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Estado de Minas

Lixo e entulho em lotes e ruas são desafio no combate à dengue, zika e chikungunya em BH

Controlar a deposição irregular de resíduos é essencial para frear a explosão de casos de dengue, zika e chikungunya em BH. Por ano, recolhimento em bota-fora equivale a 63 dias de coleta normal de lixo


postado em 23/02/2016 06:00 / atualizado em 23/02/2016 07:32

Ponto limpo, só na placa: em esquina do Bairro São Lucas, em plena Região Centro-Sul de Belo Horizonte, descarte clandestino de rejeitos proporciona criatórios para proliferação do mosquito Aedes aegypti (foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS )
Ponto limpo, só na placa: em esquina do Bairro São Lucas, em plena Região Centro-Sul de Belo Horizonte, descarte clandestino de rejeitos proporciona criatórios para proliferação do mosquito Aedes aegypti (foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS )

O descarte irregular de lixo e entulho em lotes vagos e ruas de Belo Horizonte aparece como um dos maiores desafios diante da explosão de casos de dengue enfrentada pela capital. De acordo com o último balanço divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde, 2.916 casos da doença foram confirmados em Belo Horizonte, além de três óbitos. A Regional Noroeste aparece com o maior número de casos confirmados, um total de 545, seguida pela Nordeste (415 casos) e Pampulha (411). No estado, nas seis primeiras semanas do ano são 62.271 casos prováveis de dengue, entre confirmados e suspeitos, segundo balanço da Secretaria de Estado da Saúde.

Por ano, segundo a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), são recolhidas nas ruas da capital cerca de 140 mil toneladas de resíduos provenientes de deposições clandestinas. O total corresponde a nada menos que 63 dias de coleta regular de lixo, já que diariamente são recolhidas pelos caminhões 2,2 mil toneladas de resíduos na capital. Mesmo assim, basta uma volta pela cidade para perceber que o esforço é insuficiente. O trabalho de combate a bota-fora é feito com ajuda das nove gerências regionais de Limpeza (Gerlus) e, segundo a SLU, todas as regiões são atendidas por serviço regular de coleta domiciliar pelo menos três vezes por semana. Entre os materiais descartados irregularmente estão resíduos de construção civil, móveis velhos, equipamentos eletrônicos defeituosos, pneus e outros capazes de acumular água e permitir a reprodução do Aedes aegypti – que, além da dengue, transmite o zika vírus e a febre chikungunya.

Denúncias de leitores de diversas regionais da cidade reforçam os riscos à saúde. No Bairro São Lucas, na Região Centro-Sul, por exemplo, moradores reclamam de um bota-fora na esquina das ruas Camões e Vera Cruz. Na Pampulha, um loteamento na Rua Antônio Chaves de Araújo, no Bairro Xangrilá, passa por situação semelhante. “A área está em frente à escola do bairro, em uma área comercial, e tem inúmeros focos de mosquito”, conta o técnico em segurança do trabalho Alzimar Cardoso da Silva. A situação, de acordo com ele, permanece há mais de três anos e, embora seja feita capina no local periodicamente, a área continua oferecendo riscos aos vizinhos. “Eu tive dengue e muitas pessoas da minha rua também passaram mal”, diz. Ele pondera, no entanto, que moradores que despejam entulho no lugar colaboram para o surgimento das doenças.

Na Regional Noroeste, o aposentado Ademir Rabelo se queixa do descarte na Avenida dos Engenheiros, na altura do número 1.550, no Bairro Alípio de Melo. “A avenida foi revitalizada no fim do ano, mas o entulho continua”, conta ele, que reforça que a situação já dura mais de 20 dias. Na Rua dos Violões, no Bairro Califórnia, na mesma região, o advogado François Manata convive com a ameaça diariamente, já que mora ao lado de uma casa abandonada, com entulho que permanece amontoado em uma piscina desativada. “Fiz cartazes e coloquei na porta da casa; o proprietário tirou o lixo de dentro da piscina, mas colocou em volta. Ou seja, não resolveu nada”, critica ele, que teve dengue há menos de um mês, assim como sua filha e seu neto. A epidemia, para o advogado, é um problema que vai do cidadão ao poder público. “O cidadão tem grande responsabilidade, tanto pela omissão quanto pela própria ação ao jogar lixo em locais que podem se tornar criadouros, e se sente desobrigado, porque não é cobrado pelos governos”, acrescenta.

COMBATE A prática de deposição clandestina de resíduos é coibida, segundo a Secretaria Municipal Adjunta de Fiscalização, por ações fiscais planejadas nos locais mais críticos. Além de notificação para correção da irregularidade, os infratores estão sujeitos a multas que variam de R$ 169,07 a R$ 5.072,13. O secretário municipal adjunto de Fiscalização, Alexandre Salles, ressalta que, antes de tudo, é preciso que o cidadão faça sua parte. “O município tem intensificado as ações fiscais, mas cabe ao cidadão, além de denunciar, não sujar a cidade e não colocar lixo fora do horário de coleta.”

Procurada pela reportagem do Estado de Minas, a Regional Noroeste informou que os locais que foram alvo de reclamação de moradores estão inseridos na programação de atendimentos rotineiros. Sobre a denúncia dos moradores do São Lucas, a Regional Centro-Sul informou que é frequente o pedido de recolhimento de deposição clandestina no local. A administração acrescentou que faz monitoramento fiscal na área. A Regional Pampulha não respondeu aos questionamentos até o fechamento desta edição.

AÇÃO NO METRÔ
Passageiros do metrô de Belo Horizonte foram surpreendidos na manhã de ontem com a ação do grupo Confesso, que também entrou na luta contra o Aedes aegypti. Por meio de uma peça teatral, que apresentou situações cotidianas e dicas, usuários foram incentivados a entrar na luta contra o mosquito. A ação começou na Estação Central e seguiu dentro dos trens em operação durante toda a manhã. Os personagens embarcaram com os passageiros, levando até eles situações cotidianas voltadas para o combate ao mosquito.

Soro e vacina são esperança

O Instituto Butantan pretende desenvolver dentro de um ano um soro contra o zika vírus, que seria capaz de tratar pessoas já infectadas e evitar a transmissão entre mulheres grávidas e seus bebês – o que preveniria casos de microcefalia. Os pesquisadores também estudam incluir a prevenção à doença na vacina contra a dengue, que já chegou ao terceiro estágio da pesquisa e pode ficar pronta em 2018. Ontem, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, e o secretário de Saúde de São Paulo, David Uip, assinaram dois convênios com o Butantan, na presença da presidente Dilma Rousseff. Um deles destina R$ 300 milhões para o desenvolvimento da vacina. O segundo prevê 8,5 milhões para pesquisas que levem ao soro. De acordo com Dilma, o Brasil busca vários caminhos para combater as doenças, mas, por enquanto, a população deve continuar atenta no combate aos focos de mosquito.

DENÚNCIA DO LEITOR

Sujeira que dá medo: nas regionais Pampulha e Noroeste, que registram altos índices de casos confirmados de dengue, lixo acumulado em casas e em lotes vagos compromete o combate ao vetor

Bairro Xangrilá(foto: Alzimar Cardoso/Divulgação)
Bairro Xangrilá (foto: Alzimar Cardoso/Divulgação)

Bairro Califórnia(foto: Francois Manata/Divulgação)
Bairro Califórnia (foto: Francois Manata/Divulgação)

Bairro Alípio de Melo(foto: Ademir Rabelo/Divulgação)
Bairro Alípio de Melo (foto: Ademir Rabelo/Divulgação)


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