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Estado de Minas

Barbacena abriga único manicômio judiciário do estado

Embora tenha aposentado métodos arcaicos de tratar a loucura, Barbacena conserva o único manicômio judiciário de Minas, onde cumprem penas criminosos considerados perigosos


18/05/2011 06:00 - atualizado 18/05/2011 07:13


Aparelhos de eletrochoque e camisas de força, que já fizeram parte do arsenal terapêutico destinado a tratar portadores de sofrimento mental, hoje são peças de museu em Barbacena, cidade para a qual o Dia de Luta Antimanicomial, lembrado hoje, tem um significado especial. Esses instrumentos ficam expostos em uma redoma de vidro bem na entrada do Hospital Psiquiátrico e de Custódia Jorge Vaz, na cidade do Campo das Vertentes que, desde 1927, é o único manicômio judiciário de Minas. Os métodos de tratamento dos internos evoluíram, mas nem por isso o lugar deixa de ser um sanatório e, acima de tudo, uma prisão.

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O prédio de 80 anos conta com celas coletivas e individuais – destinadas aos que estão em surto ou em fase de adaptação no hospital –, além de refeitórios e pátios para banhos de sol. Os 177 internos (32 mulheres e 145 homens) cumprem não somente uma pena: pagam o preço por serem taxados não só de loucos, mas também de presidiários. De dentro das celas, o olhar dos detentos é o que mais impressiona. Uns encaram, outros indagam, há quem peça ajuda e também quem permaneça totalmente alheio.

Aparelhos de eletrochoque viraram peça de um passado que Barbacena ainda procura superar
Aparelhos de eletrochoque viraram peça de um passado que Barbacena ainda procura superar (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Estudo recente de alunos da Faculdade de Medicina de Barbacena, coordenado pelo psiquiatra forense, professor e diretor de Atendimento do Jorge Vaz, Sebastião Vidigal, mostrou que a grande maioria dos internos é de alta ou média periculosidade e está trancafiada lá por ter cometido homicídio ou tentativa. Há casos como o do canibal de Serra Azul de Minas, na Região Central, que matou um amigo e preparou uma feijoada com o corpo. Há quase duas décadas no manicômio judiciário, o homem de sorriso largo estende a mão para a equipe e conversa amistosamente com o diretor-geral do manicômio, José Maria Fortes de Carvalho, sobre sua predileção por guloseimas, especialmente balas.

Outro caso assustador é o do viciado em crack conhecido como “Carneirinho”, que decepou o próprio pênis e o mandou para o diretor de um presídio. Também está sob custódia em Barbacena o detetive que esquartejou a mulher e a colocou dentro de uma mala, assim como o filho que assassinou os pais em Belo Horizonte.

Crimes

De acordo com o psiquiatra forense e diretor Sebastião Vidigal, por trás de todo delito está um histórico de desagregação familiar. Portanto, são comuns casos de pais que estupram filhos, filhas que matam a mãe e outros do tipo. “Quase ninguém aqui recebe visita de parentes ou amigos e essa situação se agrava quando o crime cometido tem aspecto familiar”, constata o médico. Vidigal acrescenta que é fundamental um tratamento não só à base de remédios, mas com participação de profissionais de várias áreas. “Não há como curar a loucura totalmente, mas é preciso tratar a psicose, com remédios e outras ações como atividades, terapias, esportes. Não tenho dúvida de que isso é fundamental para o tratamento dentro e fora de um sanatório. Mas acabar com eles, não há como. Na hora do surto, quem dá conta é o manicômio.”

Aos poucos, o Hospital Jorge Vaz começa a implantar um projeto intitulado Deu a louca no Manicômio, que envolve medidas para a reinserção social dos internos e um tratamento mais humanitário. Segundo o diretor-geral, José Maria de Carvalho, a iniciativa engloba atividades como pintura, desenho, esportes, música e horticultura. “A falta de ocupação para os presos é um grande problema e é nisso que o nosso trabalho tenta se concentrar. Em breve, devemos inaugurar uma quadra poliesportiva, mas precisamos de mais recursos para a implantação total do projeto.”


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