A intenção pode até ser a melhora no trânsito, mas, na prática, as obras do transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês) simultaneamente em três das principais avenidas de Belo Horizonte – Cristiano Machado, Antônio Carlos e Pedro I – transformaram a cidade em um grande beco sem saída. O resultado desse drama ganhou um agravante ontem, com o fechamento da pista exclusiva de coletivos na Avenida Cristiano Machado, que liga o Centro à MG-10. Táxis e ônibus passam a fazer companhia para os carros, que, por sua vez, não têm para onde fugir. “Com essas obras, está muito pior. Rodo todo dia na região, sempre busco rotas alternativas e encontro trânsito ruim em todos os lugares”, conta o motorista Yann Bottrel, de 23 anos, prestes a enfrentar o trânsito da Rua Jacuí, um dos desvios para fugir da Cristiano Machado.
A interdição completa da bus way, que desde dezembro estava funcionando apenas no sentido bairro/Centro, ocorreu somente a partir das 16h, mas desde o início do dia estava sendo tratada como “o caos” por frequentadores da região. A experiência do outro lado da via, no sentido Centro/bairro, fechada em dezembro, já dá mostras do que está por vir hoje. No fim da tarde, por volta das 17h, não é possível mais identificar um ou outro ponto de retenção, já que a Cristiano Machado se torna um imenso corredor de carros trafegando em ritmo de tartaruga. “Não passo mais pela Cristiano Machado. Tento cortar caminho pelo bairros”, conta o taxista Fernando Eugênio Ferreira, de 64 anos, que circula diariamente pelo trecho.
Difícil é encontrar rota de fuga. “Moro no Sagrada Família e as ruas de lá agora parecem até uma BR, de tanto motorista cortando caminho”, ressalta o promotor de vendas Marcos André dos Santos, de 31 anos, que desde terça-feira já está vivendo os efeitos da transferência de ônibus para a pista mista. Algumas linhas, como a de Marcos, se anteciparam e deixaram de circular no sentido Bairro/Centro na busway desde o início da semana. “Estou demorando pelo menos mais 20 minutos para chegar em casa. Tem que ter paciência, porque não há outra saída”, contava, ontem à noite, em frente ao Minas Shopping.
Seja qual for o sentido, o local é um dos pontos de maior retenção da avenida e, ontem, ainda contou com um “elemento surpresa”: o engavetamento envolvendo três carros, por volta das 18h30, na pista que havia começado a receber os coletivos. O resultado? Retenção e teste de paciência para motoristas e passageiros. Para o frentista Alexei Rolim, de 42, que trabalha às margens da via e mora na região, essa é apenas uma amostra do que está por vir hoje de manhã, quando o fluxo rumo ao Centro é maior. “Amanhã vai parar tudo. O que está acontecendo no sentido bairro à tarde vai se repetir na pista em direção ao Centro de manhã”, conta Alexei, voluntário de trânsito da avenida e que, a qualquer sinal de problema na via, liga para órgãos competentes tomarem providência.
Mas, para o taxista Geracy Caetano Gontijo, 76, que dirige pelas ruas de Belo Horizonte há mais de 30 anos, 17 deles num ponto na próximo à Cristino Machado, desta vez não há muito a ser feito, pois as obras estão espalhadas pela cidade inteira. “De manhã, é só no sentido Centro. São vários locais que ficam agarrados. No fim do dia, o problema é só na volta para os bairros e a lentidão também se repete em vários outros locais. Como a situação na Pedro I é simplesmente inviável, milhares de pessoas de Venda Nova e da Região Norte preferem a Cristiano Machado. Por mais que ela também ‘agarre’, é melhor do que parar nas obras da Pedro I/Antônio Carlos”, completa.
De acordo com a assessoria de comunicação da BHTrans, normalmente a empresa não indica rotas alternativas, pois o próprio motorista já se encarrega de procurar outros caminhos. Segundo o órgão gestor do trânsito na capital, apontar um desvio oficial demanda um tratamento específico para a rota, o que seria “inviável”, diante das várias alternativas que os motoristas podem escolher. No caso específico da Cristiano Machado, a empresa informa que não há um desvio oficial e, nesse caso, como a avenida está em obras, assim como boa parte da cidade, o jeito é sair mais cedo ou evitar a via quando possível.
Comércio já sente
Transtorno para o motorista, prejuízo para o comércio. Lojistas ao longo da Avenida Cristiano Machado constatam queda no movimento no comércio desde o início das obras do transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês) e temem a piora com o fechamento praticamente total da pista exclusiva para os coletivos. Com a interdição, áreas antes destinadas a estacionamento agora podem ser usadas apenas para o embarque e desembarque de passageiros. “Ontem (quarta-feira), eles instalaram as placas proibindo motoristas de estacionarem em frente à loja e já notamos queda em nosso movimento hoje (ontem)”, afirma Ivan Oliveira Santos, gerente de uma revendedora de veículos na Cristiano Machado.
VEJA REPORTAGEM HOJE NO JORNAL DA ALTEROSA PRIMEIRA EDIÇÃO SOBRE O CAOS NA AVENIDA CRISTIANO MACHADO, LOGO DEPOIS DO ALTEROSA ESPORTE