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Estado de Minas entrevista/Fanny Littmann - 54 anos, consultora de moda

Olhar renovado

Fanny Littmann está à frente da Penso Moda, uma plataforma digital que atende ao mercado calçadista do Brasil e nomes importantes da indústria da moda


25/07/2021 04:00

(foto: arquivo pessoal)
(foto: arquivo pessoal)


Se o assunto é sapato, o nome de Fanny Littmann está presente e isso desde a década de 1990, quando ensaiava seus passos no mundo da moda, em Belo Horizonte. Ligada à grandes marcas da indústria calçadista do Brasil, como a Arezzo, a consultora tem uma visão de 360 graus do segmento e uma pesquisa precisa e atualíssima. A mudança de Belo Horizonte para o Sul do país foi consequência da caminhada para o crescimento profissional, uma vez que ali se concentram fábricas relevantes e os melhores ateliês. Fanny atravessou a era analógica e entrou na tecnológica com a mesma competência. Sua empresa, a Penso Moda, atua há anos no setor, mas foi ágil e se reestruturou em torno de negócios novos. Essa reinvenção veio por meio da contribuição dos dois sócios, gente jovem e antenada como Veronique Littmann, que atua na área executiva, e Carlos Barbosa, diretor de Finanças e de Operações. A plataforma digital oferece um material de qualidade, informações preciosas e indispensáveis para ultimar decisões que envolvem o cenário completo da indústria de calçados no país e internacionalmente, como insights, mercado, desfiles, comportamento de marcas estrangeiras e conglomerados, dados econômicos e relatórios. Com o aval e expertise de quem entende profundamente do negócio.
 
O que é a Penso Moda e a quem é dirigida?
Nós facilitamos o acesso à informação de moda, analisamos moda de uma forma completamente diferente. Apesar de a Penso Moda existir desde 2004, passamos por uma reestruturação e atuamos como uma plataforma digital desde o final de 2020. Podemos dizer que ela é um guia de moda para o fabricante e fornecedores; já para o lojista, somos um guia de compras. Hoje, conseguimos atender aos três pilares que compõem o mercado calçadista, que é nosso foco.
 

"Podemos dizer que a Penso Moda é um guia de moda para o fabricante e fornecedores; já para o lojista, somos um guia de compras"

 

Como a Penso Moda funciona? Como vocês chegaram a esse formato e o quesua proposta tem de especial?
Nossos clientes têm direito a um pacote de soluções, desde um banco de imagens com fotos em alta resolução até relatórios mensais de monitoramento de mercado. Eles são feitos de forma quantitativa: tendências, cores, modelos, materiais, construções e preço médio por categoria são analisados. O que permite não só um monitoramento mais assertivo de mercado, mas uma análise muito mais rica dos desfiles internacionais! Nossa ferramenta atua diretamente na tomada de decisão, diminuindo tempo, desperdício e entregando mais segurança para as equipes que atendemos. Times de estilo de diversas empresas são extremamente pressionados a entregar resultados. Em certo ponto, nos questionamos até onde a criação é liberada nas mesmas. A partir disso, desenvolvemos um sistema em que analisamos e entregamos tendências para que elas sejam entendidas tanto pelo designer quanto pelo vendedor que está na ponta, criando, assim, uma integração maior entre as áreas.

Quem são seus sócios na Penso Moda?
Veronique Littmann é a diretora-executiva. Formada em administração de empresas pela universidade Anhembi Morumbi, liderou campanhas de ativação da marca Palmolive. Foi responsável pela alocação da verba de lançamento de produto em materiais de ponto de venda e divulgação no marketing do grupo Colgate-Palmolive. E Carlos Barbosa, formado em engenharia elétrica pela Universidade Mackenzie, é o diretor Financeiro e de Operações. Entre outras experiências, ele estruturou e automatizou processos para aumentar a eficiência da gestão de riscos não financeiros e de crédito no Deutsche Bank. Antes disso, atuou na estratégia e planejamento do lançamento de veículos elétricos da Renault no Brasil.

Qual é a sua formação original e como se envolveu com essa área?
Sou formada em estilismo pela Esmod Paris desde 1989, pois não existia, na época, escolas ou faculdades de estilismo no Brasil. Me formei em vestuário, mas, em 1993, fui contratada pela Cláudia Narciso para ser gerente de Produto na Julia Mezzeti e, desde então, nunca mais saí do setor do calçado.Você começou em Belo Horizonte oferecendo um curso de moda. Como era o modelo?
Verdade. Logo que voltei de Paris, no começo da década de 1990, montei uma escola de estilo, EEMD, na Avenida Getúlio Vargas, bem perto da padaria Bonomi. O curso tinha duração de três meses e o aluno que entrasse não precisaria saber desenhar nada. Eu criei um método em que os alunos aprendiam a desenhar, planejar e executar uma coleção. O objetivo era formar pessoas que amavam moda e queriam se profissionalizar. Participaram da escola Martielo Toledo, Cristiane Mesquita, Eduardo Suppes e muitos outros profissionais incríveis.

Como era o panorama da cidade nessa época?
Vivíamos a efervescência da moda brasileira, que começava a se profissionalizar. Em BH, tínhamos apenas a minha escola e o curso livre da UFMG oferecendo estilismo. Em São Paulo, a Santa Marcelina formava o berço de muitos grandes estilistas do Brasil, como Alexandre Herchcovitch.

Você foi casada com Jotta Sybbalena. Como essa união contribuiu profissionalmente?
Eu e Jotta sempre nos apoiamos profissionalmente e, de certa forma, nos completávamos. Sempre tivemos admiração e respeito um pelo outro. A troca de experiências era constante, assim como o respeito por nossos trabalhos individuais: ele proprietário da marca e eu consultora de calçados.

Você se mudou para o Sul do país para ficar mais perto dessa indústria?
Mudei-me para o Sul, pois já exercia, há três anos, meu trabalho de consultora de moda exclusiva na Arezzo e quis dar uma vida mais tranquila à minha família. A ponte aérea BH - POA começou a ficar muito desgastante. Sempre gostei do Sul e sabia que existia a oportunidade de ampliar o negócio de consultoria na região.

Como está a situação do mercado nesse polo? Ainda é pujante?
O Rio Grande do Sul continua sendo um dos mais importantes polos calçadistas do Brasil. Passou por grandes transformações nas últimas duas décadas em que estou aqui e ainda passa. Contudo, ainda é um polo que se adapta muito rápido às necessidades e tem empresas muito tradicionais, com marcas muito firmes no mercado.

Aquela tradição sulina de exportar o melhor da produção ainda está em pauta? Como está a situação dos ateliês?
O Rio Grande do Sul continua exportando, existem companhias que continuam fazendo calçados de marcas internacionais importantes e, desde o ano passado, percebe-se uma movimentação de retorno dessas marcas que deixaram o Brasil pela China, há alguns anos, devido à pandemia. Vamos observar se esse movimento continuará.

Qual a qualidade da nossa matéria-prima?
Temos excelentes matérias-primas, como couros desenvolvidos sem materiais pesados, sintéticos de poliuretano com visual perfeito de couros, tecidos com tramas incríveis, que se adaptam a qualquer tipo de necessidade para cabedal (parte superior do calçado). Haja vista a febre do knitwear no tênis. O Brasil já tem grandes fornecedores desse tecido, não dependendo mais do mercado externo.

O mercado calçadista ainda foca muito nas tendências dos desfiles e grandes criadores? Há moda autoral nessa área?
Foca. Por isso, a Penso Moda é uma aliada muito grande dos designers. Analisamos os grandes desfiles em forma de dados, analisando tendências (repetições de uma determinada forma) e entregando tudo quantificado. Então sabemos exatamente qual a principal tendência de cada temporada 12 meses antes de ela ser lançada no mercado nacional. Porém, o mercado brasileiro tem uma peculiaridade muito grande, ele realmente se inspira! As criações feitas a partir das inspirações de gigantes ficam tão incríveis, se não melhores do que é visto “lá fora”. O designer brasileiro respeita muito seu produto e o DNA de sua marca.

Quem são suas referências em termos de criação? Quem você admira especialmente?
Algumas pessoas vão me achar vintage, mas amo Alexander McQueen, Marc Jacobs e Nicholas Ghesquière, vê-los  criando e inovando é como arte. Tenho, e sempre terei, imensa paixão por Alexander McQueen, ele sempre será para mim um ícone. Mas, obviamente, meu relacionamento construído lá atrás me faz amar, talvez mais, a moda do Brasil. Tenho profunda admiração por Alexandre Herchcovitch (com quem realizo parcerias de calçado até hoje), Ronaldo Fraga, Lino Villaventura e, lógico, o Jotta. A moda brasileira tem algo único, uma efervescência nos acessórios.

Como os tênis se tornaram tão importantes no cenário dos sapatos?
O tênis trilha sua importância há décadas, mas existem dois momentos pontuais: em 2010, os modelos de salto da Isabel Marant iniciaram o maior movimento já visto para os tênis casuais, no setor feminino. Elevando o tênis ao patamar de base de pirâmide de produto nas coleções, foi ela a precursora para que a categoria se tornasse o que vemos hoje, milhares de variações casuais no varejo. O segundo momento, com certeza, foi o lançamento do Nike Flyknit, em 2014. A Nike trouxe a revolução para o tênis de performance, o primeiro tênis com cabedal todo desenvolvido em tricô do mundo... Nasce aí a tecnologia knitwear, que falei acima, trazendo puro conforto aos cabedais. Mas nada disso seria sucesso se não estivéssemos trilhando esse caminho para o conforto.

O que muda, na sua visão, na moda pós-pandêmica?
A consciência: consumidores procuram propósito, cuidado com o meio ambiente e, hoje, eles têm consciência do consumo exacerbado. Atualmente, o valor tem que ser transmitido tanto na qualidade, preço, quanto em causas, sejam elas sociais, ambientais ou emocionais. Temos de ficar atentos às próximas gerações, principalmente à geração Z.

Como vem caminhando a questão da sustentabilidade no setor?
A sustentabilidade e todos os propósitos, que citei acima, fazem parte de um processo. É complicado você ter de repensar todo o seu ciclo de produção até a sua cadeia de suprimentos e logística, porém é necessário. É importante que a sustentabilidade seja inserida, precisamos começar por algum lugar, mesmo que o processo não seja perfeito. E, nesse quesito, praticamente todos os clientes da Penso Moda já trilham esse caminho. Temos, em nossa empresa, a responsabilidade de falar sobre as inovações do setor, como o tênis Made to Remade da Adidas, entre outras empresas que trazem substituições eco-friendly para materiais que antes eram nocivos. Com certeza, a pandemia acelerou essas mudanças, que não são fáceis, requerem tempo e dedicação.

Você acredita na retomada gradativa dos negócios?
Lógico, já estamos vendo o crescimento em outros países que estão com a vacinação mais adiantada que o Brasil, e o crescimento do e-commerce no país já mostra um público aquecido.

Tem acompanhado a moda mineira? Acha que ela ainda tem relevância no Brasil?
Um pouco menos neste ano de pandemia, mas acompanho, sim, a moda mineira e percebo sempre seu DNA particular: modelagem perfeita, cores vivas, texturas com personalidade, elegância única e o gosto pelo feito a mão. Acredito que esses itens fazem a diferença e tendem a aumentar a sua relevância.

Como o digital tem contribuído para a Penso Moda?
Sem o digital, a Penso Moda não existiria. Afinal, somos uma plataforma, todo o nosso ecossistema de informação acontece digitalmente. Desde o acesso às imagens, o recebimento de nossos relatórios e o atendimento ao consumidor, que fazemos pelo WhatsApp. Só conseguimos oferecer o que oferecemos hoje por conta desse avanço. A maioria de nossos fornecedores também são startups, que estão em cena apenas nos últimos cinco anos. 


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