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Estado de Minas

Mudança de hábitos para gastar menos água começa dentro de casa

Economia deve ocorrer desde banho rápido até reaproveitamento da água em outras atividades. Vale ficar de olho também no desperdício nas ruas


postado em 02/02/2015 06:00 / atualizado em 02/02/2015 07:10

''Onde vejo desperdício, falo, seja no meu prédio, no trabalho, na rua. A gente tem de se mobilizar, porque as consequências serão drásticas se a situação não melhorar'' - Paula Bicalho, que economiza água até no banho do cachorrinho(foto: Marcos Vieira/EM/D.A PRESS)
''Onde vejo desperdício, falo, seja no meu prédio, no trabalho, na rua. A gente tem de se mobilizar, porque as consequências serão drásticas se a situação não melhorar'' - Paula Bicalho, que economiza água até no banho do cachorrinho (foto: Marcos Vieira/EM/D.A PRESS)
Velhos hábitos estão em processo de mudança há exatos 10 dias, quando a população mineira descobriu estar imersa numa crise hídrica sem precedentes. Em tempos de estiagem e altas temperaturas, usar e abusar da água tornou-se inconcebível. Diante do drama do racionamento que já bate à porta, vale tudo, desde simples atitudes, como diminuir o tempo debaixo do chuveiro, até ações mais sofisticadas, como instalar equipamentos inteligentes e econômicos em vasos sanitários e torneiras. A consciência fala mais alto, pois não é mais possível desperdiçar o líquido mais precioso do momento.

A assistente administrativo Ana Lídia Maria do Nascimento, de 35 anos, usou o improviso como aliado. Mesmo recém-construído, o prédio onde ela mora, no Bairro Santa Clara, em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, não permite adequações. Para reaproveitar a água da máquina de lavar, Ana Lídia comprou uma bombona de 100 litros para usar na limpeza do apartamento, além de encher a caixa da descarga, que é acoplada ao vaso sanitário. Para ela, consciência e criatividade devem se somar. “Todo mundo sabe o que deve ser feito, mas acredito que pouca gente se mobilize de fato, o que é grave, pois daqui a pouco não haverá água de jeito algum, nem economizando. Como não quero que isso ocorra rápido, pelo menos, minha parte farei.”

A professora Vânia Zocrato, de 54 anos, moradora do Bairro Pompeia, na Região Leste de BH, era do tipo “sujou, lavou”. Agora, para limpar a louça, é preciso juntar uma grande quantidade. Em um recipiente à parte, ela deixa as vasilhas em um pouco de água com detergente, ensaboa todas e abre a torneira para lavar tudo de uma vez. Os três banhos por dia foram reduzidos e o que tentou por várias vezes anteriormente sem conseguir, se tornou lei: molhar o corpo, fechar o chuveiro, ensaboar e depois se lavar. “São atitudes simples que só a necessidade nos faz perceber.”

No apartamento onde moram cinco pessoas, a vigilância é cerrada. Se alguém demorar no banho, Vânia logo bate à porta. Mudanças também na lavação de roupas. A roupa branca da filha médica, antes deixada de molho no tanque, agora fica numa bacia. A água do enxágue da máquina que ia para o esgoto é separada para lavar banheiro, área de serviço e cozinha e deixar alguma peça de roupa de molho. E a máquina é ligada apenas se estiver cheia. “As coisas precisam ocorrer realmente para as pessoas mudarem. Vamos ver se consigo descobrir outras formas de economizar.”

CAÇA-VAZAMENTOS A relações-públicas Júlia Furtado, de 33, contratou, junto ao condomínio do prédio onde mora, uma empresa especializada em caçar vazamentos, quando estourou a crise de água. “Economizar é obrigação e evitar o desperdício ainda mais”, diz. Na maioria dos apartamentos, incluindo o dela, a água ia pelo ralo por causa de vazamentos na descarga.

Embora ainda não se saiba quanto o reparo vai gerar de economia, ela está tranquila pelo trabalho feito. A “neurose” tomou conta da casa e, hoje, Júlia abre torneiras já pensando em fechar, seja para escovar os dentes, lavar a louça ou tomar banho. O conforto de uma bela chuveirada alimentada por aquecimento solar, sistema instalado no edifício, ficou no passado. “Deveria haver incentivo para instalação de placas solares, pois energia também gasta água.”

A doméstica Rosimary Sousa Medina, de 43, adotou medidas não apenas em casa, como também nos lares onde trabalha. Começou pela máquina de lavar, cuja água é armazenada em baldes para limpar o quintal. A bacia também é aliada para deixar a louça e esfregá-las. Até água do chuveiro, se puder, ela guarda. Lavar cabelo agora apenas no tanque, por ser mais rápido e possível de controlar a vazão. Rosimary evita também dar descarga com frequência: “Não custa nada guardar dois ou três xixis. Estou racionando mesmo, porque é muita água que jogamos fora e não podemos morrer de sede”.

Os novos hábitos também se tornaram rotina na casa onde ela trabalha de segunda a sexta-feira e cuida de duas crianças no fim de semana. Os meninos também estão aprendendo com ela a consumir de forma consciente. Banho rápido foi a primeira lição. “Gostaria que todos fizessem o mesmo, porque só eu não vou resolver. Mas minha consciência está tranquila.”

PATRULHA A jornalista Paula Bicalho, de 34, instaurou uma verdadeira “patrulha da água” em casa. E sobrou até para o cãozinho Joey Tribianni, um shitzu de 2 anos. Torneiras fechadas para escovar os dentes ou lavar vasilhas. O cachorro, que deve tomar banho duas vezes por semana numa longa sessão de cuidados para se curar de uma doença, não gosta, mas, enquanto sabão e xampu são aplicados, nenhuma gota d’água é despejada, estando ele com frio ou não.

A energia é outro alvo de Paula. Equipamentos eletrônicos são mantidos desligados e, quando assiste à TV, a luz do quarto fica apagada. Ela quer também comprar redutores de vazão para instalar em todas as torneiras do apartamento. Diante de tudo isso, se tornou fiscal. “Onde passo e vejo qualquer tipo de desperdício, falo, seja no meu prédio, no trabalho, na rua. A gente tem obrigação de se mobilizar agora, porque as consequências disso serão drásticas demais se a situação não melhorar. Isso é muito sério. Nossa existência depende dessa conscientização.”


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