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Estado de Minas BH 120

BH 120 anos: especialistas dizem o que é preciso para garantir um futuro melhor

No dia do aniversário, especialistas avaliam missões que a capital precisa enfrentar para se projetar como uma cidade ao mesmo tempo acolhedora e antenada com as exigências do futuro


postado em 12/12/2017 06:00 / atualizado em 12/12/2017 11:45

(foto: Leandro Couri/EM/DA Press - 21/12/2016)
(foto: Leandro Couri/EM/DA Press - 21/12/2016)

Uma capital em constante transformação, traduzida em inúmeras obras e projetos. Na visão de uns, uma Belo Horizonte condenada a ser sempre a cidade do futuro; na de outros, com planejamento e gestão baseados em modelos que precisam ser revistos. Na comemoração dos 120 anos de fundação de BH, difícil não pensar nos desafios para as próximas décadas. Para elas, é preciso superar problemas de forma inovadora, na opinião de especialistas em urbanismo. Deixar no passado vícios da época da construção e pensar em uma cidade de pessoas e para pessoas, muito além dos limites da Avenida do Contorno, acolhendo quem por anos ficou à margem do crescimento.

O arquiteto Rodrigo Andrade, um dos integrantes do Instituto Horizontes, avalia que a capital se transforma a cada dia, sem respeito a monumentos e meio ambiente. “A cidade se expande sem limites e os cidadãos participam de quase nada. Transporte público é tratado com negligência e, apesar de terem sido criados critérios mais ou menos restritos à verticalização, ela continua”, alerta. “Não vejo mais nada do que havia há 75 anos, quando nasci. É preciso consciência e participação ativa dos cidadãos na vida da cidade.”

Presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Rose Guedes considera que o maior desafio é projetar uma cidade com prioridade para as pessoas. Para isso, ela diz ser necessário qualificar o espaço público e a mobilidade, com ênfase no transporte coletivo. “Enquanto não tivermos um olhar para a pessoa, continuaremos em uma cidade perversa. É preciso qualificar espaços para moradores, e não para carros. Qualificar o adensamento populacional para pessoas de baixa renda. A cidade é um conjunto de tudo isso”, afirma.

O arquiteto e urbanista Sérgio Myssior se diz otimista em relação a uma capital com incrível capacidade de se reinventar, não por ignorar números e problemas atuais, mas por ver nesse emaranhado de 120 anos expectativa de soluções para problemas que se perpetuam. Para ele, a BH nascida de ideias positivistas estimulou o acesso de pessoas ligadas ao Estado ou com média e alta renda, tendo relegado à periferia o restante da população. Começavam ali os conflitos entre uma cidade planejada e a real. A partir dos anos 1940, a capital se desenvolve industrialmente e vê chegar o fluxo de moradores do entorno, em busca de oportunidades de cultura, saúde e educação. Desequilíbrio que se ampliou com a criação da região metropolitana, na década de 1970, e que ainda é latente. Por isso, na opinião do arquiteto, pensar, planejar e gerir a capital significa, desde então, pensar, planejar e gerir a Grande BH. Veja abaixo uma lista de desafios para a cidade e seus vizinhos, na visão do especialista.

 

 

Como será o amanhã


Confira alguns dos principais desafios para os próximos 120 anos, na avaliação do arquiteto e urbanista Sérgio Myssior

 

 

» Transporte
Conceber um modal coletivo, com incentivo ao pedestre e não poluente (limpo e renovado)

» Habitação de interesse social
Desde sua criação, BH convive com problemas de déficit habitacional, que hoje gira em torno de 70 mil unidades de interesse social. “É um número extraordinariamente grande, e isso exige solução não só do ponto de vista quantitativo, mas de qualidade. Há pessoas com moradia, mas o número se multiplica em relação a quem está em áreas sem saneamento ou de risco”, analisa Sérgio Myssior. Para ele, o ponto-chave a se pensar é um tipo de política que se preocupe com redução ou eliminação do déficit, mas não olhe só a quantidade. “Precisamos de todos os segmentos convivendo no mesmo tecido urbano”, diz. A solução pode passar pelo Plano Diretor da cidade, aprovado em conferência e à espera de ser encaminhado à Câmara Municipal, que prevê que parte do recurso arrecadado com a outorga onerosa (venda de coeficiente de construção) seja revertido para habitação.

» Drenagem urbana

Chuvas e secas a cada ano mais intensas se sucedem em uma cidade que impermeabilizou seu solo. De um lado, há as propriedades que não preservaram seu terreno natural. De outro, a transformação de grande parte dos cursos d’água em avenidas sanitárias. “Há 700 quilômetros de córregos em BH. Um terço disso virou avenida, o outro terço está em processo avançado de degradação e o restante está bem cuidado. Ou seja, temos dois terços com necessidade de serem preservados e recuperados”, relata Myssior. Uma solução, de acordo com ele, é a instalação de caixas de reposição, que retêm volume de chuva, em prédios já construídos e o incentivo para que novas construções mantenham áreas de terreno natural e instalem equipamentos de retenção de água, que retornará ao lençol freático.


» Resíduos sólidos
O desafio de BH passa por comprometimento e uma visão integrada com sustentabilidade, concentrada em questões do cotidiano, incluindo o envolvimento dos cidadãos. Assim, independentemente de coleta seletiva, adotar o consumo consciente é uma das saídas. “Devemos adotar instrumentos não só punindo, mas também premiando o bom comportamento, como forma de incentivo”, analisa Myssior. Com 30% do lixo da cidade potencialmente reciclável e outros 70% potencialmente compostável, aproveitar esse recurso é a alternativa à obrigação de, literalmente, pagar para jogar o lixo fora.

» Abastecimento de água
Resíduos, abastecimento e mobilidade devem ter pensamento integrado e metropolitano, na visão do urbanista. “Pesquisa recente indicou que apenas um terço das 100 maiores cidades brasileiras tem esgoto tratado. Como falar de falta de água se continuamos a jogar esgoto in natura nos rios e córregos?”, questiona Myssior. “Precisamos, primeiro, parar de poluir. E para isso há uma questão elementar: saneamento básico. Depois, cuidar do que existe, com recomposição de áreas degradadas e matas ciliares”, completa. Ele ressalta o pacto da Trama Verde Azul, discutido mês passado na 6ª Conferência Metropolitana da RMBH. Lei adotada na França desde 2009 consiste na estruturação de corredores urbanos para a reconstrução da paisagem, com nichos ecológicos e recursos hídricos como suporte ao desenvolvimento da metrópole.

» Protagonismo popular
A participação da população é o elemento central para que os desafios sejam vencidos. “Desde a Constituição de 1988 e depois do Estatuto das Cidades, de 2001, a participação nesse planejamento de gestão é um dos novos elementos transformadores para os próximos 120 anos”, ressalta o arquiteto e urbanista Sérgio Myssior.


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