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Estado de Minas

Necessidade de economia de água em condomínios gera atrito entre síndicos e moradores

Medidas para evitar racionamento expõem relação nem sempre amigável, mas muitos condomínios dão exemplo e começam a se mobilizar


postado em 31/01/2015 06:00 / atualizado em 31/01/2015 10:17

Job Lopes usa tecnologia para caçar vazamentos: manutenção, diz ele, pode reduzir gasto em até 60%(foto: Beto Magalhães/EM/D.A.Press)
Job Lopes usa tecnologia para caçar vazamentos: manutenção, diz ele, pode reduzir gasto em até 60% (foto: Beto Magalhães/EM/D.A.Press)


Reservatórios vazios e condomínios cheios de problemas. A crise hídrica bate à porta dos apartamentos e das salas comerciais de prédios da Região Metropolitana de Belo Horizonte, exigindo medidas urgentes dos síndicos e, muitas vezes, acirrando as nem sempre fáceis relações entre moradores e administradores dos edifícios. Tem de tudo um pouco para atender à redução de 30% no consumo, como pediu o governo estadual à população há nove dias: campanhas contra o desperdício nos elevadores, reuniões para discutir um possível racionamento, contratação de empresas para localizar vazamentos e instalação de hidrômetros individuais que acusam o gasto em cada apartamento. “Não queremos ‘entrar pelo cano’ com essa história”, afirma uma moradora do Bairro União, na Região Nordeste da capital, que se diz cansada de pedir ao síndico para impor normas restritivas.


Há seis apartamentos no prédio de M, de 62 anos, aposentada (a moradora pede para não ser identificada). “Vivo sozinha, então meu gasto é mínimo, mas no segundo andar tem família com cinco pessoas, sendo duas crianças pequenas, além da empregada. Será que terei que lutar sozinha?”, pergunta M., que pretende, na semana que vem, ir de apartamento em apartamento para unir forças e enfrentar a situação. “Estou preocupadíssima com essa situação. Já pensou ficar sem água para banho, cozinhar e lavar roupa? Todos devem fazer sua parte, a começar da administração do condomínio”, defende a aposentada.

Muitos prédios estão levando a sério a cruzada contra a escassez de água. Síndico de um condomínio (20 apartamentos) no Bairro Gutierrez, na Região Oeste, Saulo Menezes Marques de Souza afixou, nos elevadores social e de serviço, as dicas da Copasa para conter o consumo: fechar a torneira quando estiver ensaboando, não lavar calçada com mangueira, identificar vazamentos, diminuir o tempo da descarga do vaso sanitário e outras orientações úteis. “Os gastos com água são coletivos e temos que atingir a economia de 30%”, afirma Saulo, disposto a cumprir a meta.

O primeiro passo está na aquisição de bombonas de 50 litros para recolher a água usada para lavar roupa nas máquinas e reutilizá-la na limpeza de áreas externas. “Se tudo isso não der certo, adotaremos um plano B, que inclui interdição das áreas de lazer, de festas e da churrasqueira. Outra possibilidade é transformar a piscina em caixa-d’água para termos reserva técnica”, diz o síndico.

PELO RALO O especialista de avaliação, engenharia de sondagem e prevenção a consumo de água Job Lopes tem uma empresa que usa tecnologia eletrônica para “caçar” vazamentos. Ele diz que a demanda pelo serviço nos condomínios aumentou cerca de 30% em pouco mais de uma semana. Se antes os clientes se preocupavam com a correção, agora o foco é a economia de água. Mesmo assim, ele assiste, diariamente, a uma batalha travada nos condomínios para a contratação do trabalho. Um dos casos mais emblemáticos é de um prédio no Centro de BH, cuja síndica tenta, há meses, a autorização da assembleia para executar o serviço no valor de R$ 12,8 mil.

O edifício, com 63 unidades e lojas no térreo, saltou de um consumo diário de 100 metros cúbicos para 600, em dois anos. A conta de água no valor de R$ 5 mil pulou para R$ 12 mil. Nos últimos 24 meses, o gasto extra foi de R$ 168 mil e, pelo ralo, desceram 100 milhões de litros d’água. Segundo Lopes, em muitos casos “a conta cabe no bolso, então (os moradores) se acomodam”, diz.

Em outro edifício, o novo síndico logo viu que havia algo errado no consumo médio diário de 30 metros cúbicos, que se repetia havia 16 anos. A empresa encontrou uma tubulação estourada, jorrando água. No mês seguinte ao serviço, a conta foi reduzida de R$ 16 mil para R$ 4,5 mil. “A maioria dos prédios mais antigos do Centro tem conta viciada e, se fizesse manutenção, diminuiria o consumo em 50% a 60%, bem acima do pedido do governo”, calcula.

O equipamento usado pela empresa amplifica até mil vezes o barulho que não se consegue ouvir naturalmente. Além de identificar o problema, o perito consegue também medi-lo: a válvula de uma descarga desregulada, por exemplo, consome entre seis e sete vezes mais água. Com toda tecnologia disponível, Job Lopes acredita que falta agora sensibilizar a população para uma “mudança de mentalidade”. “Precisamos reaprender”, afirma.

Hidrômetros No mês que vem, o Sindicato dos Condomínios Residenciais, Comerciais e Mistos de Belo Horizonte e Região Metropolitana vai promover um evento sobre uso racional da água, diz o presidente da entidade, Carlos Eduardo Alves de Queiroz. “Vamos aproveitar que o assunto está ‘quente’ e reunir autoridades e prefeituras para falar sobre o desperdício, entre eles varrer as calçada com mangueira”, adianta Carlos Eduardo. Outra orientação importante está no uso dos hidrômetros individuais, considerados essenciais para medir os gastos em casa apartamento. “BH tem cerca de 15 mil prédios, mas menos de 1% tem essa solução que ser fundamental na hora de economizar.

Na avaliação do engenheiro Rony Rossi, de uma empresa especializada em medição e gestão de consumo, os hidrômetros individuais podem reduzir em até 50% o gasto de água nos condomínios: “É a melhor ferramenta, ainda mais quando a conta dói no bolso”, afirma o engenheiro ao mostrar a montagem dos hidrômetros no hall de um prédio do Bairro Gutierrez. Rony diz que a instalação dos hidrômetros individuais é de decisão exclusiva do condomínio, sem interferência da Copasa. “O sistema permite um rateio sem onerar os que gastam menos”, afirma.

Rony explica que o custo do hidrômetro individual, por apartamento, é de R$ 350, quando o prédio já tem a estrutura para receber o equipamento. Nos mais antigos, que não são preparados, o preço pode chegar a R$ 550. “A média de hidrômetros por apartamento é de quatro, mas esse número pode chega a oito, dependendo da quantidade de registros”, esclarece. Residente no Grajaú, o administrador de clínicas odontológicas Márcio Henry Buzziol, tem feito o possível para economizar água e já dispõe de hidrômetro individual no seu apartamento e está satisfeito com o resultado. Síndico de um prédio comercial no Bairro Santa Efigênia, Márcio diz que está sensibilizando condôminos, principalmente dentistas, para redução do consumo.

 

 

Fique atento
Dicas para economizar em condomínios

Contratar uma empresa especializada em detectar vazamentos

Mobilizar os moradores para uma reunião que trate do assunto

Fazer campanhas para redução do consumo

Investir num sistema de captação de chuva ou, na falta dele, colocar baldes para reaproveitar a água na limpeza de áreas comuns

Instalar hidrômetros individuais

 

 

Saiba mais

Custo de medidor é dos moradores

De acordo com a Copasa, a medição individualizada pode ser implantada em condomínios novos e antigos, pertencentes a qualquer categoria de uso: residencial, social, comercial, industrial, pública ou mista. A responsabilidade pelos custos do projeto, das obras e instalações necessárias é do condomínio. Cabe à Copasa a instalação dos hidrômetros em cada unidade. A implantação num condomínio que não tenha sido projetado para este processo irá requerer a execução de obras. Para tanto, é necessário a contratação de um especialista em projetos de medição individualizada. A medição individualizada permite que cada unidade controle melhor o seu consumo, estimulando, assim, a diminuição de desperdícios.


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