: município já registrou dois óbitos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
A fe­bre ama­re­la se apro­xi­ma da área ur­ba­na e dei­xa em aler­ta a Re­gi­ão Me­tro­po­li­ta­na de Be­lo Horizonte. De­pois de fa­zer ví­ti­mas na zo­na ru­ral de Bru­ma­di­nho, a do­en­ça ma­tou du­as pes­so­as em No­va Li­ma em bair­ros da ci­da­de ro­de­a­dos de ve­ge­ta­ção e dei­xou ou­tras du­as in­ter­na­das na ca­pi­tal com sus­pei­ta de contaminação. Des­de me­a­dos de de­zem­bro, se­te ca­sos fo­ram con­fir­ma­dos em Mi­nas Ge­rais, sen­do seis óbi­tos, de acor­do com o bo­le­tim epi­de­mi­o­ló­gi­co di­vul­ga­do on­tem pe­la Se­cre­ta­ria de Es­ta­do de Saú­de (SES). Além da Gran­de BH, o ris­co avan­ça tam­bém pe­la Zo­na da Ma­ta e Cen­tro-Oes­te, re­gi­õ­es on­de três das seis mor­tes fo­ram registradas. A SES afir­ma que to­dos os ca­sos são da for­ma sil­ves­tre, mas, mes­mo as­sim, in­ves­ti­ga o lo­cal de infecção.

Em No­va Li­ma, fo­ram re­gis­tra­dos cin­co ca­sos, sen­do con­fir­ma­dos dois óbitos. Um pin­tor de 51 anos, no­va­li­men­se que mo­ra­va em São Pau­lo (es­ta­do que tam­bém en­fren­ta a do­en­ça) e che­gou à ci­da­de pa­ra pas­sar as fes­tas de fim de ano com a fa­mí­lia, mor­reu no sá­ba­do, no Bair­ro Ho­nó­rio Bicalho. Um ou­tro ho­mem, mo­ra­dor da ci­da­de, mor­reu se­gun­da-fei­ra, no Bair­ro San­ta Rita. Uma ter­cei­ra mor­te ini­ci­al­men­te sus­pei­ta foi des­car­ta­da pa­ra a doença. Dois pa­ci­en­tes dos bair­ros San­ta Ri­ta e Cas­ca­lho (es­te qua­se no Cen­tro do mu­ni­cí­pio) que apre­sen­ta­ram sin­to­mas na ter­ça-fei­ra es­tão in­ter­na­dos no Hos­pi­tal Eduar­do de Me­ne­zes, em BH. Os ca­sos ain­da es­tão em investigação. Um de­les tam­bém é de mi­nei­ro que mo­ra em São Pau­lo e es­ta­va na ci­da­de pa­ra as co­me­mo­ra­çõ­es de Na­tal e ano novo. Os qua­tro re­gis­tros são de ho­mens na fai­xa de 40 a 48 anos.

“É pos­sí­vel uma con­ta­mi­na­ção ur­ba­na, mas, em­bo­ra os pa­ci­en­tes es­ti­ves­sem em bair­ros, to­dos eles fre­quen­ta­ram área de ma­ta pa­ra se ba­nhar em cachoeiras. En­tão, é pre­ci­so uma in­ves­ti­ga­ção ri­go­ro­sa so­bre is­so”, afir­ma o se­cre­tá­rio Mu­ni­ci­pal de Saú­de, Jo­sé Ro­ber­to Machado. “A fa­mí­lia do pin­tor, por exem­plo, in­for­mou no pron­tu­á­rio que ele já ti­nha al­guns sintomas. Daí, a ne­ces­si­da­de de apro­fun­dar se ele pe­gou a do­en­ça em No­va Li­ma ou em São Paulo. Mas, in­de­pen­den­te­men­te do lo­cal, a si­tu­a­ção nos pre­o­cu­pa”, diz. As fa­mí­li­as es­tão sen­do con­sul­ta­das pa­ra in­for­mar da­dos pre­gres­sos dos pacientes. “Al­guns re­la­ta­ram do­res bem an­tes de es­ta­rem aqui”, diz o secretário.

Se­gun­do Ma­cha­do, a ci­da­de tem co­ber­tu­ra va­ci­nal de 96%, além da me­ta es­ta­be­le­ci­da pe­lo es­ta­do (95%). “Is­so sig­ni­fi­ca 4 mil pes­so­as sem a proteção. No­va Li­ma é uma ci­da­de turística. Te­mos a re­gi­ão de Ma­ca­cos e vá­ri­os even­tos no Jar­dim Ca­na­dá, que é pra­ti­ca­men­te uma ex­ten­são de BH e atrai vá­ri­as pes­so­as de fo­ra”, acres­cen­ta o secretário. En­tre as me­di­das ado­ta­das es­tão a in­ten­si­fi­ca­ção da vacinação. Nos bair­ros on­de hou­ve no­ti­fi­ca­çõ­es, 20 equi­pes de saú­de da fa­mí­lia têm a ta­re­fa de ori­en­tar a po­pu­la­ção de ca­sa em ca­sa e, ago­ra, es­tão acom­pa­nha­das por um téc­ni­co em en­fer­ma­gem, um en­fer­mei­ro e a va­ci­na pa­ra que a do­se se­ja apli­ca­da ime­di­a­ta­men­te em quem não es­tá com a imu­ni­za­ção em dia.

(foto: Arte/EM)
(foto: Arte/EM)


No Con­do­mí­nio Al­pha­vi­l­le, que fi­ca no mu­ni­cí­pio, tam­bém se­rá mon­ta­do um pos­to de vacinação. Agen­tes de en­de­mi­as es­tão nas ru­as pa­ra fa­zer o Le­van­ta­men­to de Ín­di­ce Rá­pi­do do Ae­des ae­gyp­ti (Li­raa) e tam­bém o com­ba­te ao mosquito. De acor­do com o se­cre­tá­rio, o es­ta­do fa­rá ras­tre­a­men­to na re­gi­ão em bus­ca de pri­ma­tas mor­tos ou vi­vos que pos­sam ter o ví­rus da fe­bre amarela. Des­de o iní­cio do ano pas­sa­do, fo­ram en­con­tra­dos 34 ma­ca­cos com sus­pei­ta de por­tar a do­en­ça em No­va Li­ma: 20 ca­sos fo­ram des­car­ta­dos, em cin­co não foi pos­sí­vel co­lher ma­te­ri­al e seis ain­da es­tão em investigação.

Ou­tra mu­dan­ça é no aten­di­men­to aos pa­ci­en­tes: aque­les com sin­to­mas mais gra­ves não se­rão cui­da­dos na ci­da­de, mas trans­fe­ri­dos ime­di­a­ta­men­te pa­ra o Hos­pi­tal Eduar­do de Me­ne­zes, re­fe­rên­cia pa­ra o tra­ta­men­to da fe­bre amarela. De acor­do com a Fun­da­ção Hos­pi­ta­lar do Es­ta­do de Mi­nas Ge­rais (Fhe­mig), três pa­ci­en­tes es­tão in­ter­na­dos na uni­da­de de saú­de com sus­pei­ta da do­en­ça, to­dos do se­xo masculino. Um es­tá no CTI e os ou­tros na enfermaria. O es­ta­do de saú­de de­les é estável.

IN­VES­TI­GA­Ç­ÃO Os ca­sos da do­en­ça con­fir­ma­dos em Mi­nas Ge­rais são tra­ta­dos co­mo sen­do a for­ma silvestre. Mes­mo as­sim, es­tão sen­do in­ves­ti­ga­dos o pro­vá­vel lo­cal de infecção. “Até o mo­men­to, to­dos os ca­sos são con­si­de­ra­dos co­mo fe­bre ama­re­la sil­ves­tre, já que não há com­pro­va­ção de li­ga­ção do Ae­des ae­gyp­ti no ci­clo de transmissão. O que di­fe­re o ci­clo sil­ves­tre do ur­ba­no é o ve­tor res­pon­sá­vel pe­la transmissão. Pe­las ca­rac­te­rís­ti­cas das lo­ca­li­da­des, os ve­to­res são do ci­clo sil­ves­tre”, in­for­mou em no­ta a SES.

Mes­mo as­sim, a pas­ta ori­en­tou os mu­ni­cí­pi­os a pro­mo­ver açõ­es de con­tro­le do Ae­des, con­si­de­ra­do pe­la se­cre­ta­ria co­mo “um po­ten­ci­al ve­tor da do­en­ça”. A pas­ta ad­mi­te que po­de ha­ver ca­sos da for­ma ur­ba­na, mas, que, nes­sas áre­as, a co­ber­tu­ra va­ci­nal es­tá alta. “Ape­sar de exis­tir o ris­co de trans­mis­são do ci­clo ur­ba­no (trans­mis­são pe­lo Ae­des), em Mi­nas Ge­rais te­mos al­tas co­ber­tu­ras, prin­ci­pal­men­te nas áre­as urbanas. Os ca­sos es­tão con­cen­tra­dos em mo­ra­do­res de áre­as ru­rais ou pe­riur­ba­nas, com ca­rac­te­rís­ti­cas do ci­clo sil­ves­tre”, afir­mou no documento. So­bre os ca­sos de No­va Li­ma, a SES in­for­mou que eles es­tão se con­cen­tra­dos em áre­as pe­riur­ba­na, “com pre­sen­ça im­por­tan­te de co­ber­tu­ra ve­ge­tal”.

O in­fec­to­lo­gis­ta Unaí Tu­pi­nam­bás afir­ma que, des­de o iní­cio do sur­to, em ja­nei­ro do ano pas­sa­do, há pos­si­bi­li­da­de de con­ta­mi­na­ção ur­ba­na, jus­ta­men­te por ha­ver um mos­qui­to em comum. “Por is­so é tão im­por­tan­te que as au­to­ri­da­des de saú­de fa­çam o con­tro­le de ve­to­res e in­cen­ti­vem a vacinação. Mais do que nun­ca, as pes­so­as têm que pro­cu­rar as uni­da­des bá­si­cas de saú­de”, ressalta. Ele diz que os úl­ti­mos da­dos mos­tram um ris­co ca­da vez mais próximo. “Não se po­de afir­mar o ti­po de con­tá­gio, até por­que as pes­so­as (que mor­re­ram ou es­tão sob sus­pei­ta da do­en­ça) ti­ve­ram con­ta­to com área silvestre. Mas as au­to­ri­da­des sa­bem do ris­co ca­da vez maior. O cer­co es­tá se apertando. Por is­so, mais do que nun­ca é im­por­tan­te va­ci­nar e di­mi­nuir o ín­di­ce de in­fes­ta­ção do Ae­des nas gran­des cidades.”

 

Duas vítimas na Zo­na da Ma­ta

 

Uma das úl­ti­mas mor­tes re­gis­tra­das em Mi­nas Ge­rais em de­cor­rên­cia da fe­bre ama­re­la ocor­reu em Mar de Es­pa­nha, ci­da­de de 12,7 mil pes­soas, lo­ca­li­za­da na Zo­na da Ma­ta. A ví­ti­ma é um ven­de­dor que mo­ra­va no Cen­tro da ci­da­de. “Ele mor­reu na úl­ti­ma quin­ta-fei­ra (dia 4), de­pois de 15 dias do iní­cio dos sin­to­mas. A ví­ti­ma não foi va­ci­na­da e tra­ba­lha­va no se­tor de ven­das em 10 ci­da­des”, ex­pli­cou o pre­fei­to We­lling­ton Mar­cos Ro­dri­gues (PS­DB).

As ações con­tra a doen­ça já ti­nham co­me­ça­do na ci­da­de an­tes da mor­te do ho­mem por cau­sa do en­con­tro de cor­pos de pri­ma­tas. Um par­que do mu­ni­cí­pio e até cam­pos de fu­te­bol fo­ram fe­cha­dos. “Es­ta­mos in­ten­si­fi­can­do a va­ci­na­ção até com pes­soas fo­ra da fai­xa etá­ria de 9 me­ses de vi­da e 59 anos. Mé­di­cos es­tão de pron­ti­dão pa­ra aten­der os ido­sos, ges­tan­tes, lac­tan­tes e pes­soas com doen­ças crô­ni­cas pa­ra fa­zer ava­lia­ções. Com au­to­ri­za­ção do pro­fis­sio­nal, a do­se po­de ser apli­ca­da”, ex­pli­cou o pre­fei­to.

Pos­tos de saú­de fi­ca­rão aber­tos no mu­ni­cí­pio até mes­mo no sá­ba­do, das 8h às 16h. “Es­ta­mos tam­bém fa­zen­do a bus­ca ati­va nas ca­sas e a lim­pe­za e hi­gie­ne dos imó­veis. Re­ce­be­mos a au­to­ri­za­ção ju­di­cial pa­ra a en­tra­da com­pul­só­ria em ter­re­nos pa­ra eli­mi­nar os fo­cos do mos­qui­to Ae­des ae­gyp­ti”, com­ple­tou. Se­gun­do Ro­dri­gues, foi a pri­mei­ra mor­te por fe­bre ama­re­la na co­mu­ni­da­de. Ou­tra mor­te na Zo­na da Ma­ta acon­te­ceu em Bar­ra Lon­ga. O Es­ta­do de Mi­nas en­trou em con­ta­to com a Pre­fei­tu­ra da ci­da­de pa­ra sa­ber de­ta­lhes so­bre o ca­so, mas as li­ga­ções não fo­ram aten­di­das.

Em Car­mo da Ma­ta, na Re­gião Cen­tro-Oes­te, um to­pó­gra­fo, de 38 anos, mor­reu no dia 3. Se­gun­do a Pre­fei­tu­ra da ci­da­de, ele era ca­sa­do e es­ta­va in­ter­na­do no CTI do Hos­pi­tal São Ju­das Ta­deu, na ci­da­de vi­zi­nha de Oli­vei­ra. Os sin­to­mas co­me­ça­ram em 30 de de­zem­bro. A ad­mi­nis­tra­ção mu­ni­ci­pal in­for­mou que ele ti­nha ca­sa na área ur­ba­na e um sí­tio na zo­na ru­ral, no lu­ga­re­jo de For­qui­lha. Es­sa tam­bém foi a pri­mei­ra mor­te em de­cor­rên­cia da doen­ça na ci­da­de. Uma gran­de pro­cu­ra por va­ci­na é re­gis­tra­da no mu­ni­cí­pio.

A pri­mei­ra mor­te por fe­bre ama­re­la no pe­río­do 2017/2018 foi de um mo­ra­dor da zo­na ru­ral de Bru­ma­di­nho, na Gran­de BH. O ho­mem ti­nha 51 anos e co­me­çou a ter os sin­to­mas em 25 de de­zem­bro. Exa­mes fei­tos pe­la Fun­da­ção Eze­quiel Dias (Fu­ned) con­fir­ma­ram a doen­ça. Ele mor­reu no fim do mês pas­sa­do. Um vi­zi­nho do pa­cien­te, de 37, tam­bém con­traiu a en­fer­mi­da­de. Ele foi le­va­do pa­ra um hos­pi­tal do Es­pí­ri­to San­to pe­la fa­mí­lia, on­de se­gue tra­ta­men­to.

 

 


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