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Estado de Minas

Moradores de Santa Luzia se mobilizam para encontrar medula para vítima de leucemia

Paciente é uma moradora da cidade que hoje vive em São Paulo. Redes semelhantes alimentam cadastro usado em todo o mundo


postado em 13/03/2017 06:00 / atualizado em 13/03/2017 07:58

Numa ponta, uma mineira de Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, trava uma corrida contra o tempo na batalha pela vida. Na outra, um mineiro de Poços de Caldas, no Sul do estado, fará essa mesma luta, enfrentada por um desconhecido, ter um final feliz. Duas trajetórias marcadas por uma história de solidariedade. Por ela, uma cidade inteira está se mobilizando para encontrar um doador compatível de medula óssea e ganhar o combate contra a leucemia. Por causa do gesto dele, fruto de uma campanha na empresa onde trabalha para ser doador, um morador de Belo Horizonte verá terminada a angústia de dias incertos.

Mesmo vivendo em São Paulo, a doença da administradora Adriane Carvalho Guimarães, de 56 anos, mobilizou os moradores de sua cidade natal para que a luta da conterrânea seja não apenas dela, mas de todos. As irmãs Rejane e Duli Guimarães e as amigas Bianca Lima e Kátia Viana Chagas lançaram uma campanha em busca de um doador. Pelas redes sociais, em igrejas católicas e evangélicas, nas escolas, em organizações sociais do município o pedido é um só: para que as pessoas procurem a Fundação Hemominas para se cadastrar e integrar o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). É na medula óssea, tecido líquido-gelatinoso que ocupa o interior dos ossos, que são produzidos os componentes do sangue: hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas.

DIAGNÓSTICO Adriane descobriu a doença em maio do ano passado. Acordou com dor na boca, procurou um dentista, que não encontrou nada de anormal. Receitou anti-inflamatório e antibiótico e, ao fim de uma semana, ela ainda se sentia mal. Outro profissional indicou um exame de sangue para averiguar uma possível inflamação no corpo, embora tenha corroborado o diagnóstico do colega. No dia seguinte, num domingo, o laboratório ligou pedindo que ela procurasse um hematologista com urgência, por casa de alterações no exame. Na segunda, foi sua primeira providência. No mesmo dia, ela se consultou e se internou com diagnóstico de leucemia mieloide aguda, para a primeira sessão de quimioterapia. Estava já com 89% de células ruins no corpo. “Nunca imaginei que isso poderia ocorrer comigo, pois sou extremamente ativa, trabalho, sempre pratiquei esportes, minha alimentação é saudável, como nada de gordura”, diz.

A doença surpreendeu e voltou, dando sinais de que o corpo não mais produzia as células de que precisava. A indicação foi de transplante e, então, começou a busca por doador. Uma das irmãs e um dos filhos são doadores compatíveis apenas 50% e, diante da reincidência, é preciso total compatibilidade. “É muito difícil achar células 100% compatíveis de alguém que não seja parente”, diz. A chance de encontrar um doador compatível é de 25% entre irmãos de mesmo pai e mesma mãe. Já a compatibilidade entre não familiares é de um em cada 100 mil. No Brasil, devido à miscigenação, as chances são ainda menores. “É minha única saída agora.”

Até nos Estados Unidos, onde mora um dos filhos, houve mobilização. “Não consigo agradecer a tanta gente que eu nem conheço e que está fazendo esse gesto por mim”, afirma, com a voz embargada pela emoção. “A gente tem que acreditar. Estou preparada para fazer a cirurgia. Quanto mais pessoas doarem, mais chance haverá de encontrar um doador compatível.”
(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)

ASSINATURAS Com o lema “Doe vida em vida”, a meta atual das organizadoras da campanha é colher mais de 300 assinaturas de moradores que aderiram ao chamado, na esperança de que, diante desse apelo, o Hemominas vá até a cidade para fazer, in loco, a coleta das amostras de sangue para testes. “Para as pessoas que trabalham é complicado o horário de atendimento, das 7h30 às 12h30, durante a semana. Nem todos os patrões aceitam uma declaração de comparecimento”, diz Rejane. Quem não tem impedimentos com horário já está se mexendo. Os responsáveis pelo projeto Gotas Salvadoras, por exemplo, conseguiram um ônibus para transportar os interessados a Belo Horizonte. “Se não for compatível com a Adriane, pode ser com outro paciente, porque são milhares de pessoas no país e no mundo que estão passando pela mesma situação”, afirma Kátia.

COLETA EXTERNA A coordenadora do Hemominas, Priscila Rodrigues, afirma que a coleta externa será retomada a partir de abril, em empresas e outros municípios. Uma vez inscrito, o doador não precisa se cadastrar novamente, mas é fundamental atualizar os dados, seja o endereço ou as condições de saúde. “Esse é o ponto mais importante. Se achamos alguém compatível e a pessoa mudou, não vamos encontrá-la. Da mesma forma, se contrai certas doenças, não poderá doar”, ressalta. Ela lembra que o receptor pode estar no Brasil ou em qualquer lugar do mundo, uma vez que o Redome é ligado ao cadastro internacional. “Mas quem se desloca é a medula. Em caso positivo, o doador é encaminhado para o centro de transplante mais próximo de onde foi cadastrado. No caso de Belo Horizonte, o Hemominas ou o Hospital das Clínicas”, diz Priscila. Quem quiser aproveitar para doar sangue, no ato do cadastro, também pode.

Premiado na loteria da solidariedade


Eles não se conhecem e talvez nunca se conhecerão, mas o gesto de um mudará para sempre a vida do outro. Em breve, a luta pela vida de um paciente de Belo Horizonte poderá ter um final feliz. Ainda neste mês, ele receberá doação de medula de um mineiro morador de Poços de Caldas, no Sul do estado. Das linhas de transmissão direto para a sala de cirurgia, o eletricista Leonardo José Pereira, de 40 anos, foi o terceiro doador compatível da campanha Doe Vida!, feita entre os funcionários da hidrelétrica de Furnas. Realizada em parceria com o grupo Pró-Medula há quatro anos, o objetivo é aumentar o número de pessoas cadastradas no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome).

A mobilização, que ocorre mensalmente, registra quase 900 voluntários cadastrados no Redome. Leonardo Pereira já era doador de sangue e pediu a inclusão no registro nacional em maio de 2015. A notícia da compatibilidade – com chance de um em cada 100 mil entre não parentes – foi dada na mesma semana em que o técnico descobriu que seria papai, depois de três anos de tentativas e de tratamento de fertilização in vitro. A rapidez de encontrar um doente apto a receber sua medula surpreendeu o técnico. “Mas se eu demorasse três anos para me inscrever, talvez essa pessoa não teria a possibilidade de esperar por alguém compatível”, diz. “Por comodidade, muita gente vai deixando para depois e acaba não fazendo o cadastro. E se também pensar que, ao fazê-lo, ninguém vai aparecer devido às chances que são mínimas, também enrola. A pessoa que precisa pode estar a uma distância de seis meses, um ano, por isso, quem tem a intenção de ajudar deve antecipar a atitude,”, ressalta.
Leonardo José foi o terceiro doador compatível na campanha de Furnas, que já cadastrou 7,6 mil pessoas em 13 anos(foto: Patrícia Passos/Divulgação)
Leonardo José foi o terceiro doador compatível na campanha de Furnas, que já cadastrou 7,6 mil pessoas em 13 anos (foto: Patrícia Passos/Divulgação)

O gerente de responsabilidade sociocultural de Furnas, Marcos Machado, conta que o projeto começou quando um ex-presidente da estatal, que estava com problemas de saúde, conheceu uma médica que capitaneava doadores. Assim, foi incorporado ao projeto de doação de sangue, que ocorre desde 2003, a possibilidade de inscrição no Redome. Nas campanhas, Furnas mobiliza seus funcionários com suporte logístico e material para a divulgação das ações. Durante o cadastramento, as equipes estão prontas para orientar e esclarecer dúvidas sobre a doação de medula óssea.

As ações de incentivo à doação de sangue são promovidas semestralmente. Em 13 anos, foram cadastradas mais de 7,6 mil pessoas, entre funcionários, aposentados, terceirizados, estagiários e visitantes. Foram coletadas mais de 6,2 mil bolsas de sangue. Como cada bolsa pode ser dividida em quatro componentes (concentrado de hemácias, plasma, concentrado de plaquetas e crioprecipitados), a empresa estima que os voluntários tenham ajudado a salvar mais de 24 mil vidas nesse período.


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