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Estado de Minas

Despoluição da Lagoa da Pampulha dá resultados, mas ainda há pontos de mau cheiro

Estado de Minas mapeou o cartão-postal e encontrou locais onde o mau cheiro é insuportável e a água tem presença de algas que se desenvolvem a partir de matéria orgânica oriunda do esgoto que cai na lagoa


postado em 15/08/2016 06:00 / atualizado em 15/08/2016 07:42

(foto: Sydney Lopes EM DA Press)
(foto: Sydney Lopes EM DA Press)

O tratamento de choque ao custo de R$ 30 milhões que vem sendo aplicado na Lagoa da Pampulha para recuperação que possibilite melhoria do odor e do aspecto visual do espelho d’água já dá os primeiros resultados positivos desde que teve início, em março. É possível ver diversos pontos onde a água tem melhor aspecto visual e o cheiro, que obrigava as pessoas a tapar as narinas, já não incomoda tanto. De acordo com o balanço do primeiro trimestre de trabalho, todos os cinco parâmetros que vêm sendo analisados pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) alcançaram as metas estabelecidas para o período, sendo que três deles apresentam valores que atendem, antecipadamente, à marca prevista para depois de nove meses de aplicação dos produtos, a se completar em dezembro. O resultado do trabalho de despoluição, no entanto, é desigual ao longo da orla. Há pontos em que os produtos usados ainda não mostram tanto efeito e o mau cheiro é insuportável, além de o aspecto esverdeado da água demonstrar a presença de algas que se desenvolvem a partir de matéria orgânica oriunda do esgoto que cai na lagoa.

O Estado de Minas visitou esses locais que, de modo geral, são braços do lago, com menor circulação da água e aonde os barcos usados na limpeza não conseguem ir, devido ao baixo nível de profundidade. De olho no mapa da Lagoa da Pampulha, é possível encontrar pelo menos oito pontos que ainda obrigam as pessoas a “torcer o nariz” por causa do cheiro repugnante que vem da água (veja mapa). Os locais estão concentrados, principalmente, na margem esquerda da orla (no lado voltado para o Centro de BH) e ficam bem próximos a pontos turísticos do cartão-postal, que recebeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade em julho.

Presidente do Consórcio de Recuperação da Bacia da Pampulha e membro da Associação dos Amigos da Pampulha (Apam), Carlos Augusto Moreira explica que essas áreas são enseadas (reentrância da água em direção à orla, que formam um braço da lagoa). “Esses são pontos muito rasos, onde a movimentação da água é pequena, o que dificulta sua renovação. Além disso, o vento sopra na direção desses braços, fazendo com que água e lixo se acumulem”, diz. Por causa da baixa profundidade nas enseadas – alguns pontos chegam a ter apenas um metro ou menos, da superfície até o fundo – a aplicação dos dois produtos que fazem parte do tratamento não pode ser feita como nos pontos mais profundos da lagoa, onde os funcionários do consórcio contratado trabalham de barco. É preciso usar mangueiras, mas sem prejuízo ao resultado, segundo Moreira. Ele destaca, no entanto, que “o trabalho já mostrou resultados muito positivos, com expressiva redução do mau cheiro, que já nem existe em muitos pontos da lagoa, onde a água também está muito mais limpa”, frisando que a tendência é que a qualidade melhore ainda mais com o avanço da operação.

PERCEPÇÃO


Moradores do entorno e visitantes da orla também reconhecem as melhorias, mas fazem ressalvas pontuais sobre os resultados. Reconhecem que, de modo geral, o mau cheiro diminuiu, mas reclamam que há locais onde o odor ainda é insuportável. Desde a década de 1980, o autônomo Marcelo Franco, de 53 anos, pedala na orla da lagoa e, como conhecedor do lugar, diz que nos últimos anos a qualidade da água da Pampulha piorou muito. “Com o trabalho dos últimos meses, algum resultado já vem sendo percebido. Mas ainda há muita dificuldade pela frente. Esse aspecto esverdeado da água tira beleza da lagoa. Sem contar o mau cheiro que persiste em muitos pontos”, disse.

Na tarde de quarta-feira, o casal de namorados André Felipe e Jéssica Santos, ambos de 27, comentava sobre a situação da Pampulha, enquanto passeava próximo ao parque ecológico. “Falávamos justamente sobre a redução do lixo. Mas, a cor da água ainda é a mesma, pelo menos deste lado”, disse André. Incrédula, Jéssica diz duvidar de que a água será despoluída. “O que é uma pena, porque a Pampulha é um lugar muito lindo e agradável”, disse.

Mais confiantes, os amigos Lauro Gonçalves de Oliveira e Sebastião Camilo Rodrigues, ambos de 58, são moradores da Região da Pampulha e há mais de 20 anos frequentam e pescam no local, no cruzamento com Avenida Torino. Segundo eles, o cheiro já melhorou um pouco no ponto onde costumam armar seus anzóis, mas ainda é forte e incomoda. Ainda assim, Lauro admite: “A água é suja, mas a gente sempre pescou aqui. Se os peixes fossem contaminados, eu já teria tido algum problema.”

METAS ADIANTADAS

Gerente de Gestão das Águas Urbanas da PBH, Ricardo Aroeira destaca o resultado positivo do trabalho, que, nas análises referentes aos meses de abril, maio e junho, já atingiu metas previstas ainda para o fim do ano, já que a obrigação do consórcio contratado é enquadrar todos os índices em novembro. “A redução ficou superior à estimada e é certo que vamos atingir todos os parâmetros até o fim do prazo. Isso é resultado da ação dos produtos e das obras executadas pela Copasa”, diz. “Há alguns trechos com um pouco de odor, mas antes o cheiro era insuportável. Ainda faltam cinco meses”, lembra.

O gerente explica que a principal causa de formação de algas e de produção do mau cheiro é o esgoto acumulado durante décadas na lagoa. “Essa matéria orgânica é rica em fósforo, que favorece a proliferação e algas. Mas, com o trabalho de limpeza, o que antes era uma crosta verde, hoje não existe mais. A coloração esverdeada ainda existe porque o trabalho não foi concluído. Mas a tendência é evoluir para uma melhor qualidade da água”, disse.

Próximo desafio será a manutenção

De olho nos resultados alcançados especialistas fazem alertas sobre o futuro da Pampulha, diante da necessidade de manutenção. Além da despoluição que vem sendo executada pela Sudecap, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) está construindo redes coletoras e interceptoras de esgoto ao longo dos córregos Ressaca e Sarandi, que deságuam na lagoa. Com o término das intervenções, previsto para o fim de 2017, 95% do esgoto produzido na bacia contribuinte da Lagoa da Pampulha será coletado e tratado.

Ainda assim, o professor do Departamento de Engenharia Hidráulica da UFMG Carlos Barreira Martinez chama atenção para qualquer tipo de lançamento de esgoto e também para a poluição difusa que chega à lagoa. “É preciso limpeza constante, para que o trabalho se perca”, afirma.

Presidente da Associação Pró-Civitas dos bairros São José e São Luiz, Juliana Renault também cobra resultados. “ Já é possível ver que houve melhorias, mas é preciso avançar e dar continuidade à manutenção”, disse, lembrando que o título de Patrimônio Cultural da Humanidade pode exercer  pressão nesse sentido.

De acordo com a Sudecap, após atingir as metas finais previstas, as atividades de manutenção da qualidade da água vão permanecer por mais um ano. Além disso, a Sudecap realiza diariamente a limpeza do espelho d’água, com uso de dois barcos e uma balsa. O volume diário de lixo recolhido é de cerca de 10 toneladas no período de estiagem e de 20 no chuvoso. A Copasa afirma que, para atingir os 100%, a companhia conta com um programa permanente, o Caça-Esgoto.


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