Velhos hábitos estão em processo de mudança há exatos 10 dias, quando a população mineira descobriu estar imersa numa crise hídrica sem precedentes. Em tempos de estiagem e altas temperaturas, usar e abusar da água tornou-se inconcebível. Diante do drama do racionamento que já bate à porta, vale tudo, desde simples atitudes, como diminuir o tempo debaixo do chuveiro, até ações mais sofisticadas, como instalar equipamentos inteligentes e econômicos em vasos sanitários e torneiras. A consciência fala mais alto, pois não é mais possível desperdiçar o líquido mais precioso do momento.
A assistente administrativo Ana Lídia Maria do Nascimento, de 35 anos, usou o improviso como aliado. Mesmo recém-construído, o prédio onde ela mora, no Bairro Santa Clara, em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, não permite adequações. Para reaproveitar a água da máquina de lavar, Ana Lídia comprou uma bombona de 100 litros para usar na limpeza do apartamento, além de encher a caixa da descarga, que é acoplada ao vaso sanitário. Para ela, consciência e criatividade devem se somar. “Todo mundo sabe o que deve ser feito, mas acredito que pouca gente se mobilize de fato, o que é grave, pois daqui a pouco não haverá água de jeito algum, nem economizando. Como não quero que isso ocorra rápido, pelo menos, minha parte farei.”
A professora Vânia Zocrato, de 54 anos, moradora do Bairro Pompeia, na Região Leste de BH, era do tipo “sujou, lavou”. Agora, para limpar a louça, é preciso juntar uma grande quantidade. Em um recipiente à parte, ela deixa as vasilhas em um pouco de água com detergente, ensaboa todas e abre a torneira para lavar tudo de uma vez. Os três banhos por dia foram reduzidos e o que tentou por várias vezes anteriormente sem conseguir, se tornou lei: molhar o corpo, fechar o chuveiro, ensaboar e depois se lavar. “São atitudes simples que só a necessidade nos faz perceber.”
No apartamento onde moram cinco pessoas, a vigilância é cerrada. Se alguém demorar no banho, Vânia logo bate à porta. Mudanças também na lavação de roupas. A roupa branca da filha médica, antes deixada de molho no tanque, agora fica numa bacia. A água do enxágue da máquina que ia para o esgoto é separada para lavar banheiro, área de serviço e cozinha e deixar alguma peça de roupa de molho. E a máquina é ligada apenas se estiver cheia. “As coisas precisam ocorrer realmente para as pessoas mudarem. Vamos ver se consigo descobrir outras formas de economizar.”
CAÇA-VAZAMENTOS A relações-públicas Júlia Furtado, de 33, contratou, junto ao condomínio do prédio onde mora, uma empresa especializada em caçar vazamentos, quando estourou a crise de água. “Economizar é obrigação e evitar o desperdício ainda mais”, diz. Na maioria dos apartamentos, incluindo o dela, a água ia pelo ralo por causa de vazamentos na descarga.
Embora ainda não se saiba quanto o reparo vai gerar de economia, ela está tranquila pelo trabalho feito. A “neurose” tomou conta da casa e, hoje, Júlia abre torneiras já pensando em fechar, seja para escovar os dentes, lavar a louça ou tomar banho. O conforto de uma bela chuveirada alimentada por aquecimento solar, sistema instalado no edifício, ficou no passado. “Deveria haver incentivo para instalação de placas solares, pois energia também gasta água.”
A doméstica Rosimary Sousa Medina, de 43, adotou medidas não apenas em casa, como também nos lares onde trabalha. Começou pela máquina de lavar, cuja água é armazenada em baldes para limpar o quintal. A bacia também é aliada para deixar a louça e esfregá-las. Até água do chuveiro, se puder, ela guarda. Lavar cabelo agora apenas no tanque, por ser mais rápido e possível de controlar a vazão. Rosimary evita também dar descarga com frequência: “Não custa nada guardar dois ou três xixis. Estou racionando mesmo, porque é muita água que jogamos fora e não podemos morrer de sede”.
Os novos hábitos também se tornaram rotina na casa onde ela trabalha de segunda a sexta-feira e cuida de duas crianças no fim de semana. Os meninos também estão aprendendo com ela a consumir de forma consciente. Banho rápido foi a primeira lição. “Gostaria que todos fizessem o mesmo, porque só eu não vou resolver. Mas minha consciência está tranquila.”
PATRULHA A jornalista Paula Bicalho, de 34, instaurou uma verdadeira “patrulha da água” em casa. E sobrou até para o cãozinho Joey Tribianni, um shitzu de 2 anos. Torneiras fechadas para escovar os dentes ou lavar vasilhas. O cachorro, que deve tomar banho duas vezes por semana numa longa sessão de cuidados para se curar de uma doença, não gosta, mas, enquanto sabão e xampu são aplicados, nenhuma gota d’água é despejada, estando ele com frio ou não.
A energia é outro alvo de Paula. Equipamentos eletrônicos são mantidos desligados e, quando assiste à TV, a luz do quarto fica apagada. Ela quer também comprar redutores de vazão para instalar em todas as torneiras do apartamento. Diante de tudo isso, se tornou fiscal. “Onde passo e vejo qualquer tipo de desperdício, falo, seja no meu prédio, no trabalho, na rua. A gente tem obrigação de se mobilizar agora, porque as consequências disso serão drásticas demais se a situação não melhorar. Isso é muito sério. Nossa existência depende dessa conscientização.”
A assistente administrativo Ana Lídia Maria do Nascimento, de 35 anos, usou o improviso como aliado. Mesmo recém-construído, o prédio onde ela mora, no Bairro Santa Clara, em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, não permite adequações. Para reaproveitar a água da máquina de lavar, Ana Lídia comprou uma bombona de 100 litros para usar na limpeza do apartamento, além de encher a caixa da descarga, que é acoplada ao vaso sanitário. Para ela, consciência e criatividade devem se somar. “Todo mundo sabe o que deve ser feito, mas acredito que pouca gente se mobilize de fato, o que é grave, pois daqui a pouco não haverá água de jeito algum, nem economizando. Como não quero que isso ocorra rápido, pelo menos, minha parte farei.”
A professora Vânia Zocrato, de 54 anos, moradora do Bairro Pompeia, na Região Leste de BH, era do tipo “sujou, lavou”. Agora, para limpar a louça, é preciso juntar uma grande quantidade. Em um recipiente à parte, ela deixa as vasilhas em um pouco de água com detergente, ensaboa todas e abre a torneira para lavar tudo de uma vez. Os três banhos por dia foram reduzidos e o que tentou por várias vezes anteriormente sem conseguir, se tornou lei: molhar o corpo, fechar o chuveiro, ensaboar e depois se lavar. “São atitudes simples que só a necessidade nos faz perceber.”
No apartamento onde moram cinco pessoas, a vigilância é cerrada. Se alguém demorar no banho, Vânia logo bate à porta. Mudanças também na lavação de roupas. A roupa branca da filha médica, antes deixada de molho no tanque, agora fica numa bacia. A água do enxágue da máquina que ia para o esgoto é separada para lavar banheiro, área de serviço e cozinha e deixar alguma peça de roupa de molho. E a máquina é ligada apenas se estiver cheia. “As coisas precisam ocorrer realmente para as pessoas mudarem. Vamos ver se consigo descobrir outras formas de economizar.”
CAÇA-VAZAMENTOS A relações-públicas Júlia Furtado, de 33, contratou, junto ao condomínio do prédio onde mora, uma empresa especializada em caçar vazamentos, quando estourou a crise de água. “Economizar é obrigação e evitar o desperdício ainda mais”, diz. Na maioria dos apartamentos, incluindo o dela, a água ia pelo ralo por causa de vazamentos na descarga.
Embora ainda não se saiba quanto o reparo vai gerar de economia, ela está tranquila pelo trabalho feito. A “neurose” tomou conta da casa e, hoje, Júlia abre torneiras já pensando em fechar, seja para escovar os dentes, lavar a louça ou tomar banho. O conforto de uma bela chuveirada alimentada por aquecimento solar, sistema instalado no edifício, ficou no passado. “Deveria haver incentivo para instalação de placas solares, pois energia também gasta água.”
A doméstica Rosimary Sousa Medina, de 43, adotou medidas não apenas em casa, como também nos lares onde trabalha. Começou pela máquina de lavar, cuja água é armazenada em baldes para limpar o quintal. A bacia também é aliada para deixar a louça e esfregá-las. Até água do chuveiro, se puder, ela guarda. Lavar cabelo agora apenas no tanque, por ser mais rápido e possível de controlar a vazão. Rosimary evita também dar descarga com frequência: “Não custa nada guardar dois ou três xixis. Estou racionando mesmo, porque é muita água que jogamos fora e não podemos morrer de sede”.
Os novos hábitos também se tornaram rotina na casa onde ela trabalha de segunda a sexta-feira e cuida de duas crianças no fim de semana. Os meninos também estão aprendendo com ela a consumir de forma consciente. Banho rápido foi a primeira lição. “Gostaria que todos fizessem o mesmo, porque só eu não vou resolver. Mas minha consciência está tranquila.”
PATRULHA A jornalista Paula Bicalho, de 34, instaurou uma verdadeira “patrulha da água” em casa. E sobrou até para o cãozinho Joey Tribianni, um shitzu de 2 anos. Torneiras fechadas para escovar os dentes ou lavar vasilhas. O cachorro, que deve tomar banho duas vezes por semana numa longa sessão de cuidados para se curar de uma doença, não gosta, mas, enquanto sabão e xampu são aplicados, nenhuma gota d’água é despejada, estando ele com frio ou não.
A energia é outro alvo de Paula. Equipamentos eletrônicos são mantidos desligados e, quando assiste à TV, a luz do quarto fica apagada. Ela quer também comprar redutores de vazão para instalar em todas as torneiras do apartamento. Diante de tudo isso, se tornou fiscal. “Onde passo e vejo qualquer tipo de desperdício, falo, seja no meu prédio, no trabalho, na rua. A gente tem obrigação de se mobilizar agora, porque as consequências disso serão drásticas demais se a situação não melhorar. Isso é muito sério. Nossa existência depende dessa conscientização.”