
Diante da boneca, que faz parte da exposição Belo Horizonte 120 anos – Primeiros registros, em exibição no Museu Mineiro, Izabel contou com brilho nos olhos a trajetória do brinquedo, pertencente, nos primórdios, à menina Alice da Silveira, uma das crianças com idade em torno de 12 anos participantes do sorteio, em 30 e 31 de julho de 1895, dos lotes destinados a funcionários públicos e novos moradores de BH. Como presente da Comissão Construtora da Nova Capital, chefiada pelo engenheiro Aarão Reis (1853-1936), ela recebeu a peça fabricada por Georg Gebert no estilo pariser schick ou chique parisiense em bom português.
Ao lado da boneca está exposta carta datada de 1º de março de 1981 e entregue a Izabel pela irmã de Alice, Ethelvita da Silveira. “Morava na Rua Montes Claros, no Bairro Anchieta (Região Centro-Sul de BH) e sempre via, do outro lado da rua, uma senhora solitária, sentada na varanda da sua casa. Resolvi ir lá conversar e ela, muito gentil, me oferecia café com bolo. Ficamos amigas até que, certa vez, me mostrou a boneca e disse que gostaria de me presentear com aquela lembrança”, conta Izabel.
Apontando detalhes do brinquedo, como o vestido em forma de pétalas, o laçarote no cabelo, bem à moda da época e os sapatinhos pretos, Izabel continua a contar a trajetória: “Recusei o presente e falei que só ficaria com a boneca se pagasse. Com muito custo, Ethelvita aceitou o dinheiro”. Com grande senso de história e ciente da importância do relato para o futuro da cidade, que completou 120 anos no dia 12, Izabel pediu que a amiga escrevesse uma carta com os detalhes. “Pensei em doá-la de imediato ao museu, mas Ethelvita pediu que eu ficasse um tempo com ela. Agora, perto de me aposentar, decidi doá-la ao Museu Mineiro”, afirma a fotógrafa.

Presente à cerimônia realizada em 19 de dezembro, que reabriu a Sala das Sessões do Museu Mineiro, fechada há quase seis anos, o secretário de Estado da Cultura, Angelo Oswaldo, lembrou que a bonequinha é um ícone da implantação de BH. “Representa a primeira criança e as primeiras famílias da cidade”, disse Angelo Oswaldo. Lembrando a generosidade da doação, a presidente do Iepha, Michele Arroyo, destacou a valorização do patrimônio da cidade e disse que há uma rede de informações e conhecimento sobre a história de BH, formada pelo Museu Mineiro, Arquivo Público Mineiro, Arquivo Público da Cidade de Belo Horizonte e Museu Histórico Abílio Barreto. Para a superintendente de Museus e Artes Visuais, Andréa de Magalhães Matos, “trata-se de um mimo, uma delicadeza, que deverá criar um vínculo com o público infantil”.
REABERTURA Quase seis anos longe dos olhos dos moradores e visitantes, a Sala das Sessões do Museu Mineiro reabriu as portas completamente restaurada e com nova adequação das obras de arte, valorizando, assim, o acervo com seis telas de autoria de Manuel da Costa Ataíde (1762-1830), mestre do Barroco, e de outros expoentes da pintura. Na celebração dos 120 anos da capital, a reinauguração do espaço marca a conclusão das intervenções no prédio da Avenida João Pinheiro, antiga sede do Senado Mineiro, e os 35 anos da unidade vinculada à Secretaria de Estado da Cultura. A exposição Belo Horizonte 120 anos – Primeiros registros conta com mais de cem obras do Museu Mineiro, Arquivo Público Mineiro e Iepha.
O casarão da Avenida João Pinheiro, antes de abrigar o Museu Mineiro, teve múltiplas serventias – residência de secretários de governo no início de BH, Senado e na década de 1960 a 1981, Pagadoria do Estado. Hoje, leva os visitantes a fazer uma viagem sensorial ao caminhar por ambientes distintos e admirar imagens, oratórios e prataria, a maioria originária da Coleção Geraldo Parreiras, adquirida pelo estado em 1978. Na Sala das Colunas, causa impacto o pórtico de madeira trabalhada, com anjos, que pertenceu a uma igreja, já demolida, do interior. Nas vitrines, é de encher os olhos as imagens de Santana Mestra, São José de Botas, Nossa Senhora da Conceição e outros santos.
O visitante vai encontrar muitas preciosidades: a colher de pedreiro que assentou a primeira pedra da construção da Cidade de Minas, nome anterior a Belo Horizonte – a ferramenta, com inscrição datada de 7 de setembro de 1895, tem lâmina de ouro e prata e cabo de madeira; o livro contando a festa do Triunfo Eucarístico, realizada em Ouro Preto em 21 de maio de 1733 e considerada pelos estudiosos uma das mais ricas e belas do Brasil colonial; um relógio pertencente a Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), e outros objetos que contam parte da história de Minas. Na Sala das Sessões, vale a pena ficar longos minutos observando o quadro A má notícia, datado de 1897 e de autoria do mineiro Belmiro de Almeida (1858-1935).
Serviço
Museu Mineiro: Avenida João Pinheiro, 342 – Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte
Aberto às terças, quartas e sextas, das 10h às 19h; às quintas, das 12h às 21h; e sábados e domingos, das 12h às 19hzelefones: (31) 3269-1103 e 1106 (visitas de grupos devem ser marcadas com antecedência) Entrada franca
