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Estado de Minas

Medo do mosquito Aedes transforma moradores de BH em fiscais da dengue

Número de denúncias sobre possíveis criadouros do Aedes aegypti cresce 142% em BH, mas população reclama da demora da prefeitura em vistoriar lugares onde o inseto se reproduz


postado em 22/02/2016 06:00 / atualizado em 22/02/2016 07:42

Fernando Marras se tornou um inimigo do mosquito depois que sua mulher e dois filhos contraíram dengue(foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Fernando Marras se tornou um inimigo do mosquito depois que sua mulher e dois filhos contraíram dengue (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
O medo do zika vírus, da chikungunya e da dengue transformou belo-horizontinos em fiscais rigorosos no combate aos criadouros do Aedes aegypti, o principal vetor das três doenças cuja a reprodução se intensifica no verão. Os cidadãos têm levado o chamado a sério a contar pelo aumento no número de solicitações para prevenção e controle de focos do mosquito no BH Resolve. De 1º de janeiro até 19 de fevereiro, o serviço recebeu 8.236 solicitações pela internet, celular e telefone. Um aumento de 42% em relação às solicitações de todo o ano passado, conforme série histórica dos últimos cinco anos a qual o Estado de Minas teve acesso. De janeiro a dezembro de 2015, o serviço recebeu 5.762 solicitações. Quem faz a solicitação, porém, se queixa da demora no atendimento.

Os números desse ano deverão superar as solicitações de 2013, quando, segundo o Ministério da Saúde, ocorreu o maior surto de dengue no Brasil, com aproximadamente 2 milhões de casos notificados. Naquele ano, foram feitos 9.271 pedidos de vistoria. Com a medida provisória, assinada pela presidente Dilma Rousseff em 1º de fevereiro, que autoriza a entrada forçada de agentes em casas abandonadas, uma ligação informando possíveis locais de criadouros reduz os riscos de que alguém da família do denunciante se contamine, bem como contribui para a proteção de toda a vizinhança.

Os números de solicitações demonstram o temor da população não só com a dengue, mas com o avanço do zika e da chikungunya. É o caso do gerente comercial Fernando Franca Marra, de 45 anos, e da mulher Daniela, de 39, que sofre com a dengue devido à falta de cuidado da vizinhança no Bairro Prado, na Região Oeste da capital. Embora o casal faça vistorias constantes para evitar criadouros de mosquitos na residência, três pessoas da família e uma prestadora de serviços foram picadas pelo Aedes. Na Rua Cassia, há uma casa abandonada e, na Rua Chapecó, são dois imóveis sem os devidos cuidados, nos números 89 e 103. “Em menos de 20 dias, foram quatro casos de dengue na minha casa.” Os dois filhos e a empregada Maria Selma já diagnosticados e a mulher, com sintomas da doença, aguarda o resultado dos exames. “É uma doença difícil e impiedosa”, diz em referência ao sofrimento dos filhos.

A ligação de Fernando é uma das mais de 8 mil solicitações para que a Prefeitura de Belo Horizonte intervenha em imóveis abandonados pelos proprietários onde o lixo se acumula. “Nos pediram 10 dias úteis, mas por enquanto, nada foi feito”, afirmou. Temendo outras doenças que também são transmitidas pelo mosquito, Fernando foi até os imóveis abandonados coletou o lixo e jogou cloro em determinados locais para que o inseto não possa se reproduzir. Na sua casa redobrou os cuidados. Colocou telas nas portas e janelas e ainda assim procura mantê-las fechadas. A preocupação de Fernando tem razão de ser. Belo Horizonte registrou a terceira morte causada pela dengue na semana passada. “Não tem condição de mais alguém ter dengue em minha casa”, lamenta.

Até o momento, foram confirmados 2.916 casos de dengue na capital. Há 13.033 casos notificados, pendentes de resultados. Além dos casos confirmados, 1.182 notificações foram descartadas.

O secretário municipal de Saúde de Belo Horizonte, Fabiano Pimenta, destaca a atuação dos belo-horizontinos como fiscais. “O maior indicador é o Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC). Tivemos um aumento exponencial. Cerca de 200% neste início em relação ao ano passado”, disse. Para reforçar o SAC, foram contratados mais 20 atendentes. Na avaliação do secretário, o aparecimento do zika vírus e da chikungunya fez com que a população ficasse mais atenta no combate ao mosquito. “A dengue começou a circular em 1982, tornou-se uma endemia em 1986. A população, de certa forma, estava acostumada. O zika e as complicações como microcefalia e a síndrome de Guillain-Barré deixaram as pessoas assustadas”, disse o secretário.

UPAS LOTADAS Outro indicativo de que as doenças deixam a população em alerta é o aumento em até 40% no fluxo de pessoas nas unidades de pronto atendimento (UPAs). Desde quarta-feira, os agentes de endemia iniciaram o trabalho de entrar em casas abandonadas e em locais que os moradores não autorizaram a entrada. “Na Regional Centro-sul, os moradores de sete imóveis nos procuraram. Eram locais que os agentes tentavam entrar há dois anos e não conseguiam.” Na Regional Leste, a prefeitura aterrou uma piscina que havia se tornado criadouro do mosquito. O secretário informou ainda que a orientação é para que as solicitações sejam atendidas no prazo máximo de sete dias. “Se forem necessários mais agentes, temos a autorização do prefeito para contratar.”

Entre as casas abandonadas e das que os moradores vetaram a entrada de agentes visitadas, depois de quarta-feira, em 70% delas foram encontrados focos do mosquito. O secretário orienta que as pessoas que saibam de locais onde pode haver foco do mosquito enviar a denúncia para o BH Resolve. A primeira ação na capital foi realizada na quarta-feira no Bairro São Pedro, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. No imóvel, abandonado há quatro anos, foram encontrados sete focos potenciais do mosquito transmissor da dengue, chikungunya e zika vírus, sendo dois deles com larvas.

A prefeitura informou que os mutirões intersetoriais continuam, nesta semana, com objetivo de combater o Aedes aegypti. As ações são coordenadas pela Secretaria Municipal de Saúde, secretarias regionais de administração, Defesa Civil, com apoio da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU). Neste ano, até o momento, foram realizados 46 mutirões intersetoriais em Belo Horizonte, com vistoria em mais de 100 mil imóveis.


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