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Estado de Minas

Médica uruguaia defende em BH legalização da maconha, ocorrida no país vizinho

Raquel Peyraube, que participou do processo de legalização da maconha em seu país, defende em Belo Horizonte normas para uso da droga


postado em 09/07/2015 06:00 / atualizado em 09/07/2015 07:32

Raquel Peyraube diz que apenas medidas de prevenção não funcionam:
Raquel Peyraube diz que apenas medidas de prevenção não funcionam: "Cadeias cheias e aumento da violência" (foto: Cristina Horta/EM/DA Press)

Sem medo de encarar o debate, pronta para defender a saúde pública e disposta a jogar luz sobre a polêmica questão da maconha. A médica uruguaia Raquel Peyraube, especialista em uso problemático de drogas, está em Belo Horizonte para encontros com especialistas e, antes de qualquer conversa, é taxativa ao informar que o seu país não liberou o tóxico, mas a legalizou. “São situações bem diferentes. Liberar significa tornar livre, o que não foi o caso. Já legalizar é restringir, impor normas, regulamentar e implementar a lei federal promulgada em dezembro de 2013”, afirma Raquel. Na noite de ontem, ela participou do lançamento do vídeo e relatório “Abusos e violações de direitos em comunidades terapêuticas: relatos de uma realidade anunciada”, fruto da parceria entre o Fórum Mineiro de Saúde Mental e Frente Mineira de Drogas e Direitos Humanos.


Primeiro país do mundo a legalizar a cannabis, para fins recreativos, industrial e medicinal, o Uruguai (veja o quadro), na gestão do ex-presidente José Mujica, sustentou sua política em direitos humanos, saúde e segurança pública. Ainda não dados conclusivos sobre os impactos no consumo, mas Raquel – assessora do Instituto de Regulamentação e Controle da Cannabis como diretora do Centro Internacional de Pesquisas, Educação e Serviços Etonobotâncos (Iceers, na sigla em inglês) – está certa de que apenas medidas de prevenção resultaram em fracasso em vários países, incluindo o Brasil. “O resultado está em cadeias cheias de jovens e aumento da violência. No México, por exemplo, há registro de 100 mil mortos e 30 mil desaparecidos”, ressalta.

O cenário no Uruguai, guardadas as devidas proporções com o Brasil em dimensões e população, também passava pela criminalidade, que, conforme a médica, sofistica seus mecanismos, atinge os mais pobres, enriquece o tráfico e causa exclusão social. “Deve prevalecer o idealismo humanitário e não o moral. Na maioria das vezes, a guerra contra as drogas é perdida antes mesmo de começar”, afirma a médica, mãe de dois jovens, um deles prestes a se formar em medicina. “E não uso maconha, não gosto “, comentou bem-humorada, na tarde de ontem, na sede do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais, no Centro da capital.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)
PRESSÕES
A pressão de instituições religiosas contra a legalização é duramente criticada pela especialista residente em Montevidéu. “Os governos não podem seguir um discurso moral, já que se trata de uma questão política, e não de religião. No Uruguai, o arcebispo de Montevidéu, o rabino e o pastor foram a favor da legalização. Quando se é religioso de verdade, é preciso ser compassivo, misericordioso e humanitário. Esse é o espírito cristão”, afirma, lembrando que o índice de aceitação da medida votada no parlamento cresceu de 29% para 74% entre a população. “Os países não devem seguir apenas determinação internacionais e, sim, buscar suas próprias políticas. Cada região tem suas particularidades, mas o problema das drogas é único”, explica.


O mal maior à sociedade, diz a médica uruguaia, não é causado pela maconha, mas pelo tráfico. Ela também rechaça a velha máxima de que a cannabis é porta de entrada para drogas pesadas. “Isso não é verdade. Devemos lembrar do ‘efeito gôndola de supermercado’, quando a pessoas vai enchendo o carrinho com muitos produtos. Com a legalização da maconha, vemos que a pessoa leva apenas o que lhe é oferecido. Ela pode continuar usando e até mesmo abandonar o consumo”.


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