A Polícia Civil vai pedir a prisão preventiva da dona de casa Neli Maria Neves e do marido dela, o cabo da PM reformado Jair Narcizo de Lacerda, suspeitos do sequestro de uma menina de 7 anos em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O casal já estava em prisão temporária, mas a a polícia ainda vai apurar se a menor tem algum grau de parentesco com eles ou com outros suspeitos. O casal e os dois irmãos de Neli disseram em cartório que a criança era mesmo filha de Neli. Eles serão indiciados por sequestro, cárcere privado, falsidade ideológica e registro de documentação.
Em coletiva na manhã desta quarta-feira, a delegada da Divisão de Referência à Pessoa Desaparecidade, Cristina Coelli, informou que a garota pode ter sido sequestrada a pedido da irmã de Neli, que é acusada de matar o marido. O rapto da menor seria uma forma de desviar o foco das investigações. Outra hipótese é a de que os envolvidos pretendiam conseguir benefícios concedidos a filhos de militares. A criança e a jovem de 25 anos encontradas na casa dos suspeitos tiveram registros de nascimento falsificados. Ainda de acordo com a delegada, a irmã de Neli tem uma filha que foi registrada duas vezes.
A polícia ainda vai investigar se a mais velha realmente tem problemas mentais. “Encontramos documentos dando conta de que ela possui a saúde mental comprometida, fazendo uso de medicamentos psicotrópicos, e outros que demostram que ela está em pleno exercício de suas faculdades mentais. Ela é candidata a obtenção da carteira de motorista, já passou pelos exames de legislação, médico e psicotécnico. Ela também aparece como procuradora em um contrato de compra e venda de imóveis e concluiu o Ensino Médio”, explica Coelli. A moça já prestou depoimento e está sendo mantida em segurança em um local não divulgado pela polícia.
Conforme a delegada, a polícia ainda busca alguma documentação médica que tenha classificado a jovem como inválida. Tudo será encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para perícia. “Assim vamos saber se ela realmente tem problemas mentais e foi explorada pelo casal, ou se essa foi uma forma de dominá-la e mantê-la em cárcere, já que testemunhas afirmam que ela sempre foi vista acompanhada pela Neli ou pelo Jair, quando não estava trancada em casa”, afirma a delegada, que mais uma vez ressaltou o problema da facilidade do registro tardio nos cartórios. “Isso acaba sendo um facilitador para crimes, como tráfico de pessoas. Com essa certidão é possível se deslocar com uma criança para outro país”, alerta.
Entenda o caso
A menina foi sequestrada no dia 7 deste mês. De acordo com a polícia, 48 horas depois ela foi registrada como sendo filha do casal. Logo após ser divulgado o retrato falado da acusada, a garota foi devolvida à sua família, um dia depois do registro realizado num cartório de São Joaquim das Bicas. A Polícia Civil ainda informou nesta quarta que a vítima não sofreu maus tratos durante o cárcere. Ela chorava muito e pedia para voltar para casa. A jovem de 25 anos teria ajudado a cuidar da menina.