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Estado de Minas

Chikungunya avança e assusta em Minas

Estado confirma cinco primeiros casos da febre, um deles de gestante que pode ter morrido devido à infecção. Médicos alertam: doença também é séria ameaça para grávidas e bebês


postado em 09/03/2016 06:00 / atualizado em 09/03/2016 07:23

Sinal de alerta: com explosão de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, lixo espalhado por áreas públicas, como no Bairro Jardim Teresópolis, em Betim, é ameaça a toda a população(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Sinal de alerta: com explosão de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, lixo espalhado por áreas públicas, como no Bairro Jardim Teresópolis, em Betim, é ameaça a toda a população (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Em meio à explosão dos diagnósticos de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, uma nova preocupação: a Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG) confirmou ontem, no último balanço epidemiológico, os cinco primeiros casos de chikungunya e investiga o que pode ser a primeira morte causada pela febre em Minas Gerais. Apenas neste ano, já são 160.590 casos prováveis de dengue no estado e 47 registros de zika confirmados em gestantes. O óbito que pode estar relacionado à chikungunya, segundo a SES-MG, é de uma gestante de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que contraiu o vírus. No entanto, ainda se investiga se a morte foi de fato causada pela doença. Em território mineiro, o número de óbitos confirmadas por dengue subiu de 13 para 14 e é grave a situação em municípios como Betim, que ontem decretou estado de emergência devido à epidemia, enquanto a prefeitura enfrenta situação de calamidade financeira.

A chikungunya, parecida com a dengue e causada pelo vírus CHIKV, tem entre os sintomas clássicos dor intensa nas articulações e febre. No caso das grávidas, pode afetar os bebês. A médica infectologista Tânia Marcial, consultora de arboviroses da Sociedade Mineira de Infectologia, explica que 50% dos filhos de mulheres que tenham chikungunya na reta final da gravidez podem contrair a doença via placenta. “Dos bebês contaminados, 50% podem apresentar a forma grave da doença, podendo chegar ao óbito, com complicações como infecções no cérebro, fígado e coração”, alerta.

Outro problema da infecção pelo CHIKV é o possível abortamento no primeiro trimestre da gravidez. “Toda gestante tem que ter cuidados e evitar situações de exposição ao Aedes aegypti até o fim da gravidez”, recomenda a infectologista, ao avaliar ser provável que o vírus já esteja circulando no estado. Dos diagnósticos confirmados pela Secretaria de Estado da Saúde, três são de residentes dos municípios de Belo Horizonte, Santa Vitória e Limeira do Oeste, estas últimas no Triângulo Mineiro. Os casos foram importados da Bahia, Alagoas e Sergipe, respectivamente. Os outros dois pacientes com confirmação laboratorial são de Belo Horizonte e Contagem. Neles, é investigada a possibilidade de que a transmissão tenha ocorrido dentro do próprio estado.

O médico infectologista Carlos Starling atesta que Minas pode viver uma epidemia de chikungunya. “Temos as premissas básicas para isso: o vírus circulando no nosso meio, o vetor (mosquito), que está completamente fora de controle, e a população suscetível (que nunca teve a doença)”, diz ele, lembrando surtos da doença na África, Europa e Ásia e a circulação do CHIKV no Brasil. O especialista lembra ainda que a febre, assim como a zika, a dengue e qualquer outra virose, oferece riscos maiores para grávidas, mais suscetíveis a infecções virais e bacterianas. “Todas as doenças nas grávidas são mais sérias, porque elas têm queda de imunidade natural. Por isso, precisam ter cuidado redobrado do início ao fim da gravidez, para evitar todas as doenças”, reforça.

Entre os sintomas da chikungunya, Tânia Marcial lembra a dor articular forte, podendo estar associada a inchaço (diferente da dengue) e febre alta. “De 75% a 95% das pessoas podem manifestar esses sintomas. A dor pode afetar qualquer articulação, mas é mais comum nas mãos e nos pés, e é bilateral, ou seja é sentida nos dois lados do corpo”, ressalta a médica, que lembra o diagnóstico semelhante ao da dengue. “Temos a sorologia, com exame semelhante ao que é feito para diagnosticar dengue, que pode ser feito do primeiro ao sexto dia de sintomas, na rede pública e privada”, comenta. As dores provocadas pelo vírus CHIKV, segundo Carlos Starling, podem durar muitos meses. “O aumento no número de casos é algo preocupante, quando pensamos no afastamento e na incapacidade para o trabalho, com impacto do ponto de vista trabalhista e no custo social”, diz.

VULNERÁVEIS Segundo informações do Ministério da Saúde, o vírus pode afetar pessoas de qualquer idade, mas os sinais e sintomas tendem a ser mais intensos em crianças e idosos. Além disso, pessoas com doenças crônicas têm mais chance de desenvolver formas graves da doença. As mortes, de acordo com o ministério, são raras. Dados da epidemia ocorrida em 2004, nas Ilhas Reunião, indicaram taxa de letalidade de 0,1% (256 mortes em um total de 266 mil casos). Na Índia, em 2006, houve 1,3 milhão de casos e nenhuma morte registrada. A Secretaria Municipal de Saúde de Contagem informou que estão em investigação, atualmente, três casos de febre chikungunya na cidade, mas nenhum relacionado a gestante. A Vigilância Epidemiológica do município disse ainda que 14 casos de zika vírus estão em investigação, além de 7.420 casos prováveis de dengue, sendo 841 confirmados por exames laboratoriais até 4 de março.

Diagnósticos de zika têm salto

Outra preocupação é o avanço da zika entre gestantes e no número de casos confirmados no estado. Na semana passada, segundo balanço epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde, 30 gestantes tiveram confirmação da doença. Nesta semana, o número saltou para 47. A realização de exames para diagnóstico laboratorial do vírus em Minas Gerais, pela Fundação Ezequiel Dias (Funed-MG), no início de fevereiro, agilizou a confirmação dos casos entre grávidas no estado. Já os casos em investigação de febre zika dobraram em uma semana, passando de 755 para 1.523, consequência da obrigatoriedade de notificação, definida nas últimas semanas.

A assistente de marketing Débora Soares não está grávida, mas terá de adiar os planos de ter um bebê, diante do diagnóstico de zika. Ela teve toda a rotina alterada e voltou a trabalhar há uma semana, depois de ficar afastada por cinco dias. “Senti dores insuportáveis, como se fosse uma fincada por dentro da carne, além de fraqueza e desidratação”, relata. Passada a fase crítica da doença, ela tem sempre à mão repelente, paracetamol para as dores de cabeça frequentes e água para se hidratar. Outra mudança provocada pela infecção será o adiamento dos planos de gravidez. “Queria engravidar no início do ano que vem, mas o médico orientou a esperar um ano, por precaução”, relata.


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