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Estado de Minas

UFV contabiliza prejuízos com o corte de verba

Na universidade de Viçosa, que teve um terço de sua verba mensal cortada, falta de materiais básicos para rotina de aulas ou manutenção de laboratórios já é sentida


postado em 12/03/2015 06:00 / atualizado em 12/03/2015 07:29

Guilherme Paranaiba
Enviado especial


 

(foto: No depósito de materiais, segundo funcionários, é o que sobrou de 2014)
(foto: No depósito de materiais, segundo funcionários, é o que sobrou de 2014)


Viçosa – Na esteira da crise das universidades federais que foram atingidas em cheio por uma redução drástica de recursos destinados pela União, a Universidade Federal de Viçosa (UFV), na Zona da Mata, já contabiliza os prejuízos do corte de um terço de sua verba mensal. Alunos sentem falta de materiais básicos para a rotina das aulas, professores reclamam da dificuldade de adquirir insumos para manter laboratórios e funcionários do serviço de manutenção geral dizem que não há materiais no estoque, como lâmpadas, tomadas, pincéis, tinta e outros.

O Decreto 8.389, de 7 de janeiro, reduz em 33% os recursos mensais de órgãos subordinados à União. Enquanto o Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) não for apreciado pelo Congresso Nacional, não há perspectiva de que o problema seja sanado. Por isso, o repasse de 1/12 do dinheiro mensalmente, situação comum em anos que começam sem a definição do orçamento, foi contingenciado pelo Ministério do Planejamento e caiu para 1/18 dos recursos que estavam previstos, redução de um terço. Em Viçosa, isso significa de R$ 2 milhões a R$ 2,5 milhões a menos todos os meses. O orçamento previsto para a UFV este ano é de R$ 118 milhões.

No depósito onde ficam armazenados diversos materiais para uso em obras e manutenções gerais da universidade, o ritmo de trabalho é bem diferente do ano passado. Um funcionário explicou que os cerca de 50 homens à disposição do setor chegam a ficar sem ter o que fazer. “Não estamos comprando nada, os pedidos estão pendentes. O que tem aí é o que sobrou do ano passado, que está sendo usado só quando é essencial”, afirma um dos funcionários do departamento, que pediu para não ser identificado.

O clima entre os trabalhadores da empresa terceirizada Adcon, responsável pela manutenção do campus, é de muita incerteza. Há boatos de que as equipes serão reduzidas. Entre os serviços mantidos estão aqueles que usam apenas a força de trabalho. “Não temos rolo e nem tinta. Alguns tipos de lâmpada não são trocados caso elas queimem. Estamos juntando pedaços de vidros espalhados para fazer reparos em janelas”, afirma outro homem, quem também pediu anonimato.

Uma fonte ligada à administração da UFV informou que a maior dificuldade enfrentada atualmente é o fato de a mão de obra já ter sido contratada ano passado. “As pessoas estão à disposição, mas os procedimentos para comprar o material se arrastam há meses por falta de recursos. Outro problema são os atrasos de pagamento às empresas que executam obras no campus. Isso acaba deixando as firmas em situação complicada”, diz a fonte.

RANÁRIO O professor Oswaldo Pinto Ribeiro Filho, que coordena o criatório de rãs da universidade, lembra que a crise de 2015 já coloca em cheque a ração que precisa ser comprada para alimentação das animais. “Estou tendo que recorrer ao dinheiro arrecadado com a venda de produtos produzidos aqui no departamento, que normalmente é usado para manter o laboratório de pesquisa. Também estamos necessitando de uma reforma no ranário para sanar vazamentos, mas as perspectivas não são boas”, afirma.

Aluna do curso de secretariado executivo, a estudante Carolina Vaz, 21 anos, diz que as salas do Departamento de Letras já sentem a falta dos aparelhos de projeção para as aulas. “O datashow às vezes estraga e demora muito a ser consertado. É um aparelho que a gente usa bastante e temos sentido essa falta”, disse. Outra estudante, que não quis se identificar, lembra que material básico para pesquisa, como formol em um dos setores do Departamento de Veterinária, já está escasso. “Temos que nos virar com a quantidade que chega, quando chega”, afirma.

A reitora da UFV, Nilda de Fátima Ferreira Soares, explica que foram feitos cortes apenas em ações sem relação com desempenho acadêmico dos alunos ou com as bolsas que são oferecidas aos estudantes de baixa renda. Ela classifica como pontuais as reclamações. “Não segurei nenhum processo de materiais necessários para garantir o aprendizado dos alunos. Por exemplo, uma cerca que estava prevista para ser colocada em uma parte do campus, isso vai ter que esperar. Assim como um aceiro que seria feito em uma área experimental e outras situações que não impactam em nada a vida acadêmica”, declarou.

IMPACTOS A professora diz ainda que está escolhendo os meses em que paga determinadas contas, como a de energia, mas disse que todos os departamentos receberam uma verba para sobreviver durante os três primeiros meses do ano. “É claro que vão receber mais quando o orçamento for aprovado, mas cada um tem a responsabilidade de planejar o recurso que já foi enviado”, responde.

Sobre a falta de materiais diversos no depósito da universidade, Nilda de Fátima diz que é justamente nessa época do ano que se encerram as compras do ano anterior e se iniciam os novos contratos. “É bom lembrar que tudo dentro de uma universidade tem que ser feito mediante licitação. E esses procedimentos podem atrasar naturalmente, por conta de questionamentos das empresas envolvidas”, diz ela. Porém, a reitora teme os impactos de agora em diante, caso o orçamento de R$ 78 milhões de custeio e R$ 40 milhões entre obras e equipamentos exclusivos para a UFV sofra perdas. “Se isso acontecer vamos ter que sentar e repensar em quais setores poderemos abrir mão dos recursos”.


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