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Estado de Minas

Ação social inédita chega a BH e traz esperança à moradores de rua

The Street Store chega a BH e distribui peças de vestuário e calçados para a população de rua. Iniciativa atraiu dezenas de pessoas, que dormiram na fila para receber as doações


postado em 12/04/2015 06:00 / atualizado em 12/04/2015 08:00

Apolo Souza exibe os tênis que escolheu ontem de manhã em frente ao Parque Municipal(foto: Cristina Horta/EM/ D A Press)
Apolo Souza exibe os tênis que escolheu ontem de manhã em frente ao Parque Municipal (foto: Cristina Horta/EM/ D A Press)
As extensas grades que cercam o Parque Municipal Américo René Gianetti, na Avenida Afonso Pena, se transformaram ontem em um gigantesco cabide improvisado, onde foram expostas roupas, calçados e acessórios masculinos e femininos, postos à disposição da população de rua da capital. Foi a primeira edição do projeto The Street Store, iniciativa solidária que visa oferecer maior conforto e ajudar na recuperação da autoestima dos moradores de rua.


Realizada pela primeira vez em Belo Horizonte, a ação atraiu o interesse de muita gente. Foi grande o número de moradores de rua que dormiram na fila para serem os primeiros a escolher as peças de vestuário entre gravatas, calças sociais, tênis e agasalhos. Eles puderam fazer tudo com calma, examinando o estilo e o tamanho das peças doadas para a iniciativa e selecionando a numeração correta das roupas e calçados.,


“Se eu achar aqui uma roupa social para me alinhar, vou voltar a procurar emprego. Do jeito que estou agora, não tem como”, observou o garçom David William, de 24 anos, de olhos claros e cavanhaque no rosto, contrastando com o cobertor cinzento, que ajudou a espantar o frio intenso registrado na cidade nos últimos dias. Ansioso com a perspectiva de conseguir roupas ‘novas’, ou melhor dizendo seminovas, David protestava contra o atraso na abertura do evento, que demorou a começar devido ao atraso do policiamento.


Um início de tumulto chegou a se formar na Avenida Afonso Pena para estabelecer quais seriam, efetivamente, os 10 primeiros ocupantes da fila, que se prolongava até o fim do quarteirão. “Fui o primeiro a chegar e até ajudei o pessoal a carregar as caixas”, justificava o nivelador José Antônio da Silva, de 52, que vestiu a sua melhor roupa para participar do evento especial. Estava elegante usando blazer, jeans e tênis marrom de grife. Recusou-se a aceitar as dicas de moda da monitora, que recomendou a ele uma calça de corte clássico. “Está me achando com cara de velho? Gosto de roupas mais maneiras”, alegou.


Enquanto isso, um grupo tentava forçar o cordão de isolamento. “Calma, gente! Vai ter roupa para todo mundo, durante o dia inteiro”, esclareceu a designer de produtos Luciana Duarte, de 28, organizadora da primeira versão do The Street Store em BH. Ela se inspirou no italiano Ezio Manzini, especialista em design e moda sustentável, que defende a justiça social. “Para mim, que sou do interior de Minas, é surreal passar indiferente pelos moradores de rua jogados nas calçadas como se fossem lixo. Penso que a roupa pode vir a se tornar um vetor para modificar o olhar das pessoas em relação a eles”, deseja ela, que já sonha em lançar outro evento, exclusivo para doar peças-piloto de estilistas e marcas famosas.


Monitores voluntários ajudaram os moradores de rua a encontrar peças com a numeração coreeta(foto: Cristina Horta/EM/ D A Press)
Monitores voluntários ajudaram os moradores de rua a encontrar peças com a numeração coreeta (foto: Cristina Horta/EM/ D A Press)
Voluntário, Rodrigo Rezes, de 36, que durante 19 anos atuou em lojas de roupas chiques, tentava repassar dicas simples aos moradores de rua, como descobrir se a calça serve em você medindo o cós dela em volta do próprio pescoço. “Percebo que eles não têm muita noção de tamanho nem estão muito preocupados com estilo. Querem roupas práticas e confortáveis. O critério não é beleza, mas a funcionalidade das peças”, diz.


Montador de arquibancadas, Sebastião Neto Filho, de 49 anos, confirmou a análise do monitor: “Estou invernado na cachaça e preciso apenas do básico”. Ele mostra as mãos calejadas, conta que tem família em BH e que não dorme nas ruas. “Arranjei um emprego a partir do mês que vem e vou sair dessa”, promete ele, exibindo a carteira de trabalho e a ficha de morador do abrigo.


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